Mais de 200 clientes que comparam junto do Deutsche Bank 100 milhões de euros em produtos relacionados com dívida da PT queixam-se que o banco lhes tem dificultado o acesso aos documentos para protelar a ida destes para tribunal. Segundo a informação dada à Lusa por estes clientes, estes têm visto “a sua vida dificultada por parte do banco alemão de todas as maneiras possíveis (…), desde as mais convencionais (não atender telefone, responder emails, etc) até ao solicitar um valor de 25 euros por cada documento solicitado”.
Estes clientes acusam o banco alemão de lhes ter vendido “de forma irregular e danosa 100 milhões de euros” em produtos estruturados complexos relacionados com dívida da PT (CLN – credit linked notes, com o nome Notes Portugal Telecom 2020) e com os quais tiveram elevadas perdas, tendo recebido apenas 10% do capital investido.
Os clientes já tentaram chegar a um acordo extrajudicial com o banco, mas sem sucesso. Além disso criticam que o banco não faça um tratamento global dos casos de todos os clientes e que peça 25 euros por documentos pela emissão de segundas vias de documentação. Os clientes acusam, assim, a sucursal em Portugal de tentar impedir os clientes de exercerem os seus direitos, mesmo em tribunal.
Jorge Rocha, um dos clientes que se dizem lesados pelo DB, afirmam à Lusa que muitas das pessoas a quem foram vendidos os títulos “não têm sequer a escolaridade obrigatória, muitos não sabem ler nem escrever e têm produtos com swaps de taxa de juro dentro”. Além disso, acrescentou, apenas receberam 10% do capital quando as obrigações subjacentes no produto valem 35%.
Estes clientes fazem parte de um grupo de investidores que compraram aos balcões de vários bancos – Banco Best, Barclays ou DB – produtos estruturados complexos relacionados com dívida da antiga Portugal Telecom que viriam a estar subjacentes à operadora brasileira Oi com a fusão entre as duas empresas.
No ano passado, com a insolvência da operadora brasileira Oi (que está agora em tentativa de recuperação), estes produtos sofreram perdas consideráveis, já que foi considerado um “evento de crédito” pela Associação Internacional de Swaps e Derivados (ISDA), o que implicou o reembolso antecipado dos produtos financeiros com perdas consideráveis.
No caso deste grupo de clientes do Deutsche Bank tratam-se de 206 pessoas que dizem ter perdido 90% do montante investido. Queixam-se de que houve irregularidades na venda dos produtos e que o banco não lhes deu informação sobre a evolução da Portugal Telecom (PT) e as implicações que isso tinha para os seus investimentos. Há um outro grupo de 100 clientes que também foram lesados pela venda destes títulos que vão processar os bancos que serviram de intermediários financeiros, tendo já feito uma queixa ao Provedor de Justiça.