Foi esta segunda-feira que Donald Trump foi efetivamente eleito como presidente dos EUA, após um processo que descrevemos longamente neste artigo. Apesar do movimento que se gerou à volta dos membros republicanos do Colégio Eleitoral — o órgão que elege diretamente o presidente norte-americano –, fortemente pressionados a votarem contra a imposição do partido, a verdade é que até houve mais “eleitores infiéis” do lado de Clinton do que do lado de Trump. Outro marco histórico: desde 1900, só tinha havido oito “eleitores infiéis”, sempre em eleições diferentes, o que significa que esta foi a eleição com mais “infiéis” da história moderna dos EUA.

O candidato republicano venceu sem dificuldades, como se esperava, com 304 votos eleitorais, contra 227 de Clinton. Tendo em conta os resultados do voto popular, o Partido Republicano levou 306 ‘grandes eleitores’ ao Colégio, pelo que apenas dois votaram contra Trump. Já o Partido Democrata levou 232 elementos, tendo havido cinco ‘infiéis’.

304

‘Grandes eleitores’ que votaram em Donald Trump para presidente dos EUA. Dos 306 designados pelo Partido Republicano, dois decidiram não seguir o sentido de voto do partido.

Do lado republicano, os dois votos contra Trump vieram do Texas, onde a votação é secreta (os modelos de votação são diferentes em cada estado). Lá, houve um voto republicano a favor de John Kasic, o governador de Ohio, que defrontou Trump na luta pela nomeação no partido, e um outro voto a favor de Ron Paul, um congressista apoiado sobretudo pelo Partido Libertário. Isto porque, em teoria, os eleitores podem votar noutras pessoas que não os candidatos nomeados pelos partidos, desde que sejam elegíveis. Entre os dois eleitores texanos que votaram contra Trump encontra-se, pelo menos, Christopher Suprun, que anunciou abertamente, num artigo de opinião no The New York Times, que não iria votar a favor do candidato republicano.

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227

‘Grandes eleitores’ que votaram em Hillary Clinton. O Partido Democrata levou 232 elementos ao Colégio, e cinco deles foram “infiéis”.

Já entre os eleitores do Partido Democrata, houve, segundo a Reuters, o maior número de “infiéis” desde 1872 — ano em que houve 63 ‘grandes eleitores’ democratas a não votar no candidato democrata, Horace Greeley. Detalhe sobre esta eleição: Greeley tinha morrido depois da eleição, mas antes da reunião do Colégio.

Foi no estado de Washington que houve mais democratas a não votar em Hillary, com quatro dos 12 eleitores a escolherem outros candidatos. Destes, três votaram em Colin Powell, antigo secretário de Estado republicano. Um outro voto foi para Faith Spotted Eagle, uma idosa nativa-americana que tem sido uma voz ativa contra a instalação de oleodutos no Dakota. A ideia destes democratas era, ao votar no republicano Colin Powell, encontrar um ponto de consenso entre os dois partidos que pudesse evitar a eleição de Trump, já que a derrota de Hillary era garantida. Ouvido pela Reuters, o eleitor Bret Chiafalo, que votou em Colin Powell, sublinhou que os Pais Fundadores [nome dado aos líderes que assinaram a declaração de independência dos EUA no século XVIII] “disseram que o Colégio Eleitoral não serviria para eleger um demagogo, não serviria para eleger alguém influenciado por potências estrangeiras e não serviria para eleger alguém que não está preparado para o cargo. Trump falha nos três, ao contrário de todos os candidatos que já vimos na história americana”.

Clinton teve cinco votos democratas contra si, mas teria tido mais se não fossem as leis de alguns estados que impedem os eleitores de votarem contra o partido. Mas não foi por falta de tentativas. David Bright, eleitor democrata no estado do Maine, ainda tentou votar em Bernie Sanders, mas o voto foi rejeitado, acabando por ter de votar em Clinton. No Havai, um eleitor conseguiu mesmo votar em Sanders, apesar da lei que obriga os membros do Colégio a votar no vencedor do seu partido. No estado do Colorado, Michael Baca, um dos eleitores democratas por aquele estado, tentou votar em John Kasic, mas foi substituído por outro eleitor na sequência do seu acto. Por fim, no Minnesota, um eleitor que anunciou que não queria votar em Hillary Clinton acabou por ter de pedir a dispensa antes da eleição.

No final da eleição, e com uma contagem preliminar dos votos, Donald Trump usou, como sempre, o Twitter para agradecer a eleição. “Conseguimos! Obrigado a todos os meus grandes apoiantes, acabámos de vencer oficialmente a eleição (apesar de todos os meios de comunicação distorcidos e pouco exatos)”, escreveu Trump na rede social.

Com este resultado, tudo indica que Donald Trump será oficialmente confirmado como presidente dos Estados Unidos, mas o processo ainda não acabou. A confirmação final será feita no dia 9 de janeiro pelo presidente do Senado, que é o vice-presidente dos EUA, Joe Biden. Nesse dia, o Senado reúne-se em Washington, D.C., para declarar o vencedor. Antes, porém, terá de perguntar se alguém tem objeções. Após ler em voz alta o resultado da votação do Colégio Eleitoral estado por estado, que segue depois para publicação nos jornais oficiais de ambas as câmaras do Congresso, Biden vai perguntar por essas objeções. Se houver alguma, terá de ser apresentada por escrito e assinada por, pelo menos, um senador e um membro da Câmara dos Representantes, antes de ser entregue a Biden para análise.

Tendo em conta a tradição, a haver alguma objeção apresentada, será apenas de carácter administrativo — queixas diretamente relacionadas com determinados documentos e não com o processo em geral, escreve o Quartz. Com uma margem consolidada no Colégio Eleitoral, Trump será oficialmente anunciado como próximo presidente dos EUA a 6 de janeiro, por Joe Biden e tomará posse dia 20.