Michael Phelps tem dois efeitos nas pessoas. Ou, pelo menos, em quem espera até às três da manhã, mais ou menos, à frente de um computador, para o ver nadar.

O primeiro é darmos por nós a olhar para a televisão e não sentir nada. Zero entusiasmo, uma emoção nula, inexistente sensação de nervoso miudinho por não sabermos quem vai ganhar. Ele é um ladrão, roubou-nos aquele sentimento de nos colarmos a um ecrã, empurrados pela curiosidade de vermos vários desportistas a competirem numa prova e não sabermos, ao certo, quem a pode ganhar. Isso há muito tempo que acabou com Michael Phelps. O americano de 31 anos, mesmo já tendo passado por um depressão e por um período em que não quis nada com as piscinas, ele continua a ser o maior.

Porque na final dos 200 metros livres, em que oito homens mergulharam na piscina olímpica oito homens para nadarem 50 metros num estilo diferente (já agora, mariposa, costas, bruços e crol), vimos Phelps a ser o mais rápido. E a olhara para trás, no fim, à espera que os restantes terminassem de nadar os cerca de dois metros que lhes restava para cumprirem os 200 metros. Que surpresa, o Phelps venceu.

RIO DE JANEIRO, BRAZIL - AUGUST 11: Gold medalist Michael Phelps of the United States poses on the podium during the medal ceremony for the Men's 200m Individual Medley Final on Day 6 of the Rio 2016 Olympic Games at the Olympic Aquatics Stadium on August 11, 2016 in Rio de Janeiro, Brazil. (Photo by Mike Ehrmann/Getty Images)

Foto: Mike Ehrmann/Getty Images

O segundo efeito é o perdemos a conta a quantas vezes é que isto já acontecera em Jogos Olímpicos. A culpa é dele, do americano que nos obriga a perguntar a Google para sabermos, ao certo, que esta foi a 22.ª medalha de ouro que ele conquistava. Sim, vinte e duas, entre as 26 que já tem. Foram oito em Atenas (2004), oito em Pequim (2008), seis em Londres (2012) e são quatro no Rio de Janeiro — incluindo a honra de ser tetracampeão olímpico nos tais 200 metros estilos.

Depois há outro efeito, que é o de ele querer sempre mais, e mais, e mais. Teve que apressar as lágrimas e a montanha russa de emoções que deveria estar a sentir no pódio da 26.ª medalha, porque ainda ia nadar logo a seguir. Até abandonou os arredores da piscina a correr, para ir guardar a medalha, tirar o fato de treino, por a toca e os óculos e preparar-se para o que aí vinha. Que foi terminar em segundo da sua meia-final dos 100 metros mariposa (quando era o último aos 50 metros) e qualificar-se para outra final.

E isto só pode querer dizer que vem aí outra medalha, não é?

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