Aproveitemos a gíria estabelecida pela corrente edição da Web Summit para abusar, neste introito, dos anglicismos: não há semana em que não surja um novo hot spot no “increasingly fashionable” [cada vez mais na moda] Príncipe Real, como lhe chamou recentemente o britânico The Telegraph. Do novo restaurante de Kiko aos futuros novos restaurantes de Henrique Sá Pessoa (Alma) ou Diogo Noronha (ex-Casa de Pasto e Rio Maravilha), não faltam, ao bairro, argumentos constantes para atrair hordas de foodies e trendsetters. Percebe-se, right?
Mas o mesmo bairro também esconde algumas opções bem razoáveis para quem tem constrangimentos orçamentais mas quer, à mesma, estar no coração epicurista da cidade. Principalmente ao almoço. Comecemos por aí: nos dois restaurantes japoneses do Príncipe Real, tanto o Miss Jappa (Praça do Príncipe Real, 5A. 21 137 9763), como o Bonsai (Rua da Rosa, 248. 21 346 2515), oferecem menus de almoço bastante razoáveis, a 10€ por pessoa. No primeiro, o dito inclui sopa miso com cogumelos shitake, dois bao com cachaço de porco e chips de batata-doce e uma bebida. Já no segundo as sugestões diárias vão variando, sendo colocadas na página de Facebook do restaurante no início de cada semana. O okonomiyaki (panqueca japonesa) ou o salmão sakyo yaki (marinado em miso e grelhado) são opções frequentes. O menu traz ainda sopa miso, duas peças de sushi ou sashimi, salada e café.
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Ainda no que respeita a menus de almoço, os do Alma Fidalga (Rua da Palmeira, 15, 1ºandar. 91 116 4248), por cima do restaurante vegetariano Terra, foram lançados recentemente: custam 10€ e incluem sopa, prato ou salada, bebida e sobremesa. 10€ é também quanto vale o almoço no Dona Quitéria (Travessa de São José, 1. 21 395 1521), com o bónus de se poder aproveitar a pequena esplanada, se o tempo assim o permitir.
Se a intenção for juntar o bem e barato ao depressa será importante não desconsiderar o BicóPrego (Travessa do Monte do Carmo, 19. 21 608 9225) e o Cachorro à Portuguesa (Rua de São Marçal, 111. 21 093 9141). Em ambas as casas, a criatividade foi posta ao serviço de dois produtos típicos de snack-bar: pregos e cachorros, respetivamente. No mesmo campeonato, muita atenção ao Pizza a Pezzi (Rua Dom Pedro V, 84. 93 456 3170), um dos primeiros locais da cidade a importar o conceito de pizza al taglio (à fatia), graças a Maria Paola Porru, responsável por outros espaços incontornáveis da cidade, casos de Casanostra ou Casanova. A matéria-prima é, por isso, de qualidade inquestionável e algumas das receitas já atingiram o estatuto de clássicos. Dois exemplos: patate (mozzarella, batata e alecrim) e caprese (mozzarella de búfala, tomate cru e manjericão). A melhor opção é agarrar no pedido e atravessar a estrada, fazendo do jardim do Príncipe Real uma sala de refeições improvisada. Atenção ao lixo.
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Quatro portas ao lado, mora a quase quase secular Antiga Casa Faz Frio (Rua Dom Pedro V, 96. 21 3461860). “Quase quase” porque o primeiro alvará da casa data, segundo consta, de 1918. Já a receita de bacalhau à brás, ali servido religiosamente todas as sextas, terá menos uns anos que isso, mas faz, desde há muito, parte do património gastronómico de Lisboa. É dos melhores, senão o melhor da cidade. Uma dose chega perfeitamente para dois, mas pode dar vontade de repetir. No mesmo campeonato joga o vizinho Tascardoso (Rua Dom Pedro V, 137. 21 342 7578). Atenção, contudo, a dois fatores: primeiro, a simpatia nem sempre abunda por aquelas bandas, segundo, os preços mais baixos, ao almoço, praticam-se apenas no piso superior do restaurante, virado para a Rua Dom Pedro V. Na sala principal, com entrada pela Rua do Século, as doses são maiores mas a conta final também. A cozinha é tradicional e competente, principalmente em tudo o que sai da grelha.
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Ainda no que às tascas diz respeito, há mais por onde explorar no Príncipe Real. Por exemplo, na fronteira que liga o bairro ao Chiado, o Papo Cheio (Rua de São Pedro de Alcântara, 15. 21 347 8309) apresenta um bitoque de qualidade acima da média, muito graças ao molho em que navega, que prova que os casamentos a três também podem resultar: louro, alho e um pouco de banha. As batatas fritas são caseiras e o atendimento familiar.
Mais a sul, abaixo da Rua da Escola Politécnica, há duas outras belíssimas opções do género. À Tasquinha dos Arcos (Rua de São Marçal, 56. 21 346 8123) convém chegar cedo para o almoço (não servem jantares) sob pena de não arranjar lugar nem uma dose dos sempre bem-aviados pratos do dia. O mesmo se aplica à Volta Cá (Rua da Quintinha, 43. 21 39 68597), especialmente em dias de cozido (quintas-feiras, mas nem todas). A restante comida de tacho — caril, cabidela, ou feijoada — também costuma ser de tempero acertado e servida em doses generosas, cortesia de Dona Filomena, uma cozinheira de mão cheia.
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Finalmente, e já que o assunto é tempero acertado e doses generosas, este artigo ficaria incompleto sem uma menção à comida cabo-verdiana do Estrela Morena (Rua da Impensa Nacional, 64B. 21 808 5445). Da feijoada de congo à cachupa (tanto a rica como a refogada), passando pelo polvo estufado, todo o menu cai dentro do rating BB+, tal como a dívida da nação. Lixo? Pelo contrário, Bom e Barato.