Os produtores florestais alertaram hoje para a insustentabilidade da paisagem rural perante grandes cargas de biomassa e defenderam ser impossível controlar a situação somente através da aposta no combate, sendo necessária uma mudança de atitudes e tradições.

Perante os vários incêndios florestais que têm afetado o país nos últimos dias e já destruíram várias áreas, o Fórum Florestal, que reúne associações de produtores florestais, apontou em comunicado uma lista de preocupações, ao mesmo tempo que transmitiu disponibilidade para assumir responsabilidades e contribuir para a construção de um setor mais sustentável.

“Serão necessárias alterações profundas e estratégicas muitas das quais dependem exclusivamente do poder político”, realçou, alertando para “o ensurdecedor silêncio dos últimos dias do sr. ministro da Agricultura e do sr. secretário de Estado das Florestas e do Desenvolvimento Rural”, o qual “prenuncia já o sentir do enorme peso e responsabilidade que a presente situação coloca sobre os seus ombros”.

A informação do Fórum Florestal, assinada pelo seu presidente, António Louro, assegura que “os produtores florestais saberão assumir as suas responsabilidades e estarão disponíveis para contribuir para a construção de um setor florestal mais sustentável para Portugal”.

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“Os factos indiscutivelmente demonstram a insustentabilidade da paisagem rural nacional perante tão elevadas cargas de biomassa, a insuficiência das políticas e medidas existentes para reverter a situação e a impossibilidade” do seu controlo através “da mera aposta no combate aos incêndios florestais”, lista a organização.

A dimensão do problema “é tal que demorará décadas a corrigir, exigirá uma mudança profunda, de atitudes, hábitos, tradições e acomodações”, realçam os produtores florestais, reconhecendo que, “como sempre, a ‘mudança’ causará incómodos, desconforto e contestação”.

“Portugal vive novamente dias de luto e tristeza, por aqueles que perderam a vida em consequência dos trágicos incêndios dos últimos dias, pagando o preço extremo por viver num país que demonstra uma enorme incapacidade de cuidar do seu território e das suas gentes”, salienta o Fórum, agradecendo o esforço daqueles que procuram “atenuar a dimensão da tragédia”.

Lembra que, se há proprietários ausentes e não ativos na gestão das suas propriedades, “e assim contribuíram ativamente para o avolumar da tragédia, muitos outros viram desaparecer o fruto de imenso trabalho e dedicação”.

Depois dos incêndios, “os proprietários começam a tentar vender, agora por um preço justo, amanhã por qualquer preço, a madeira das árvores mortas a madeireiros que vão ganhar muito bom dinheiro” e as indústrias “irão criar produtos que venderão ao mesmo preço de sempre, ganhando mais do que de costume”, descreveu a entidade.

Segundo dados citados pelo Fórum, a floresta representa cerca de 5% do Produto Interno Bruto (PIB), mais de 9% das exportações e quase 90.000 postos de trabalho.