O ex-líder do PSD e comentador da SIC, Luís Marques Mendes, diz que é preciso ouvir no Parlamento os ex-ministros das Finanças do Governo PSD/CDS no caso das offshores.

Eu acho que há um passo que deve ser dado a seguir, que é chamar ao Parlamento Vítor Gaspar e Maria Luís Albuquerque, os dois ex-ministros da Finanças que eram a tutela de Paulo Núncio.”

Apesar do assumir de responsabilidade política por parte de Paulo Núncio, Marques Mendes considera que é aos ministros que tutelavam a pasta das Finanças que cabia saber o que se estava a passar, e por isso quer que Vítor Gaspar e Maria Luís Albuquerque respondam a várias perguntas.

Os secretários de Estado não têm competências próprias, têm competências delegadas dos ministros e, portanto, é preciso perguntar aos dois ministros o seguinte: então? Sabiam disto? Não sabiam? Certamente vão explicar que não sabiam.”

Marques Mendes continua, afirmando que em caso de resposta negativa, há mais questões a colocar:

Não sabiam? Então o Ministério estava em autogestão? Quer dizer, então durante dois ou três ou quatro anos nunca houve uma conversa entre o secretário de Estado e o ministro ou a ministra para saber, olhe como é que está essa questão das offshores? Está a haver mais transferências, menos, está a ser tudo regularizado, tudo legal? Nunca houve uma conversa destas? Quer dizer, se não houve, então que raio é que o ministro ou a ministra lá está a fazer?

O antigo secretário de Estado dos Assuntos Fiscais Paulo Núncio assumiu no sábado a “responsabilidade política” pela não publicação de dados relativos às transferências de dinheiro para offshores, pedindo o abandono das suas funções atuais no CDS-PP.

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“Tendo em conta o tempo que decorreu entre os factos e o presente e tendo tido agora a oportunidade de revisitar os documentos que têm sido noticiados, nomeadamente os apresentados pelos serviços para publicação de informação estatística das transferências transfronteiriças, considero legítima a interpretação dos serviços que levou à não publicação das estatísticas no portal das Finanças. Assumo, por isso, a responsabilidade política pela não publicação das referidas estatísticas”, sublinhou Núncio, em texto enviado à agência Lusa.

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A esquerda não se mostrou satisfeita com o assumir de responsabilidades de Paulo Núncio e todos os partidos que apoiam o Governo afirmaram que são necessárias mais explicações, voltando a apontar o dedo ao Governo PSD/CDS. A líder do CDS elogiou a atitude do ex-governante, que também pediu para abandonar as funções no CDS: “Mostrou grande elevação de carácter e o país deve muito a Paulo Núncio pelo trabalho de combate à fraude e evasão fiscal”, disse Assunção Cristas.

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O PSD anunciou que vai avançar com uma iniciativa legislativa para que a publicação obrigatória das transferências para offshores deixe de depender da autorização do Governo e, sobre Núncio, o deputado Hugo Soares afirmou: “Queremos ouvir as explicações do doutor Paulo Núncio para saber o que é que esteve na base desta sua decisão ou desta sua não decisão. Mas mais importante do que a publicação das estatísticas é o facto de nós termos hoje de apurar se, dessas transferências, ficaram ou não ficaram por pagar impostos. Se os impostos foram ou não foram liquidados”.

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Uma iniciativa que foi prontamente criticada por Mariana Mortágua, que afirmou que “isso são tudo formas de agora não acatar responsabilidades que têm que ser acatadas”. A deputada bloquista disse, à tarde, o que Marques Mendes veio reafirmar, à noite, no jornal da SIC. Que os ministros que tutelavam as Finanças durante o tempo em que Paulo Núncio foi secretário de Estado têm de se explicar: “[Paulo Núncio] tinha uma ministra das Finanças ou um ministro das Finanças que eram responsáveis por aquilo que o secretário de Estado fazia e é preciso compreender aqui quais são as responsabilidades do Ministério das Finanças ao não querer a publicação”.

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