A Mota-Engil anunciou um acordo com o fundo de infraestruturas internacionais Ardian para a venda de oito concessionárias de autoestradas por um valor global de 600 milhões de euros detidas pela holding Ascendi. Sete destas concessionárias são em Portugal. Uma é em Espanha. A operação inclui antigas Scut, mas também autoestradas com portagens e subconcessões.
O negócio deverá excluir a participação na concessionária das travessias do Tejo, a Lusoponte, onde a Mota-Engil tem cerca de 38% através da Ascendi.
O Novo Banco é o segundo maior acionista da Ascendi com 40% vai também beneficiar do encaixe da operação. A instituição adianta que a conclusão desta transação terá um impacto positivo no rácio de capital Common Equity Tier I e “representa mais um importante passo no processo de desinvestimento de ativos não estratégicos.”
A alienação da participação na segunda maior concessionária de autoestradas portuguesa foi aliás uma iniciativa do banco que sucedeu ao Banco Espírito Santo. A rede da Ascendi tem 850 quilómetros ao longo de sete estradas portajadas que empregam 500 pessoas.
Em comunicado, a Mota-Engil informa que o acordo com a Ardian Infraestructure prevê o pagamento de um valor total de 600 milhões de euros, ao qual poderão ser adicionados mais 53 milhões de euros, caso seja aplicado um mecanismo variável de preço. A concretização depende operações de reorganização societária e diversas autorizações, incluindo do Estado e da Infraestruturas de Portugal, uma vez que a operação inclui várias concessões. O negócio inclui os seguintes ativos:
- Ascendi Norte
- Ascendi Beiras Litoral e Alta
- Ascendi Costa da Prata
- Ascendi Grande Porto
- Ascendi Grande Lisboa
- Ascendi Pinhal Interior
- Ascendi Douro
- Autovia de Los Viñedos
A Mota-Engil adianta que a venda de ativos maduros, com o investimento já feito, “permitirá ainda o reforço da sua estrutura de capitais, criando as bases para sustentabilidade e crescimento do grupo no próximo ciclo estratégico”.
Estas concessões foram objeto de uma renegociação com o Estado no sentido de diminuir os encargos públicos e os pagamentos às concessionárias. Este processo, que ainda não está concluído em todas as concessões foi negociado por António Ramalho, então presidente da Infraestruturas de Portugal, que agora irá presidir ao Novo Banco, que é o segundo maior acionista da Ascendi.
O acordo com o mega-fundo internacional de infraestruturas com sede em Paris surge um ano depois de ter sido anunciado um acordo de parceria que envolvia um investimento de 300 milhões de euros na concessionária Ascendi. Na altura, estava a prevista a compra de uma participação acionista nas concessionárias controladas pela Ascendi. O negócio agora anunciado envolve a totalidade das participações em quase todas as concessões rodoviárias controladas pela Mota-Engil.
Como esta transação, a Ardian Infrastructure “vai assumir o controlo dos cinco ativos detidos até agora em conjunto, bem como de duas estradas portajadas da Ascendi. Mathias Burghardt, responsável pela infraestruturas na Ardian sublinha em comunicado que “a Ardian Infrastructure sempre atribuiu grande importância à construção e desenvolvimento de relações com parceiros industriais. No caso desta rede de autoestradas em Portugal, investimos inicialmente como parceiro industrial ao lado da Ascendi, com quem trabalhámos de perto ao longo deste último ano. É com base nesta relação e na estratégia de longo prazo da Ardian, sustentada na especialização industrial, que agora nos é oferecida oportunidade de assumir o controlo operacional da rede.”
Fundada em 1996 e liderada por Dominique Senequier, a Ardian é uma sociedade independente de investimento privado com ativos de 55 mil milhões de dólares geridos ou aconselhados na Europa, América do Norte e Ásia. A empresa, acrescenta o comunicado é maioritariamente detida pelos seus trabalhadores.
Este não é o primeiro desinvestimento da Mota-Engil em Portugal. No ano passado, a construtora vendeu o negócio das concessões portuárias a um grupo turco, Yildirim, por 275 milhões de euros. O último investimento anunciado para Portugal foi a compra da Empresa Geral de Fomento, no quadro de um processo de privatização conduzido pelo anterior governo, uma transação de 135 milhões de euros. Já este ano, a construtora foi notícia pela contratação de Paulo Portas, antigo vice-primeiro-ministro, para o conselho estratégico internacional.
As infraestruturas foram uma das aposta prioritárias da construtora no mercado português durante o ciclo de obras públicas que terminou com o fim dos governos de Sócrates e a ajuda internacional. A Mota-Engil virou-se então para os mercados emergentes, em particular Angola e América Latina, cujas economias têm sido fortemente abaladas pela desvalorização do preço do petróleo.