Gostam de casas antigas, de se vestirem de branco (preferencialmente com um lençol) e de assustarem os vivos. Uns são mais brincalhões (lembra-se de Casper e dos seus amigos?) e outros mais malvados e aterradores. Os fantasmas, um dos temas favoritos da literatura e do cinema de terror, pouco mudaram ao longo dos séculos, incluindo na forma como dão conta da sua presença — com um grito, “BOO!”. Mas porquê?
Diz-nos o dicionário de etimologia que boo é uma exclamação usada para pregar um susto, cuja origem em inglês poderá estar na expressão boh, “uma combinação de consoantes e vogais composta especialmente para produzir um som alto e surpreendente”, que terá surgido no início do século XV. Alguns linguistas acreditam que é mais tardia, e que terá surgido três séculos depois na Escócia.
De acordo com esta teoria, a expressão terá sido registada pela primeira vez na obra Scotch Presbyterian Eloquence Display’d, escrita por Gilbert Crokatt e John Monroe sob o pseudónimo Jacob Curate em 1738. Aí, surge definida como “uma palavra usada no norte da Escócia para assustar crianças”. O poeta escocês Sir Walter Scott também fez referência a boo (mas sob a forma boh), no seu conjunto de ensaios Letters on Demonology and Witchcraft, de 1830.
“Temos medo quando alguém grita Boh”, escreveu Scott, definindo a palavra como “uma exclamação usada para surpreender ou assustar”. Mais tarde, boo ganhou um novo significado — o de vaia –, sendo o seu uso muito popular nos teatros e nos eventos políticos britânicos do século XIX (e nos debates políticos norte-americanos dos dias de hoje).
Pode parecer antiga, mas a verdade é que a origem de boo pode estar ainda mais longínqua. É que a palavra já existia em latim, sendo também muito semelhante a uma forma verbal grega. Boo é a primeira pessoa do singular do presente do indicativo do verbo boare, que significa “mugir, retumbar, gritar”, segundo o dicionário de latim da Porto Editora. Tem também semelhanças com o verbo grego boaein, “clamar, rugir, gritar”.
Não é certo que a expressão venha do latim, mas não há como negar a semelhança. Além disso, o significado mante-se praticamente o mesmo — hoje, boo continua a ser um grito tal como era no tempo dos romanos.