A EDP anunciou hoje, segunda-feira, uma oferta pública de aquisição (OPA) sobre a percentagem de capital que ainda não detém na sua subsidiária para as energias renováveis e que representa cerca de 22,5% do capital.
Segundo o comunicado enviado pela empresa liderada por António Mexia à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM), a EDP oferece 6,80 euros por cada título da EDP Renováveis. Em causa está uma operação que poderá representar um esforço financeiro da ordem dos 1,3 mil milhões de euros e, que se for bem sucedida, implicará a saída da bolsa de Lisboa da empresa, liderada por João Manso Neto. Esta será também a maior transação financeira no mercado português depois da oferta da Camargo Corrêa sobre a Cimpor em 2012.
O preço oferecido representa um prémio de 10,% em relação ao valor médio de negociação dos últimos seis meses. As ações da EDP Renováveis fecharam nos 6,26 euros. Mas na manhã de terça-feira registaram logo uma forte valorização, saltando o preço da OPA. A meio da manhã, estavam a subir mais de 11%. As ações da EDP subiam cerca de 3%.
OPA financiada por negócio “que não estava em cima da mesa”
Logo a seguir ao anúncio da OPA, a empresa liderada por António Mexia anunciou um acordo para a venda dos ativos de gás em Espanha, a Naturgas. Esta operação, que durante a apresentação dos resultados o presidente executivo disse que não estava em cima da mesa, vai ter um impacto positivo de 2,3 mil milhões de euros na dívida do grupo EDP, que assim fica em condições de avançar para a compra da participação da EDP Renováveis que não controla.
Em comunicado, a empresa sublinha que o encaixe financeiro desta operação será “parcialmente aplicado na igualmente anunciada hoje potencial aquisição de ações da EDP Renováveis”. O remanescente será canalizado para a redução do nível de endividamento da elétrica. A operação deverá estar concluída entre o segundo e o terceiro trimestre deste ano, segundo uma apresentação feita aos analistas esta terça-feira de manhã. Nesta sessão, o presidente executivo da EDP, António Mexia, argumentou que a oferta faz sentido para as duas empresas.
A venda da Naturgas a um consórcio de investidores internacionais será feita por um valor de 2,6 mil milhões de euros, gerando uma mais-valia de 700 milhões de euros que vão engrossar os lucros da EDP este ano. De fora deste negócio fica a área de comercialização de gás em Espanha. A empresa de redes de gás natural, que atua no norte de Espanha, foi comprada no tempo de João Talone, em 2004, quando a prioridade da expansão da EDP era o mercado espanhol.
Para além da Naturgas, que será vendida a um consórcio composto pela JP Morgan, Abu Dhabi Investments Council e Swiss Life, a EDP tem em marcha um processo de venda da infraestrutura da Portgás em Portugal.
A EDP abriu o capital da EDP Renováveis em junto de 2008, numa das últimas grandes operações realizadas na Europa antes da crise financeira. Esta dispersão de capital permitiu à elétrica financiar o ambicioso plano de expansão internacional no setor renovável. Desde a entrada em bolsa que a possibilidade desta oferta era referida por analistas, em linha aliás com o que fez a Iberdrola, mas o elevado nível de endividamento do grupo EDP e o pesado caderno de investimentos, travaram até agora a OPA.
A EDP Renováveis e os seus ativos foram ainda um dos principais trunfos da elétrica para atrair o investimento da China Three Gorges na privatização de 2011. Desde então os chineses têm também investido diretamente nos ativos detidos pela EDP Renováveis em Portugal e no mercado internacional, adquirindo até 49%. A China Three Gorges é a maior acionista da EDP com 21,35% do capital.