Apesar da sua juventude, Mate Rimac há muito que está ligado ao sector automóvel. Começou por captar atenções quando o seu BMW E30, de 1984, partiu o motor durante uma corrida, e o então estudante utilizou este modelo para criar o seu primeiro protótipo de testes equipado com um motor eléctrico de 600 cv. Apelidado de “O Monstro Verde”, este Série 3 eléctrico acabou por bater, em Abril de 2011, nada menos do que sete recordes de velocidade sancionados pela FIA, e vários veículos semelhantes foram produzidos para venda.
Mas o que verdadeiramente trouxe o croata para as luzes da ribalta foi a Rimac Automobili, por si fundada em Zagreb em 2009, nomeadamente desde que a marca apresentou, no Salão de Frankfurt de 2011, o Concept One, um superdesportivo eléctrico com mais de 1000 cv de potência e um binário máximo de 1600 Nm. Um modelo altamente exclusivo, apreçado em cerca de 1 milhão de dólares e produzido a uma cadência consonante com uma marca de cariz praticamente artesanal e, por isso, desconhecida da maioria.
Ora, foi justamente para apurar o que realmente vale, na prática, este superdesportivo que Archie Hamilton propôs a Mate Rimac efectuar um teste ao modelo na sua cidade-natal. Só que, para tal, o piloto britânico decidiu não ir sozinho até Zagreb, e também levou consigo um Ferrari LaFerrari e um Tesla Model S P90D dotado do famoso modo Ludicrous, aproveitando ainda, e como é seu hábito, para filmar toda a operação. Ora, veja:
Tanto quanto no vídeo, valerá a pena atentar nos dados fornecidos por Mate Rimac acerca dos bastidores deste teste. A começar pelas limitações que identifica na maioria dos automóveis eléctricos actualmente disponíveis no mercado, mesmo os de vocação mais desportiva, designadamente as suas excelentes prestações no início dos arranques, mas que vão progressivamente diminuindo à medida que a velocidade aumenta. Ou a tendência para sobreaquecerem após algumas acelerações a fundo.
Claro que o criador do Concept One não deixa de aproveitar a oportunidade para referir as três “armas secretas” com que este conta para combater o “Calcanhar de Aquiles” dos automóveis eléctricos quando o tema são as altas prestações.
Desde logo, os valores astronómicos de potência e binário garantidos pelos quatro motores eléctricos, capazes de manter os pneus (muito) atarefados, mesmo a alta velocidade.
Determinantes são, também, os sete sistemas de refrigeração independentes, e os vários subsistemas do género mais pequenos, destinados a optimizar a performance numa utilização em pista, e não apenas num par de acelerações mais intensas.
E, ainda, o facto de cada um dos motores estar ligado a uma caixa de velocidades independente. Os dianteiros estão dotados de uma caixa de redução de relação única, e cada um dos traseiros está acoplado a uma caixa de duas relações de dupla embraiagem em carbono – um argumento determinante para garantir uma aceleração fulgurante mesmo a alta velocidade, assim como para o alcançar de uma velocidade máxima extraordinariamente elevada (electronicamente limitada a 335 km/h).
Quanto ao teste propriamente dito, no arranque 0-400 milhas (a habitual prova de um quarto de milha, tão popular nos países anglo-saxónicos), o Tesla Model S P90D, com o modo Ludicrous seleccionado, acabou por não fazer nada má figura frente ao Concept One. Apesar da diferença entre ambos ser significativa, há que ter em conta que, por um lado, esta ainda não é a evolução mais recente do modelo norte-americano (que recentemente anunciou a disponibilização de uma bateria de 100 kWh), e que, para todos os efeitos, a comparação não seria a mais justa, já que opunha uma berlina familiar de altas prestações, e preço cerca de 10 vezes inferior, a um verdadeiro superdesportivo.
Mais impressionante foi a disputa com o Ferrari LaFerrari, um híbrido que combina as vantagens de um motor eléctrico com as de um V12 atmosférico. E a verdade é que, por muito que parecesse, à partida, improvável um pequeno fabricante do leste europeu fazer frente a uma das marcas de automóveis desportivos mais célebres e reputadas do mundo, no final, o Concept One bateu mesmo o mito italiano, registando 2,69 segundos nos 0-100 km/h e 9,92 segundos no quarto de milha. Valores que, quando comparados com os já alcançados pelos modelos da “santíssima trindade” (os híbridos Ferrari LaFerrari, McLaren P1 e Porshe 918 Spyder) em condições reais de utilização, só podem deixar um sorriso na face de Mate Rimac.
Perante isto, o empresário croata fez questão de sublinhar algumas das vantagens que considera evidentes dos automóveis eléctricos, em geral, e do Concept One, em particular. Principalmente, o não necessitar de um modo específico para garantir a melhor aceleração: basta ao condutor seleccionar o modo Race (que se limita a disponibilizar o binário máximo de todos os motores), inserir a primeira velocidade e esmagar o acelerador, que os sistemas de controlo de tracção e de vectorização de binário encarregam-se de garantir a máxima performance, dispensando soluções como o Launch Control. E este modo Race, como qualquer um dos outros disponíveis, pode ser personalizado através do sistema de infoentretenimento do veículo.
Rimac adianta ainda que a unidade utilizada neste teste destinava-se a um cliente norte-americano, a quem foi entregue após a gravação do filme. E que o Concept One é um projecto em constante evolução, em que as melhorias alcançadas em termos de electrónica e software podem ser implementadas através de uma ligação sem fios, mesmo quando o veículo se encontra longe da fábrica, inclusivamente noutro continente.
Presentemente, a marca croata está a trabalhar no sentido de tornar o seu superdesportivo ainda mais veloz, através de um aumento de potência a lançar muito em breve, da disponibilização de pneus Pirelli PZero Corsa aos que pretendam utilizar o veículo em circuito, de melhorias nos sistemas de controlo de tracção e de vectorização de binário, e de uma optimização do sistema de troca de velocidades.
Mate Rimac deixa ainda a promessa de um confronto directo com os melhores desportivos do mercado para muito breve. Assim seja.