Há quem queira comprar uma peça de roupa (um blazer, uma camisa, um fato completo) a pensar numa outra que viu na televisão — um fato “à Humphrey Bogart”, o ator norte-americano, por exemplo. E há quem queira casar com “calções e blazer, mas como se fosse um fato” (e havaianas a acompanhar), como aconteceu com um cliente da UOY, marca de roupa nacional nascida em 2015. No que toca a gostos, há espaço para tudo e alturas em que o arrojo é lei. Mas a novidade é outra: há uma marca portuguesa que faz dos clientes designers e lhes põe nas mãos a responsabilidade de criarem uma peça exclusiva.
A UOY (sigla de Uncover the Original You — “Descobre o teu eu original”, em português) é portuguesa e nasceu em abril de 2015. Com um objetivo: fazer fatos, camisas e blazers à medida para executivos, que os “constroem” eles mesmos. Na UOY, é o cliente que escolhe tudo: o tecido, o corte, os bolsos, os forros, as lapelas, os botões e por aí adiante. “Dizemos mesmo aos nossos clientes: se quiser, pode tirar as nossas etiquetas. Porque o produto é seu. Foi a pessoa que o construiu, que escolheu as componentes todas”, explica o líder executivo da marca, Paulo Pinho, ao Observador.
Sediada na Embaixada Shopping Gallery, no Príncipe Real (Lisboa), a UOY quer-se distinguir pelo arrojo. No espaço — que o responsável diz não ser uma loja, mas uma experience room — os clientes que ali se deslocam encontram vários personal tailors, espécie de “alfaitates como os dos nossos avós, mas modernizados, porque têm muito mais o perfil de aconselhar do que medir, embora também o façam”, afirma Paulo Pinho. Estes responsáveis, contudo, não vendem apenas no local: deslocam-se também às residências das pessoas, e às empresas onde trabalham, para fazer o mesmo trabalho.
O projeto surgiu porque apercebemo-nos da oportunidade [que existia] pelo movimento mundial de procura de produtos customizados. E criámos isto. Em simultâneo, há uma procura global das fábricas portuguesas, que têm condições únicas e que são capazes de fazer um fato diferente em cada ponto da linha de produção”, explica o responsável, que adianta ainda que todo o fabrico é feito em Portugal, sendo que apenas os tecidos vêm de Itália, porque é aí que estão “os melhores do mundo”, dizem.
No manifesto que lançaram, aquando do lançamento da marca, os responsáveis da UOY dirigem-se aos clientes para lhes dizer várias coisas: que estes não são “apenas um homem, um cidadão, um rosto na multidão”; que estes não se definem “por categorias”; que não são “um estereótipo, um lugar-comum, um clone”; que cada cliente é “um espécime único, uma obra original, uma criação” de si mesmo. A conclusão: a roupa também tem de o transparecer. Afinal, explica Paulo Pinho, “hoje em dia todo o indivíduo quer ser ele próprio”.
Afirmar uma marca nova quando estamos a ser tão arrojados não é fácil. Aos nossos clientes dizemos: nós não somos a marca do teu produto, o teu produto és tu. E isso é bastante arrojado”, defende.
A marca tem estado a crescer em Portugal, garante o responsável: “O ano passado correu bastante bem, faturámos o que pensávamos”, diz, sem querer revelar valores. Este ano, “o crescimento é de 30%”. E explica-se porque se dedicaram mais, neste primeiro semestre do ano, “a construir soluções técnicas”, que ainda não querem pormenorizar, mas que estão a desenvolver, e que deverão permitir aos alfaiates da UOY “medir os clientes sem perder imenso tempo, usando uma ferramenta tecnológica que os mede automaticamente, colocando no sistema todas as especificidades daqueles clientes — as medidas, as escolhas dos tecidos, os forros, etc —”. Essas informações deverão ser depois inseridas rapidamente no sistema da UOY e no das fábricas que produzem os produtos. No segundo semestre, a intenção é vender mais.
Estas novas soluções tecnológicas serão particularmente úteis para o momento em que a empresa se expandir de vez, por permitirem que as informações viagem de um país (Suíça, por exemplo) para outro (Portugal) num ápice. Porque é a internacionalização que os responsáveis da UOY têm em mente: o ano passado, fizeram experiências em países como a Bélgica, Inglaterra e Espanha, “para perceber como é que um público diferente do nosso reagia, perante os nossos personal tailors, os nossos produtos, a nossa abordagem e os nosso tecidos”.
A experiência foi boa: “Tivemos uma excelente recetividade e tivemos vendas”, diz. Em julho deste ano, fizeram o mesmo na Suíça, onde a experiência “correu tremendamente bem”, ao ponto de se preparem para um novo teste em setembro. “A ideia é criar aqui um ciclo de repetição”, explica Paulo Pinho.
Para a aposta na internacionalização, contam ainda com “um fundo de investimento”, que os responsáveis montaram para apoiar o projeto, e com “a entrada [recente] da NAVES, uma sociedade de capital de risco” ligada à AESE Business School, a Escola de Direcção e Negócios lisboeta onde o projeto começou a nascer, quando Paulo Pinho ali tirou um MBA para executivos. A NAVES “traz-nos ligações ao meio empresarial português ao mais alto nível”, explica o responsável. Um passo que os responsáveis veem como uma ajuda para alavancar a expansão da marca. Dentro e fora de portas.