Quando anoiteceu a 5 de dezembro de 1952, a cidade de Londres mergulhou num pesadelo que durou mais quatro dias. Quatro mil pessoas morreram e outras 150 mil ficaram gravemente doentes por causa de infeções respiratórias provocadas pelo nevoeiro que se havia abatido sob a capital inglesa naquela sexta-feira. Não era uma neblina como a que normalmente invade a cidade às portas do inverno: era amarelada, mais espessa, malcheirosa e claramente tóxica. Lançou o caos inexplicável. Ninguém conseguia perceber porquê. Agora, um novo estudo publicado na Proceedings of the National Academies of Science esclareceu tudo.
Tinha sido um dia normal em Londres, com a agitação própria de uma capital europeia então com 8 milhões de habitantes. Os comboios atravessavam a cidade, os carros cruzavam as estradas e as fábricas funcionavam a todo o vapor. Estava sol, não havia qualquer farrapo de nuvem a tapar o azul do céu, mas o mercúrio dos termómetros e os arrepios na pele não deixavam enganar: estava frio, muito frio. Quando os londrinos voltaram para casa, já a noite caía, tentaram aquecer-se queimando o carvão de baixa qualidade que guardavam para escapar ao tempo gélido. Mal sabiam eles que este ato, tão comum desde o mês de novembro, era a sentença de morte para muitos.
Enquanto Londres se preparava para dormir, uma massa de ar frio vinda do continente invadia a atmosfera. O Ministério Público já sabia que isso traria problemas, porque tinha sido avisado pelos meteorologistas londrinos, mas a carta com essa informação para a oposição de Winston Churchill, que já tinha sido avisado que o excesso de carvão usado na cidade podia trazer problemas. Ora, a massa de ar frio parou mesmo por cima da capital britânica, arrefecendo o ar aquecido pelas chaminés das casas e das fábricas e obrigando-o a descer até ao chão. Com ele, assentaram as poeiras lançadas pela queima do carvão. Causando uma onda de mortes súbitas. Nos dias seguintes ninguém via sequer os pés: foi de tal modo angustiante que os comboios tiveram de parar, o trânsito paralisou e os teatros fecharam porque o nevoeiro tinha invadido os espaços fechados. Não se via a mais de meio metro à frente dos olhos. Grande parte das pessoas não morreu por doenças no pulmão, mas sim porque eram atropeladas ou caíam para o rio.
Mas o verdadeiro perigo pairava realmente no ar.
O facto de o nevoeiro se ter tornado mortal à conta da queima de carvão não é novidade. Mas sabe-se agora, através de uma experiência feita por cientistas chineses, norte-americanos e britânicos, que o nevoeiro estava impregnado de sulfatos. O dióxido de enxofre lançado durante a queima do carvão de baixa qualidade transformou-se em ácido sulfúrico através de um processo potenciado pelo dióxido de azoto, um co-produto lançado na atmosfera pelas fábricas e pelas casas. Esse processo leva à produção de partículas ácidas que se dissolveram no nevoeiro natural e espalharam-se pela cidade.
Os resultados conhecidos agora não servem apenas para tapar uma lacuna na História londrina. É um grande passo para que as grandes cidades asiáticas desenvolvam novos mecanismos para melhorarem a qualidade do ar na atualidade.