Um grupo de oito manifestantes angolanos, nos quais se incluem o rapper luso-angolano Luaty Beirão e outros membros do grupo 15+2, esteve detido durante duas horas ao início da tarde de sábado pela Polícia Nacional depois de terem tentado visitar o ativista Francisco Gomes Mapanda.
O incidente aconteceu depois de lhes ter sido negada a entrada na Comarca de Viana, para visitarem o ativista Francisco Gomes Mapanda, conhecido como Dago, que foi preso em março depois de ter interrompido a leitura de sentença dos 15+2 gritando que o julgamento era “uma palhaçada”.
Quando chegaram à Comarca de Viana, aperceberam-se de que as visitas, que seriam entre as 10h00 e as 12h00, tinham sido suspensas. “Primeiro disseram que havia uma atividade na prisão, depois disseram que havia uma infestação na sala, depois que havia um visitante importante na prisão, mas eles não nos queriam dizer quem era”, conta ao Observador Luaty Beirão. “Quisemos apresentar reclamação e eles mandaram-nos para o outro lado da prisão, disseram-nos que na porta de visitas ia estar lá alguém para dar respostas.”
Quando chegaram à porta das visitas, que fica virada para a rua, foram recebidos por um superior da prisão, que se furtou a dar respostas aos oito ativistas.”Deu-nos as costas e fechou o portão na nossa cara”, recorda Luaty Beirão. De seguida, os oito ativistas começaram a bater na porta de visitas.
“Houve tortura, houve agressões, houve muita violência”
Nesse momento, o grupo foi surpreendido por um aparato policial. “Polícia, seguranças da prisão, carros, motas, tudo”, conta o rapper luso-angolano, que fala em “mais de 30 polícias”, número corroborado ao Observador pela ativista Rosa Conde, também presente no local. Foi nessa altura que começaram as agressões.
“Eu levei um pontapé na cabeça, outro no braço, levei uma chapada e pisaram-me as costas, quando eu já estava deitada”, conta Rosa Conde, que quando falou com o Observador dizia ter “a cabeça dorida, uma parte do braço inflamada, com feridas nos pés e nas mãos”. “Era mais de cinco polícias a baterem-me, eles dividiam-se”, recorda. “Fomos agredidos na via pública, em frente a dezenas de pessoas que estavam ali para fazer visita”, explica Luaty Beirão, que se queixa de dores nas costelas.
“A polícia foi muito agressiva, começaram a arrastar as pessoas, começaram a agredir”, explica Divac Freire, um dos detidos, contactado pelo Observador. “Houve tortura, houve agressões, houve muita violência. Alguns até ficaram com hematomas.”
A seguir às agressões, os oito ativistas foram algemados e colocados numa carrinha de caixa aberta da Polícia Nacional. “Botaram-nos no carro como animais”, queixa-se Rosa Conde.
A carrinha da Polícia Nacional levou-os até ao Comando Geral de Viana, onde as agressões não continuaram. “Quando chegámos lá, eles não sabiam o que fazer connosco”, conta Luaty Beirão. “Nós não tínhamos vontade de conversas, eles não estavam com vontade de agredir, e então eles disseram que nós estávamos convidados a irmos para as nossas casas.”
Já em liberdade, os ativistas dispersaram. Entre os oito, Divac Freire e Nuno Dala ficaram com a responsabilidade de irem apresentar queixa ao Comando Geral da Polícia Nacional pelo resto do grupo.
Além de Divac Freire, Rosa Conde e Luaty Beirão, foram detidos Nuno Dala, Elisabete Dala, Laurinda Gouveia, Albano Bingo Bingo e Graciano Brinco.
Antes desta visita, alguns dos ativistas dos 15+2 e outros jovens que se identificam com os seus protestos têm feito nos últimos dias manifestações espontâneas e diárias em frente à Comarca de Viana, pedindo a libertação de Dago. “Nós tínhamos agendado uma visita para hoje, no seguimento da pressão que temos estado a fazer”, disse ao Observador Mbamza Hamza, um dos ativista que foram detidos e condenados por associação de malfeitores e preparação de golpe de Estado. Mbamza Hamza não esteve entre os oito detidos deste sábado.
O Observador contactou o comandante da Polícia Nacional de Angola em Luanda, Ambrósio Lemos, que recusou comentar a situação. Contactados pelo Observador, os vários advogados de defesa ainda estão a tomar conhecimento do caso.
Preso por gritar que julgamento dos 15+2 era “uma palhaçada”
O ativista Francisco Gomes Mapanda, mais conhecido como Dago, foi condenado a oito meses de prisão por ter provocado “desordem no tribunal”.
O caso deu-se no julgamento em que os ativistas 15+2 fora condenados por “atos preparatórios de rebelião e associação de malfeitores”, de acordo coma sentença. Na altura em que esta era lida, Dago levantou-se e interrompeu a sessão, gritando que o julgamento era “uma palhaçada”.
Dago foi detido no final de março e condenado a uma pena de prisão de oito meses. Assim, só deverá ser libertado no dia 28 de março.
Pouco tempo depois de terem sido libertados, a 29 de junho, os ativistas do grupo 15+2 começara a pedir publicamente a libertação de Dago. Além disso, têm exigido a devolução da totalidade bens que lhes foram apreendidos quando foram detidos no dia 20 de junho de 2015.
Ao Observador, menos de dois meses depois de terem sido libertados por decisão do Supremo Tribunal, os ativistas 15+2 contaram ao Observador como as suas vidas têm sido depois da prisão. Luaty Beirão contou como a sua mulher foi raptada pela polícia, Nicolas “Radical” disse que foi renegado pela família e a Rosa Conde teve de deixar a casa onde viva com a mãe e com o filho para garantir a sua segurança.