Um jovem norte-americano que desapareceu na China em 2004 pode ter sido raptado pela Coreia do Norte para ensinar inglês a Kim Jong-un. De acordo com um artigo publicado recentemente num site de notícias japonês, haverá evidências de que o jovem, David Sneddon, está na Coreia do Norte, casado, com dois filhos, e trabalha como professor oficial de inglês do regime norte-coreano. Doze anos depois do desaparecimento, a família mantém a esperança de resgatar David e está a pedir apoio às autoridades dos EUA.

A história remonta ao verão de 2004, quando David Sneddon foi para a China para estudar mandarim. Já tinha estado na Coreia do Sul como missionário da igreja mórmon, e falava coreano. As duas últimas semanas da viagem à China estavam reservadas para explorar o país, sozinho, e tinha combinado encontrar-se com um dos seus irmãos em Seul, no final dessas duas semanas, para regressarem juntos a casa.

Mas a última vez que a família teve notícias de David foi logo dois dias depois de se separar de um amigo com quem tinha passado os primeiros dias da viagem. A 11 de agosto de 2004, David enviou um e-mail à sua mãe: “Estou em Lijiang, a oeste da província de Yunnan. Dentro de meia hora apanho um autocarro para ir caminhar na Garganta do Salto do Tigre. Estou a divertir-me muito, embora tenha saudades de regressar a casa”. Nunca regressou.

Desde então, uma série de acontecimentos e evidências têm levado a família a acreditar que David foi raptado por agentes secretos da Coreia do Norte e levado para o país como professor de inglês. “Estamos convencidos de que ele está ali. Não o podemos provar, mas quanto mais sabemos sobre este regime diabólico, é a única explicação em que encontramos sentido”, explica a mãe de David, Kathleen, ao El Mundo.

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James e Roy Sneddon (irmão e pai de David) em Shangri-La, na província de Yunnan, em busca de David. (Imagem: www.helpfinddavid.com)

A primeira pista é o próprio local onde David desapareceu. Na altura, Yunnan era uma zona muito utilizada pelos desertores norte-coreanos que atravessavam a China para chegar à Birmânia. E era também um local em que muitos agentes secretos da Coreia do Norte esperavam os fugitivos, para os levar novamente ao país. “Pensávamos que os chineses tinham prendido o David por engano, pensando que ajudava os desertores que atravessavam a rota clandestina. Visto que viajava sozinho e falava coreano, é a única opção que nos parecia possível”, explica ao jornal o pai de David. Além disso, uma série de turistas e locais afirmaram ter visto David no desfiladeiro e o dono de um restaurante confirmou que o jovem almoçou no seu estabelecimento no dia 14 de agosto. Iria, depois de visitar o desfiladeiro, apanhar um autocarro para a capital da região, de onde seguiria depois para encontrar o seu irmão.

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Kim Jong-il, que foi o ditador norte-coreano antes de Kim Jong-un, admitiu em 2002 que a Coreia do Norte raptou 13 cidadãos japoneses, dos quais apenas cinco ainda estavam vivos.

O líder da Coreia do Norte pediu perdão ao Japão, deixou que os japoneses regressassem ao seu país. Lá, os cidadãos que estiveram sequestrados contaram como foram forçados a ensinar a língua e os costumes japoneses aos espiões do país.

Em 2011, o diretor do Comité para os Direitos Humanos na Coreia do Norte, Chuck Downs, convidou a família de David para ir a Washington, para conhecer alguns familiares de cidadãos japoneses que tinham sido raptados pela Coreia do Norte (ver caixa). Esse encontro mudou o rumo da investigação. A teoria de que David podia ter sido raptado para ensinar inglês na Coreia do Norte tornou-se a mais provável.

A hipótese ganhou ainda mais força quando, em 2012, a Associação Nacional para o Resgate de Japoneses Sequestrados pela Coreia do Norte (NARKN) informou que tinha tido acesso a documentos classificados da China, onde se lia que em agosto de 2004, um jovem americano tinha sido detido na região de Yunnan, suspeito de ajudar a imigração ilegal. Foi libertado em setembro, mas acabou detido por cinco agentes secretos da Coreia do Norte.

Um mês depois desta revelação, um professor sul-coreano telefonou aos pais de David para dizer que a sua mulher — uma norte-coreana que fugiu do regime — tinha ouvido falar de um jovem que ensinava inglês em Pyongyang. A história parecia cada vez mais confirmada.

A última pista chegou em agosto deste ano. Uma notícia publicada no portal Yahoo News japonês dava conta de que David foi sequestrado com o objetivo de ensinar inglês a Kim Jong-un, na altura o herdeiro da liderança do país, com 20 anos. Atualmente, de acordo com o artigo, David vive em Pyongyang, está casado e tem dois filhos.

Os pais de David querem agora conseguir resgatar o filho, e estão a pedir apoios ao governo norte-americano. Já conseguiram o apoio de um congressista e de um senador, que apresentaram pedidos nas duas câmaras no sentido de as agências de inteligência dos EUA se juntem à investigação. O Departamento de Estado do país parece, contudo, menos motivado para seguir as investigações, por falta de “evidências verificáveis”.