Lula da Silva condenou, esta quinta-feira, a denúncia feita pelo Ministério Público Federal por corrupção e lavagem de dinheiro no caso do apartamento tríplex, na cidade de Guarujá, cuja posse terá sido alegadamente ocultada pelo ex-Presidente do Brasil. Numa conferência de imprensa realizada na sede do PT em São Paulo, Lula da Silva qualificou de “pirotecnia” o anúncio da denúncia contra si no âmbito da Operação Lava Jato e diz ser vítima de “parte da Justiça e dos meios de comunicação brasileiros”. “Provem uma corrupção minha que irei a pé até Curitiba”, desafiou. A cidade de Curitiba é a sede da 13ª Vara Federal Criminal, responsável pelos crimes investigados pela Operação Lava Jato. São Paulo e Curitiba estão separadas por cerca de 400 quilómetros.
Lula da Silva afirmou que está “tranquilo” em relação às acusações. “Todas estas denúncias que fico vendo, tenho a consciência tranquila e mantenho o bom humor porque me conheço, sei de onde vim, sei para onde vou, sei quem me ajudou a chegar onde cheguei, sei quem quer que eu saia e sei quem quer que eu volte”, ressaltou.
O ex-Presidente do Brasil defendeu que o seu governo e o de Dilma Rousseff fizeram mais que os seus antecessores para fortalecer as entidades que investigam a corrupção no Brasil e citou a Procuradoria-Geral da República, que segundo Lula, era comandada por um “engavetador-geral da República” antes do início da sua administração, em 2002, em relação a baixa notoriedade de casos de corrupção ou de condenações por corrupção no país.
Para Lula da Silva, o Brasil vive a lógica de que “o processo é a manchete”. “Quem vamos criminalizar pela manchete, quem vamos demonizar pela manchete?”, questionou ao referir-se aos meios de comunicação, que estariam a construir um “enredo de novela”:
Eles construíram uma mentira, construíram uma inverdade, como se fosse um enredo de uma novela e está chegando o fim do prazo. Afinal de contas, já cassaram [tiraram o mandato de] o [ex-deputado federal Eduardo] Cunha, já elegeram o [Michel] Temer pela via indireta, com o golpe, já cassaram a [ex-Presidente] Dilma [Rousseff]. Agora, precisa concluir a novela. Quem é o bandido e quem é o mocinho? Vamos agora dar o fecho, acabar com a vida política do Lula”, disse.
O petista reconheceu, no entanto, esta “perseguição” deve-se pela sua popularidade e comparou-se a Jesus. “Tenho uma história pública conhecida. Só ganha de mim no Brasil Jesus Cristo”.
“Não há prova, mas tem convicção”
Lula da Silva disse falar como um “cidadão indignado” e reconheceu que “não foi fácil” ver a sua casa “invadida” pela Polícia Federal, em março, no âmbito da Operação Lava Jato.
Afirmou que “não compreendeu como se convocou uma conferência de imprensa para apresentar a prova de um crime ao dizer que ‘não há prova, mas tem convicção'”. A citação é atribuída aos procuradores da Operação Lava Jato ao apresentarem a denúncia contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, na quarta-feira. Apesar de não terem dito textualmente a frase, a citação tornou-se um meme e foi utilizada pelos defensores do petista nas redes sociais contra o processo.
Ainda na conferência de imprensa, relembrou o seu passado político, disse ter orgulho de “ter criado o mais importante partido de esquerda da América Latina.” Ele disse que chegou à Presidência com o objetivo de não errar e que o sucesso do seu governo alimentou a “ira” e “ódio” dos adversários, devido aos avanços nas áreas sociais. Destacou, sobretudo, a questão da educação, citando a abertura de novas universidades, escolas técnicas e programas de inclusão educacional, numa indireta ao Presidente Michel Temer, que enviou ao Congresso uma proposta de emenda constitucional para limitar o gasto público, o que incluiria a educação.
O ex-Presidente do Brasil concluiu o seu discurso emocionado, ao dizer que não estava “desanimado” com a denúncia e mandou um recado para os seus adversários. “A história mal começou. Alguns pensam que ela terminou. E eu vou viver muito. Estou com 70 anos, com vontade de viver mais 20”, ressaltou.
O Ministério Público Federal denunciou, esta quarta-feira, Lula da Silva, Marisa Letícia, esposa de Lula da Silva, Paulo Okamotto, presidente do Instituto Lula, Léo Pinheiro, empresário da OAS, e outras cinco pessoas por corrupção e lavagem de dinheiro. O procurador Deltan Dallagnol, que coordena a força tarefa da Operação Lava Jato em Curitiba, disse que o ex-Presidente brasileiro Lula da Silva era o “grande general” do esquema criminoso descoberto pelas autoridades.