Para além de vinho do Porto, a partir do final de 2017 vai ser possível ter cama, comida e roupa lavada nas caves Sandeman. O edifício, construído em 1797 e situado no Cais de Gaia, junto ao rio Douro, vai ganhar um hostel e um restaurante com a identidade do coletivo The Independente, que já apareceu em primeiro lugar num ranking dos hostels mais luxuosos da Europa.

É a primeira vez que, em Portugal, uma empresa de vinhos une a sua imagem a um alojamento. O projeto vai chamar-se The House of Sandeman Hostel & Suites e terá como tema o vinho do Porto. A entrada vai fazer-se pelo número 3 do Largo Miguel Bombarda, pela porta que fica do lado esquerdo à das visitas guiadas e provas que a Sandeman organiza diariamente nas suas caves. Do outro lado ficará um restaurante com esplanada e sala para eventos e provas.

Comecemos pelo hostel, cuja receção será um bar. Enquanto o hóspede aguarda para fazer check-in ou check-out, terá à sua disposição os vinhos da marca, podendo até pegar no copo e sentar-se na cozinha para uso comunitário. Em alternativa, também terá logo ali a sala de jantar, com uma grande mesa ao centro, que pretende facilitar a interação daqueles que escolherem o The House of Sandeman Hostel & Suites para pernoitar. “É uma mesa social onde também se pode conversar, preparar viagens e até trabalhar”, explicou aos jornalistas Duarte D’Eça Leal, um dos quatro irmãos que gerem o coletivo The Independente.

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Este é o edifício central das caves. Do lado esquerdo há outro com quatro andares, onde ficarão os alojamentos. Do lado direito ficará o restaurante. © Divulgação

Antes de chegar à cama, o visitante passa pelo lounge e pelo hall, para o qual vai ser desenvolvida, através de claraboias, uma vinha interior. Ao todo, o espaço tem capacidade para alojar 73 pessoas, divididas entre camaratas e suítes (ou quartos duplos). Dentro das suítes, há duas tipologias. Umas terão vista desafogada para o rio Douro e para o centro histórico do Porto, com uma decoração mais standard que opta por elementos ligados à Sandeman. Já as “the original suites“, de “decoração contemporânea”, e todas diferentes umas da outras, ficam noutra zona do edifício. Estarão dotadas de “tetos originais” com barrotes de madeira e de uma cabeceira de cama que é, em simultâneo, uma banheira. Ao todo há 10 suítes.

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Já nas cinco camaratas haverá 53 camas. Duarte promete qualidade acima da média, que se traduz em colchões mais largos do que o habitual, com 1,40 m de largura, mais espaço, mais casas de banho e “camas-pipa”, inspiradas nas pipas onde se transporta e conserva o vinho do Porto. Como vão ser, ainda é segredo. Dormir na The House of Sandeman Hostel & Suites não vai custar uma pipa de massa. Uma cama em camarata custará entre 15€ e 18€, “dependendo da estação”, explica Duarte D’Eça Leal. O preço do quarto duplo sobe para os 100€ a 110€.

Propriedade de quatro irmãos, o coletivo The Independente foi criado há cinco anos e tem, em frente ao Miradouro de S. Pedro de Alcântara, no coração do turismo lisboeta, os restaurantes The Decadente e The Insólito, ancorados no The Independente Hostel & Suites. Foi por conhecer estes projetos que a Sogrape, que desde 2002 detém a Sandeman, fez o convite à empresa lisboeta para dar vida a esta ideia. O contrato é de 10 anos e marca a primeira expansão para norte do coletivo.

Com a experiência acumulada, os quatro irmãos vão também abrir no Largo um restaurante com uma capacidade para 100 lugares. Ainda não se sabe como se chamará, nem que chef irá desenvolver o conceito e confecionar os pratos, mas é certo que o vinho do Porto estará muito presente na ementa, que se vai querer atenta às “tendências gastronómicas”, sublinha Duarte D’Eça Leal. Se no segundo andar ficará uma sala para eventos e provas, no piso térreo vai ser construída uma esplanada especializada em bebidas e petiscos, em formato deck, com desníveis “para criar áreas diferentes”, incluindo espaço para espetáculos e DJ, adiantou ao Observador Catarina Cabral, a arquiteta responsável.

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As atuais mesas e cadeiras vão ser todas substituídas quando a nova esplanada abrir. © Divulgação

Se o hostel é claramente direcionado para os turistas que visitam a cidade, a ideia para o restaurante é diferente e Duarte D’Eça Leal deixa antever preços que não afastem, nem os portugueses, nem os clientes que ficam alojados nas camaratas. “Este é um modelo de alojamento que vive muito das pessoas da região. É importante promover o encontro com a cultura local.”

As obras começam em outubro e o investimento inicial direto é de um milhão de euros, esclareceu Fernando da Cunha Guedes, administrador da Sogrape. “Estamos muito confiantes no sucesso. Quem sabe se daqui não nascem outros” projetos semelhantes, acrescentou, explicando que a ideia central de associar a marca ao hostel e ao restaurante é a de atrair público mais jovem para a marca e para a bebida que é um símbolo da região. “Sem perder as raízes e a cultura do vinho do Porto”, salvaguardou.

A Câmara Municipal de Gaia vai apoiar o projeto — que vai criar 30 postos de trabalho diretos — de uma forma diferente. O presidente da autarquia, Eduardo Vítor Rodrigues, explicou, na apresentação aos jornalistas, que herdou do executivo anterior “dezenas de milhares de euros” de dívida à Sogrape, pela ocupação de parte dos terrenos da empresa. A autarquia já devolveu o posto de turismo, vai procurar renegociar a dívida e, agora, vai apoiar este investimento no seu município com a total, ou quase total, isenção do pagamento das taxas de licenciamento.

O coletivo The Independente detém ainda o restaurante Trincas e o novo bar Cobre, em Lisboa, bem como a guesthouse Uva do Monte, na Comporta. Sem revelar futuros planos, os irmãos Duarte e Bernando D’eça Leal não negam que está nas intenções do grupo continuar a multiplicar os negócios.