Até as pernas lhes tremem. As de quem tem que marcar e as de quem tem que defender o penalty. A baliza é sempre a mesma: 7,32 metros de largura e 2,44 de altura. Mas quando a hora do penalty chega, ao guarda-redes parece-lhe maior do que nunca e a quem vai rematar quase que se “encolhe”. Os penaltys são como os chapéus: há muitos. E memoráveis. E aqui, os que se falham também o são. Roberto Baggio que o diga.

Foi ele quem “resolveu” uma final para o Brasil, a do Mundial de 1994, mais até do que o guarda-redes Taffarel, enviando a bola quase para lá do estádio Rose Bowl. Acontece aos melhores. Mas os “melhores” nem sempre falham nas finais. De um lado Sepp Maier, pela Alemanha, do outro Antonín Panenka, da Checoslováquia. Estávamos a 20 de julho de 1976, um domingo em Belgrado, e decidia-se o Europeu na “negra”. Panenka correu, passos curtos mas velozes, quase pulando sobre a relva, Maier escolheu o lado direito, atirou-se para lá e o checoslovaco picar-lhe-ia a bola para o centro da baliza, suavemente, como que em “câmara lenta”. O penalty, de tão inovador que foi, tomou-lhe o apelido até hoje: é “à Panenka”.

No estádio António Coimbra da Mota não havia final nenhuma – ainda que Rui Vitória diga de todos os jogos que o são. Mas a vitória do Benfica (1-0) também se resolveria assim, de penalty, “com assinatura”, pois é sempre da mesma forma (e está temporada são já dois os golos de penalty que o mexicano conta) que Jiménez bate: de “paradinha”. E não há guarda-redes que, vista e revista a cassete, os trave.

Foi aos 61’. Bruno Paixão apitou sem hesitar. Mas o penalty vai fazer correr tinta. Nélson Semedo desmarcou Cervi à direita, dentro da área, uma desmarcação “a queimar” na linha de fundo, Cervi não a deixou que a bola saísse, tocou-a para dentro, Ailton tentou cortá-la de “carrinho”, mas ao fazê-lo desviaria com o braço direito a bola. Tentou encolhe-lo, mas desviou. Alguns dirão que foi imprudente. E foi. Tanto que nem protestou quando o árbitro assinalou falta. Outros dirão que Cervi foi “rato”, tentou “sacar” o penalty, e que Ailton só poderia ter encolhido mais o braço se o metesse dentro da camisola. Pois que corra a tinta.

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Quanto ao golo, foi devagar, devagarinho, Jiménez avançou, travou o passo antes de bater na bola, bateu-a para o lado esquerdo, Moreira atirou-se cedo demais (lá está: enganado pela “paradinha”) para o direito e o Benfica estava em vantagem. Jiménez iguala Mitroglou como o melhor marcador do Benfica esta época: oito golos. E o ponta-de-lança mexicano — o tal que custou 21,8 milhões de euros (nunca tanto se pagou na Luz) e só saltava do banco para resolver no fim — marca consecutivamente vai para quatro jogos.

Mas puxemos o filme atrás. Na primeira parte, dois remates à baliza, uma para cada lado, qual deles o mais perigoso. O primeiro foi do Benfica, aos 14’. O canto foi a favor dos visitantes e não deu em nada. Mas o Benfica forçou, pressionou, o Estoril não conseguiu livrar-se da bola, João Afonso rematou-a contra Guedes, a bola ficou redondinha à entrada da área e Jiménez chutou para onde estava virado. E esta virado para a baliza. E o chuto foi potente e enviesado, quase traindo Moreira. O guarda-redes do Estoril só teve tempo de dar uma “sapatada” na bola, rente à barra.

Mais tarde, à meia-hora de jogo, pliiim! Ao poste. O livre era próximo da área, descaído para a direita, bateu-o uma canhota, a de Eduardo Teixeira, colocou a bola em arco no segundo poste, Bruno Gomes escapou-se à marcação de Nélson Semedo e cabeceou à vontade na pequena área. E o à-vontade foi tanto que acertou no poste esquerdo, só com Ederson pela frente.

Viria o intervalo e depois o recomeço. O Benfica tinha para si a bola o tempo todo, acelerava com ela e deixava a defesa do Estoril num “ai Jesus”, mas não acertava com o golo – mal tentava, diga-se. E assim que o fez, no tal penalty “à Jiménez”, recolheu-se. E o Estoril que até aí pouco ou nada tinha feito, agigantou-se.

71′. Não foi vistosa a defesa. Mas foi do mais útil que há. É de Ederson, pois claro. Eduardo Teixeira desmarcou (e que desmarcação foi, “a rasgar” e sem olhar) Gustavo Tocantins nas costas de Luisão e Linfelof, Gustavo entrou na área do Benfica, Ederson saiu-lhe aos pés, o avançado do Estoril picou-lhe a bola por cima, o guarda-redes não foi em cantigas — que é como quem diz: não tombou sobre a relva — e defendeu “à andebol”, num golpe de braço. E segurava o Benfica à vitória.

Era tudo? A vitória estava “no bolso”? Quase. Sim, ficou. Mas o Estoril, aos 91’, “cheirou” o empate. Foi de baliza aberta que o falhou. Sim: de-baliza-aberta. Eduardo Teixeira bateu um canto para o Estoril à direita, Bazelyuk desviou a bola no primeiro poste, a defesa do Benfica avançou para deixar o ataque do Estoril em fora-de-jogo, não deixou, o desvio de Bazelyuk seguiu para o poste contrário, onde Alisson desviaria. Ederson não estava lá. Era só Alisson, a baliza e o golo. Mas desviou para fora, o brasileiro. E ficou abraçado ao poste, incrédulo.

Ainda lá deve estar, incrédulo e abraçado. O Benfica, esse, mantém-se líder e voltou a distanciar-se do FC Porto: quatro pontos de vantagem para o segundo, que só na segunda-feira volta a jogar. Uma coisa é certa, mesmo que o FC Porto derrote o Chaves, continua a ter um jogo a mais que o Benfica e um ponto a menos na classificação. Ou seja, temos “campeão” de Natal.