(artigo atualizado com mais dados sobre o consumo de bebidas alcoólicas, em percentagem do Produto Interno Bruto)
Com mais ou menos explicações, o presidente do Eurogrupo, Jeroen Dijsselbloem, não se livra da polémica — não só por explicar a crise europeia com base num suposto esbanjamento por parte dos países que pediram resgate como, também, pela imagem que utilizou para transmitir a sua posição: “não se pode gastar o dinheiro todo em mulheres e álcool e, depois, pedir ajuda”. Augusto Santos Silva, ministro dos Negócios Estrangeiros, preocupa-se mais com o “padrão de raciocínio” do que com a “graçola”, mas vale a pena olhar para os números e perceber até que ponto é que os países do Sul tendem a gastar mais em álcool (e “mulheres”).
Partindo do pressuposto de que, quando falou em “mulheres”, Dijsselbloem se referia a prostituição, esta é legal na Holanda e existem dados sobre quanto se gasta no país de Dijsselbloem nesta atividade. O famoso Red Light District contribui com 2,5 mil milhões de euros para a economia holandesa (com a venda de sexo mas, também, de drogas), que é um produto económico quase tão elevado quanto o consumo de pão e, segundo informações da Reuters, mais do que o consumo de queijo em todo o país.
Dois problemas com estes dados: em primeiro, como é sabido, não são apenas holandeses a pagar por prostituição na Holanda. E, além disso, os dados sobre a prostituição não desagregam se se trata de prostituição feminina ou masculina.
Em Portugal, não existem dados oficiais sobre prostituição, já que proxenetismo e intermediação de serviços sexuais são ilegais. Mas em 2014, o mesmo ano a que se referem os dados citados pela Reuters, em Portugal o Instituto Nacional de Estatística (INE) recorreu a “simplificações e convenções” acordadas a nível europeu para dizer que as “atividades ilegais” (outra vez, prostituição e drogas) contribuíram para o Produto Interno Bruto (PIB) com 629 milhões de euros.
Já em Espanha, o país que terá levado mais a peito a declaração de Dijsselbloem, nesse ano de 2014 houve um gasto estimado significativo em prostituição: segundo o Eurostat, 3,8 mil milhões de euros (mais 5,4 mil milhões em drogas).
E álcool, bebemos e gastamos assim tanto?
No consumo de álcool, as comparações são um pouco mais fáceis de fazer, ainda que também aqui exista o problema de não se poder dizer que todo o álcool que é consumido num dado país é por residentes desse mesmo país. Assim assim, enquanto Espanha aparece abaixo da média europeia de consumo de álcool (e a Holanda também), Portugal aparece como um dos países com maior consumo.
Segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), relativos a 2015, os países da região europeia (não apenas União Europeia) consomem uma média de 10,2 litros de álcool por pessoa com mais de 15 anos de idade. Eis um gráfico com alguns países selecionados, elaborado a partir dos dados da OMS.
A Holanda fica um pouco abaixo desta média, com um consumo estimado de 9,6 litros de álcool (puro) per capita. Os gregos, um dos países a quem Dijsselbloem se terá querido referir com a metáfora que utilizou, consome ainda menos álcool do que a Holanda: 9,2 litros. Espanha fica um pouco acima da média regional, com um consumo de 10,6 litros per capita. Ainda assim, Espanha fica mais ou menos a meio a tabela.
Já Portugal está perto do topo, com um consumo projetado de 12,5 litros de álcool por pessoa, ao longo de um ano. Mais do que Portugal, só oito países onde se incluem a Roménia, a Federação Russa, a Bielorrússia e uns inebriantes 17,4 litros per capita da Moldávia — o país com maior consumo de álcool nesta região, segundo a OMS.
Os dados acima referem-se ao consumo em litros, per capita, mas o Eurostat tem dados sobre que percentagem do PIB é que cada país gasta em bebidas. E, aí, Portugal aparece a meio da tabela, em linha com a média da Europa a 28. Não vai encontrar dados sobre a Holanda, já que estes aparecem como “confidenciais”.