Mário Centeno explicou-se, António Costa disse que confiava no ministro e Marcelo segurou-o, com muitos recados. Mas o caso está longe de estar encerrado. Pedro Passos Coelho não desiste e diz que não vai deixar de fazer tudo o que estiver ao alcance dos sociais-democratas para apurar a verdade sobre o processo em torno da Caixa Geral de Depósitos. “Espero que o primeiro-ministro não pense que, por ontem o ministro ter feito uma conferência de imprensa, e por o primeiro-ministro ter reiterado a sua confiança, o país está dispensado de saber a verdade. O PSD não deixará de, na comissão de inquérito, pedir toda a informação necessária para o país perceber o que se passou”, disse esta terça-feira o líder do PSD falando em Torres Vedras à margem de uma visita a uma empresa.
Para Passos Coelho, todas as tentativas de explicações que foram dadas pelo Governo sobre o caso não são “convincentes”. “Era mais fácil dizer que o Governo esteve empenhado em criar um regime feito à medida das exigências que os administradores colocaram ao Governo, que de resto nem se importou de aprovar um decreto-lei feito no escritório de advogados daqueles mesmos administradores”, começou por dizer, sublinhando que todas as evidências que têm vindo a público mostram que “o Governo aceitou negociar condições que não são negociáveis”. Não obstante as explicações de Mário Centeno, que ontem negou ter garantido aos administradores da CGD que estariam desobrigados de declarar rendimentos e património no TC.
O problema maior, à parte da “atuação do ministro, que é bastante criticável”, é a perda de tempo útil para a Caixa se recapitalizar. “Estamos há um ano sem que a CGD tenha uma administração que possa dirigir o banco com sentido estratégico”, disse, lembrando o objetivo primordial da comissão de inquérito que era apurar porque é que a injeção de 5 mil milhões de euros é necessária, quais foram os prejuízos que determinaram essa necessidade de injeção de capital e em que termos essas decisões foram tomadas.
É que, segundo lembrou Passos Coelho esta terça-feira, a anunciada estratégia de recapitalização do banco “ainda não aconteceu”, apesar de o Governo “levar as pessoas a pensar que a recapitalização está feita e com sucesso”. “Até hoje ainda não entrou um euro novo na CGD, todo o dinheiro que lá está foi o dinheiro que eu coloquei na Caixa”, disse, referindo-se à última injeção de capital que aconteceu em 2012.
Questionado sobre se Mário Centeno deve divulgar a troca de SMS que manteve com António Domingues antes de este assumir funções, Passos pediu apenas “absoluta transparência”, e criticou a postura de “obstrução” que tem sido mantida pela maioria de esquerda na comissão parlamentar de inquérito. Esta terça-feira, o PSD anunciou que vai pedir a António Domingues, no âmbito da comissão de inquérito, toda a transcrição das mensagens que trocou com ministro das Finanças. Antes, já o CDS tinha feito um requerimento para apurar se havia SMS, ou contactos por outra via, entre as duas partes sobre a desobrigação de declarar rendimentos no TC.
“Se eu fosse primeiro-ministro, o meu ministro das Finanças não era este”
Sobre a atuação do Presidente da República, que ontem falou com Mário Centeno pela hora de almoço levando-o a convocar os jornalistas para dar explicações sobre o caso, e que depois emitiu uma nota a deixar claro que Centeno assumiu que houve “erros de perceção mútuos” e que não caia por “estrito interesse nacional”, Passos não se pronuncia. Recusa pedir a demissão do ministro porque essa decisão não lhe compete e deixa um recado que pode ser ouvido pelo Presidente da República: “A continuação de um ministro só depende da vontade do primeiro-ministro, que pode pedir ao Presidente a exoneração de alguém”.
Ou seja, é apenas e só ao primeiro-ministro que compete decidir sobre a demissão ou a continuidade de um ministro, e não ao Presidente da República. O papel do PR é outro. “Tenho dito que não faço comentário sobre a atuação do Presidente da República, que ocupa um lugar próprio no jogo político e não se situa ao nível dos partidos”, disse, numa altura em que entre o PSD várias têm sido as vozes que se têm levantado para criticar a atuação do PR nomeadamente sobre a polémica da CGD.
Perante a insistência dos jornalistas sobre se Mário Centeno se devia ou não demitir, e questionado diretamente sobre o que faria se fosse primeiro-ministro, Passos limita-se a dizer: “Se eu fosse primeiro-ministro, o meu ministro das Finanças não era este”. Assunto arrumado.