O tio de Bashar al-Assad e ex-vice-presidente da Síria, Rifaat al-Assad, está a ser investigado pelo Ministério Público espanhol por suspeitas de lavagem de dinheiro. Na terça-feira, os investigadores espanhóis fizeram buscas em 15 propriedades, identificou centenas de propriedades em nome de ou associadas a Rifaat avaliadas em cerca de 690 milhões de euros e ordenou o congelamento de 16 contas bancárias de pessoas ligadas ao sírio e de outras 76 empresas.
Rifaat al-Assad é o irmão mais novo do antigo Presidente da Síria, Hafez al-Assad. Ficou conhecido sobretudo pela forma como esmagou violentamente a tentativa de sublevação comandada pela Irmandade Muçulmana, na Síria, em 1982, naquele que ficou conhecido como o Massacre de Hama. A Amnistia Internacional estima que nesse massacre tenham morrido cerca de 10 mil a 25 mil, a maioria civis.
Um ano depois, em 1983, na sequência de uma tentativa de golpe de estado falhada contra o próprio irmão, Rifaat acabou exilado em França e mais tarde em Espanha. Acredita-se que tenha recebido mais de 300 milhões de dólares dos cofres do Estado para sair do país. Foi com esse dinheiro que começou a construir o seu império imobiliário, através de restaurantes e hotéis em destinos tão diferentes como Espanha, França, Curaçao, Lichestein ou Luxemburgo.
Agora, uma recente investigação conjunta conduzida pelas autoridades espanholas e francesas parece ter descoberto o rasto de parte do dinheiro escondido por Rifaat: o sírio terá usado Gibraltar, território oficialmente britânico, localizado no extremo sul da Península Ibérica, para esconder parte do património conseguido com um complexo esquema de lavagem de dinheiro, como explica o El Español.
Em 2016, o mesmo Rifaat al-Assad foi acusado de desvio de fundos públicos e de branqueamento de capitais pela justiça francesa. Os investigadores estimam que Rifaat tenha um património de 90 milhões de euros em França.
De resto, esta operação nasceu precisamente em França, em 2014, depois de uma denúncia de várias associações sírias contra a pilhagem dos cofres públicos do seu país pela família Al Assad. As autoridades francesas aliaram-se aos investigadores e a operação “Scar”, batizada em nome do vilão do filme Rei Leão, alargou-se também a Espanha. A operação envolve centenas de agentes, recurso a escutas telefónicas e trabalho de vigilância. As buscas de terça-feira são apenas a ponta do icebergue.