O jihadista Oussama Atar negou, numa carta enviada à mãe, ter sido o mentor dos atentados de março deste ano em Bruxelas, contrariando as afirmações dos investigadores, noticia neste sábado o jornal belga La Derniere Heure. O jornal divulga a carta, mas não explica como obteve a cópia, indicando apenas que teve acesso à missiva através de um belga-marroquino de 32 anos que deverá estar na Síria.

“Não, eu não sou o mentor ou o mestre que dirigiu os atentados de Bruxelas e não estava ciente do que Brahim e Khalid estavam a planear (que Alá tenha misericórdia deles)”, escreveu Atar, referindo-se aos irmãos Bakraoui, que se fizeram explodir no aeroporto e na estação de metro da capital belga.

Atar, 32 anos, é qualificado por várias fontes policiais e judiciais como “um dos terroristas mais perigosos da Europa”, dados os “muito fortes” indícios do seu envolvimento nos atentados de 22 de março que fizeram 32 mortos e 340 feridos no aeroporto de Zaventem e na estação de metro de Maalbeek, além de ser também suspeito como uma das peças-chave dos ataques de Paris, de novembro do ano passado.

Na carta, enviada à mãe, Malika Benhattal, depois de se conectar com uma de suas irmãs através da rede social Facebook, Atar não mencionou os atentados de Paris. Os investigadores acreditam que Atar, usando o pseudónimo de Abou Ahmad, foi um dos comandantes dos atentados de Bruxelas e de Paris, que no domingo faz um ano e causou 130 mortos.

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Sobre o seu paradeiro atual, Atar diz à mãe que não está na Europa e que não têm planos para regressar. “Não, eu não sou Osama bin Laden, nem a mão direita de Abu Bakr al-Baghdadi [chefe do IS]”, escreveu Atar, acrescentando que “em nenhum momento” encontrou o líder do grupo jihadista “na prisão ou em outro lugar”.

Atar era conhecido da polícia desde 2012, quando regressou à Bélgica depois de quase nove anos de prisão no Iraque, onde foi detido por cruzar ilegalmente a fronteira com a Síria e condenado a dez anos de prisão.

A libertação antecipada foi possível depois de a família, preocupada com o seu estado de saúde e as condições da detenção, organizar uma manifestação em Bruxelas e pedir o apoio do Governo belga, que assegurou acompanhar o assunto com atenção.

No Iraque, Atar passou nomeadamente por Camp Bucca, a prisão norte-americana considerada o “berço” do grupo extremista Estado Islâmico, onde se julga que conheceu Abu Bakr al-Baghdadi, o líder do grupo ‘jihadista’.