O Banco de Portugal espera que a economia portuguesa cresça 1,2% este ano, tanto quanto a previsão mais recente (e mais pessimista) do Governo, mas cortou a projeção do próximo ano em duas décimas e vê a economia a crescer a um ritmo inferior ao de 2015 até ao final da década, o que é próximo, mas abaixo, do crescimento na zona euro.
No boletim económico publicado esta quarta-feira, o banco central explica que a previsão para o crescimento económico para este ano é melhorada em uma décima face a outubro (altura que tinha cortado a previsão em duas décimas) refletindo um comportamento melhor das exportações.
Nas previsões, que vão até 2019, o cenário é de estabilização. A economia não deve crescer mais que 1,5% até ao final de 2019, o que representa um corte da previsão para o próximo ano em duas décimas – de 1,6% para 1,4% do PIB – face à previsão de junho, a última com números relativos a 2017.
Nos anos seguintes, que só contam necessariamente com as medidas que já estão aprovadas com elevada probabilidade de o serem e com detalhe suficiente para que a instituição as possa considerar nestas previsões, o cenário não é muito melhor: crescimento de 1,5% em 2018 e 2019. A confirmarem-se estas previsões, a economia não só cresce abaixo do previsto para a zona euro, ainda que próximo, como não consegue ainda compensar a destruição de riqueza dos anos de recessão (2010 a 2013). O ritmo de crescimento seria também inferior em todos os anos em que este Governo estaria em funções aquele que se verificou em 2015.
Este crescimento limitado deve-se ao legado de desequilíbrios do passado, diz a instituição liderada por Carlos Costa. Os elevados níveis de endividamento público e privado, a evolução demográfica desfavorável e a persistência de ineficiências nos mercados de trabalho e do produto continuam a ser obstáculos a um crescimento mais robusto e “requerem a continuação do processo de reformas estruturais”, diz o banco central.
A boa notícia é que, apesar de não estar a crescer de forma mais robusta, o crescimento está mais ancorado que nunca nas exportações e no investimento, substituindo o consumo como grande motor da economia, “é compatível com uma recuperação mais sustentada da economia portuguesa”.
O padrão de crescimento mais sustentado é tanto mais importante porque se verifica numa situação em que existe uma capacidade de financiamento da economia portuguesa junto do exterior e em que se espera que o endividamento do setor privado continue a diminuir.
No entanto, há riscos para estas projeções e são sobretudo negativos nos próximos dois anos. Internamente, e na zona euro, os riscos são conhecidos dos portugueses: os problemas com o setor bancário e os constrangimentos a nível orçamental, que podem ter impacto na procura interna, isto porque tanto os problemas nos bancos podiam colocar constrangimentos no financiamento à economia – necessário para que as empresas possam fazer os seus investimentos, ou para as famílias fazerem compras a crédito de bens e serviços mais caros -, como de eventuais constrangimentos que possam surgir no rendimento das famílias fruto de medidas de consolidação que possam vir a ser necessárias em caso de derrapagem orçamental.
Mas a conjuntura internacional também pode voltar a desempenhar um papel fundamental. Durante este ano a economia já deverá crescer bastante abaixo do que se previa, fruto em grande parte de uma queda do investimento e de exportações piores que o esperado no início do ano, e as tensões que podem gerar a nível internacional fruto da mudança na política comercial de algumas das maiores potências pode complicar este cenário.
Como cresce mais a economia em 2017
A diferença não é substancial, mas o banco central prevê uma aceleração do crescimento no próximo ano e a explicação será uma maior dinâmica do investimento empresarial.
A mesma coisa não se pode dizer do consumo privado, que o banco central vê agora a crescer menos acentuadamente do que via em junho e espera que vá estabilizando ao longo do horizonte da projeção. Isto deve-se a um efeito de antecipação de compras, já que com o aumento previsto no orçamento deste ano (que só entrou em vigor em abril devido ao calendário eleitoral) dos impostos sobre os veículos, muitas famílias decidiram comprar carro antes desse aumento se concretizar.
Por outro lado, o crescimento expressivo que se vinha a verificar na compra de bens duradouros, como automóveis e outros bens (como alguns eletrodomésticos, por exemplo) resulta em parte da concretização de compras que foram adiadas durante os anos de recessão económica, entre 2011 e 2013, e que uma vez concretizados levam a economia a um período de compras menos intensas.
Isto nota-se na previsão de crescimento do consumo privado, que passa dos 1,7% em junho, para os 1,3% agora em dezembro, ritmo esse que se deve manter em 2018 (1,4%) e em 2019 (1,3%), de acordo com as contas do Banco de Portugal.
Emprego cresce mais
O que já era uma boa notícia pode ser ainda melhor, a concretizarem-se as contas do banco central. O Governo já tinha admitido alguma surpresa com os resultados melhores que o esperado no que diz respeito ao emprego e, mesmo sem a economia a crescer tanto como se esperava no início do ano, a economia portuguesa deverá criar mais emprego e a taxa de desemprego deverá continuar a descer.
Fulcral para estas contas é o resultado que o banco central espera para este ano. Nas suas previsões, o Banco de Portugal diz que o emprego deve crescer 1,5% este ano, meio ponto percentual acima do que esperava em outubro e quase o dobro dos 0,8% previstos pelo Governo no relatório do Orçamento do Estado para 2017 apresentado em outubro. Este crescimento do emprego permitirá uma redução mais acentuada da taxa de desemprego já este ano, que a instituição vê agora a cair para 11%, em vez de para 11,2% como esperava em outubro.
Nos próximos anos o emprego já não deve crescer de forma tão acentuada, alinhando aliás com aquela que é a previsão do Governo, à volta de 1% nos próximos três anos.
Estes resultados permitiram, mesmo com a economia a crescer abaixo de 1,5%, que a taxa de desemprego caísse para menos de 10% já em 2018.