O ministro do Interior francês, Bernard Cazeneuve, voltou a pedir ao Reino Unido que cumpra o seu dever moral relativamente aos menores da chamada “selva” de Calais, no norte de França.
“Os nossos países têm de agir juntos para abrigar aquelas pessoas que se encontram na sua fronteira e que claramente precisam de proteção — acima de tudo os mais vulneráveis entre eles. O Governo britânico comprometeu-se a ajudar a resolver a crise acolhendo alguns menores não acompanhados, a maioria dos quais expressou a vontade de ir para o Reino Unido”, recorda Bernard Cazeneuve, citado num artigo publicado esta terça-feira no jornal britânico The Guardian.
Neste sentido, acrescenta, “precisa agora de intensificar este esforço para que cada menor não acompanhado possa beneficiar de uma proteção justa e duradoura”. “As primeiras transferências de jovens com familiares no Reino Unido começam esta semana, enquanto a França concordou em aceitar 13 mil refugiados. O Governo britânico precisa agora de intensificar os seus esforços para identificar e realocar as crianças migrantes”, diz ainda o ministro francês.
Nem Paris nem Londres, sublinha, “escolheram deixar as pessoas com direito ao estatuto de refugiado ao frio e na lama — mulheres e crianças sobretudo”. “Ao longo do ano passado, seis mil pessoas foram transferidas dos acampamentos de Calais e de Dunkirk para 164 centros de acolhimento que o Governo francês abriu em todo o país, com objetivo de integrar os migrantes nas suas cidades de acolhimento”, lembra, defendendo que este método tem provado funcionar, sendo o seu sucesso a razão pela qual o Governo francês decidiu desmantelar definitivamente o acampamento de Calais.
“Porque partilham uma responsabilidade moral em relação a eles [migrantes], os Governos da França e do Reino Unido estão determinados em serem bem-sucedidos com esta operação em conjunto”, afirma o ministro. Para Bernard Cazeneuve, essa “operação humanitária” tem de ser apoiada por medidas a longo prazo pensadas para tornar “impenetrável” a fronteira de Calais e de outros pontos do Canal.
Segundo o ministro francês, graças à cooperação entre os serviços de polícia de ambos os países, 33 redes de imigração clandestina que traficavam pessoas para o Reino Unido foram desmanteladas em França desde o início do ano. “A longo prazo, nem o Reino Unido nem a França podem abdicar das nossas responsabilidades relativamente à crise migratória no nosso continente”, apontou.
Segundo um recente balanço das autoridades francesas, facultado no início do mês, há entre 5.684 e 6.486 imigrantes no acampamento de Calais. A maioria é de países pobres ou em conflito, como Afeganistão, Eritreia ou Somália, e o seu objetivo é conseguir atravessar o Canal da Mancha e entrar no Reino Unido. Cerca de 1.300 menores foram contabilizados no acampamento de Calais, dos quais 500 afirmam ter família no Reino Unido.