A Ardian, um mega fundo de investimento com sede em Paris, propõe-se investir 300 milhões de euros numa parceria com o grupo português Mota-Engil para as autoestradas. E promete explorar mais a “paisagem portuguesa” na área das infraestruturas.

Há anos que a construtora procurava um parceiro ou mais parceiros financeiros para a Ascendi, que é a segunda maior concessionária de autoestradas do país. O objetivo era ajudar a financiar o exigente plano de investimentos associado ao último ciclo de concessões rodoviárias. Mas a crise financeira, seguida da crise da dívida soberana e do programa de assistência português, dificultaram a tarefa. A estratégia para Ascendi teve ainda de enfrentar a instabilidade do segundo maior acionista da concessionária, o Grupo BES (Banco Espírito Santo).

Para já, os termos do negócio anunciado na noite de domingo entre a Ardian e a Mota-Engil contemplam apenas as concessionárias controladas pela Ascendi que já estão operacionais há alguns anos e cujo processo de renegociação com o Estado e bancos ficou concluído:

A Grande Lisboa e o Norte, duas concessões que passaram de portagem tradicional para o regime de disponibilidade, e as três antigas Scut (vias sem custos para os utilizadores) exploradas pela Ascendi: a Costa da Prata, Grande Porto e Beiras Litoral e Alta. Estas concessionárias, que são controladas entre 66% a 80% pela Ascendi, serão transferidas para uma nova empresa que será detida em 50%/50% pela Ardian e pela concessionária portuguesa.

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O investimento da Ardian é feito nas participadas da Ascendi, através da nova empresa que comprará uma parte da ações detidas por esta holding nas cinco concessionárias. A transação não envolve as participações dos acionistas da Ascendi onde o Novo Banco continua a ter uma posição de 40%, sendo o resto do capital da Mota-Engil. A venda deste ativo por parte do Novo Banco é uma hipótese que está em cima da mesa.

As transações dependem da luz verde do Estado que é o concedente e dos bancos que financiam a concessão. A Ascendi foi a primeira concessionária a fechar um acordo de renegociação com o Estado (Estradas de Portugal) para redução de investimentos e custos operacionais nas parcerias público privado (PPP) rodoviárias.

Para o secretário de Estado dos Transportes, Sérgio Monteiro, é um sinal positivo que um investidor internacional ainda queira investir no mercado das concessões, mesmo depois de ter sido acordada uma redução da rentabilidade e remuneração acionista destes contratos. As novas bases de concessão ainda estão para promulgação do Presidente da República.

O comunicado não faz referência às subconcessões atribuídas à Ascendi, durante os governos de José Sócrates, como o Pinhal Interior e a Douro Interior, nem à participação do grupo português de cerca de 38% no capital da Lusoponte.

A Ardian tem ativos sob gestão avaliados em 50 mil milhões de dólares em vários setores e geografias. No comunicado divulgado no site, o membro da comissão executiva e responsável pela área das infraestruturas, Mathias Burghardt, comenta assim o negócio com a Ascendi:

“Este negócio conjunto é um grande exemplo da nossa estratégia de alianças de longo prazo com uma série de operadores especializados em infraestruturas na Europa, reforçando a nossa rede no processo. Esta transação vai abrir caminho para a Ardian explorar mais a paisagem das infraestruturas em Portugal”. 

Para o presidente executivo da Mota-Engl, Gonçalo Moura Martins, a parceria “é muito relevante para a crescente visibilidade da marca Ascendi”, além de “representar um importante investimento de um parceiro internacional que vai reforçar a capacidade para continuar a desenvolver a estratégia de ser um operador líder nas infraestruturas”.