Um muro inflexível mas não inquebrável. Um muro chamado “dívida pública” que urge derrubar o quanto antes. Foi essa a nota principal do discurso de Catarina Martins no encerramento do primeiro dia das jornadas parlamentares transmontanas do Bloco de Esquerda. Numa intervenção de cerca de 15 minutos, perante algumas dezenas de militantes que se juntaram para um jantar-comício em Vila Real, a coordenadora bloquista olhou pelo retrovisor e foi lembrando mais uma vez as principais conquistas conseguidas pela atual maioria parlamentar, ao mesmo tempo, no entanto, que admitia que estas “migalhas” não chegam. É preciso ir mais longe. E ir mais longe, defendeu Catarina Martins, é “derrubar” o muro da dívida pública.
“Há neste momento em Portugal, diria em todos os países da Europa, um problema gigantesco com [a definição] de uma política a longo prazo. Para onde estamos nós a caminhar? Como é que respondemos pela nossa economia, serviços públicos e emprego se não tivermos meios? Há um muro à nossa frente. E esse muro chama-se dívida pública. E esse [muro] temos de começar a derrubar”, insistiu Catarina Martins.
Depois de passar em revista as dificuldades e a carência de recursos que enfrentam setores estratégicos para o país como a Educação, a Saúde e a Justiça, e mesmo reforçando que houve já sinais positivos nestes dois primeiros anos de legislatura, Catarina Martins assumiu que o Bloco de Esquerda não se pode contentar com “migalhas”.
[Não] chega estarmos sempre com estas migalhas e não sermos capazes de respondermos verdadeiramente pela coesão territorial e pelo acesso aos serviços público”. É preciso um investimento público decidido e eficaz. Mas o investimento público necessário, defendeu a porta-voz do Bloco, não se consegue sem uma reestruturação da dívida pública.
Mesmo com um Governo socialista fiel ao princípio de não avançar com uma reestruturação unilateral da dívida pública, Catarina Martins deixou claro que o partido não deixará de se bater pela medida-bandeira do seu programa eleitoral. “O Bloco de Esquerda não abandonou nem um milímetro do seu programa. É com muita determinação, com muita convicção e com muito orgulho que negociamos cada pequena medida com PS. Mas não podemos abandonar o nosso programa. E abandonar esta ideia essencial que é salvar o país da asfixia da dívida pública. E para isso juntamos forças, porque sabemos que precisamos de continuar a juntar forças para fazer esse caminho”, reiterou.
Para que dúvidas não restassem, Catarina Martins fez as contas. “Depois de nós pagarmos tudo que andamos a pagar, depois de pagarmos tudo aquilo de que precisamos, depois de pagarmos a saúde, depois de pagarmos a educação, depois de pagarmos os salários e as pensões, depois de pagarmos todas as despesas do Orçamento do Estado, sobra dinheiro. Sobra muito dinheiro. Nós temos excedente. Portugal tem excedente. Somos uma máquina de fazer dinheiro. O que é trágico. Porque, de facto, nada chega para depois pagarmos os 8 mil milhões de euros só em juros da dívida. É com esta asfixia que temos de romper.”
“É um caminho muito difícil e temos ainda muito por percorrer”, disse, já a concluir. “Mas quem aqui está sabe que não há impossíveis”.
Momentos antes da intervenção de Catarina Martins tinha sido Jorge Costa, vice-presidente da bancada e dirigente bloquista, a jurar lealdade à atual solução encontrada no Parlamento: por muito que o Orçamento do Estado para 2017 continue sem dar resposta à questão estrutural da dívida pública e por muito que este Orçamento não seja o do Bloco de Esquerda, é por esta proposta que os bloquistas se vão bater.
“Mesmo sem as ruturas que o PS nunca quis antes das eleições, vamos votar este Orçamento do Estado e defendê-lo na Assembleia da República, nas ruas, com todas as pessoas com quem discutimos política e o país”, garantiu Jorge Costa.