O Presidente do Eurogrupo garante que não se referia aos países do sul em particular quando disse que “não se pode gastar todo o dinheiro em álcool e mulheres e, de seguida, pedir ajuda”, mas que sim a todos os países da zona euro. Segundo o seu porta-voz em declarações ao Observador, Jeroen Dijsselbloem mantém as declarações, e diz que não considera ter sido um comentário infeliz.

“A mensagem é clara e tinha como destino todos os países da zona euro: a solidariedade vem acompanhada de obrigações”, explicou o porta-voz de Jeroen Dijsselbloem.

A polémica frase foi proferida numa entrevista ao jornal alemão Frankfurter Allemagne Zeitung, publicada este domingo, mas só ganhou relevância esta terça-feira depois de republicada na imprensa espanhola.

O ministro das Finanças holandês, que sofreu uma pesada derrota eleitoral nas legislativas da Holanda e que, nas palavras do próprio, dificilmente integrará o próximo governo holandês disse na entrevista que considerava a “solidariedade muito importante”. “Mas quem a exige, também tem obrigações. Não pode gastar o dinheiro todo em álcool e mulheres e, de seguida, pedir ajuda”.

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Se é verdade que Jeroen Dijsselbloem não se refere diretamente aos países do sul da Europa, também o é que se refere aos países que exigem solidariedade, uma exigência que tem vindo sobretudo dos países do sul.

Segundo o porta-voz do presidente do Eurogrupo, cujo mandato só termina em fevereiro mas que pode deixar o cargo em breve caso não integre o próximo governo holandês, Jeroen Dijsselbloem mantém as declarações e nem sequer as considera infelizes.

O responsável até já tinha mantido a sua posição perante o Parlamento Europeu, recusando que se tivesse excedido ou que tivesse a falar especificamente dos países do sul da Europa.

Jeroen Dijsselbloem recebeu o apoio inequívoco de vários ministros das Finanças da zona euro antes de a reunião do Eurogrupo desta segunda-feira se realizar, em Bruxelas, entre eles dos ministros das Finanças da Alemanha e da Áustria, tradicionais aliados da Holanda no Eurogrupo, e também da Bélgica e do comissário europeu dos Assuntos Europeus, Pierre Moscovici. No entanto, se não for reconduzido como ministro das Finanças, dificilmente Jeroen Dijsselbloem poderá manter-se à frente do Eurogrupo até ao fim do mandato – que termina em janeiro do próximo ano.

À espera, mais uma vez, está o espanhol Luis De Guindos, que já tinha tentado angariar apoios suficientes em 2015 para conseguir o cargo, mas acabou por ser preterido – apesar do apoio inicial da Alemanha -, com os países do euro a optarem por não mudar a face das negociações com a Grécia no seu período mais complexo. De Guindos tinha também ele uma relação difícil com as autoridades gregas depois de algumas declarações no Eurogrupo que caíram mal no governo de Atenas.

Agora, o espanhol pode voltar à corrida e até pode ter o apoio de Portugal. Uma coisa é certa: António Costa já mostrou que não quer o holandês na presidência do Eurogrupo e Mário Centeno, por mais que uma vez, lançou farpas ao Eurogrupo e à forma como as autoridades portuguesas foram tratadas.