A venda de divisas pelo Banco Nacional de Angola (BNA) à banca comercial mais do que duplicou na primeira semana de abril, para 224,2 milhões de euros, após valores próximos de mínimos do ano na semana anterior. A informação consta do relatório semanal do BNA sobre a evolução dos mercados monetário e cambial entre 3 e 7 de abril, e surge após os 98,9 milhões de euros e 493,7 milhões de euros das duas semanas anteriores.

Segundo o documento, consultado pela Lusa, as divisas disponibilizadas – mantêm-se exclusivamente em euros há mais um ano -, em vendas diretas equivalentes a 250,5 milhões de dólares, cobriram novamente as necessidades de divisas do setor petrolífero (58,2 milhões de euros), da indústria (27,9 milhões de euros), da agricultura (17,8 milhões de euros), dos transportes (sete milhões de euros) e da saúde (5,9 milhões de euros).

Foram igualmente disponibilizadas divisas novamente para a importação de alimentos (56,4 milhões de euros) e para o setor das telecomunicações (5,4 milhões de euros).

Angola enfrenta desde finais de 2014 uma crise financeira e económica, com a forte quebra das receitas com a exportação de petróleo devido à redução da cotação internacional do barril de crude, tendo em curso várias medidas de austeridade. Esta conjuntura levou a uma forte quebra na entrada de divisas no país e a limitações no acesso a moeda estrangeira aos balcões dos bancos, dificultando as importações.

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Além disso, devido à suspensão de acordos com bancos estrangeiros para correspondentes bancários para compra de dólares desde 2016, a banca angolana apenas consegue comprar divisas ao BNA, no caso euros, como explicou na semana passada o governador do BNA.

“Não poderíamos ter o azar de os bancos correspondentes deixarem de fazer operações em euros. E havia este risco. Já perdemos as operações em dólares. Se perdêssemos as operações em euros era uma catástrofe para Angola, porque Angola deixaria de importar medicamentos, alimentação e todos os outros produtos necessários”, explicou Valter Filipe.

Na mesma entrevista, à rádio e televisão públicas angolanas, o governador do BNA admitiu que a redução do preço do barril do petróleo em 60%, durante os anos de 2014 e 2015, levou a uma crise económica e financeira com impactos também a nível cambial, com o país a “perder” as suas reservas internacionais.

“Em menos de seis meses, Angola entraria em situação de crise cambial. Em outros termos, Angola deixaria de ter dinheiro suficiente para importar as mercadorias necessárias para o consumo interno”, disse ainda Valter Filipe, justificando desta forma as restrições impostas à venda de divisas nos bancos comerciais desde 2015.

A taxa de câmbio média de referência de venda do mercado cambial primário, apurada pelo banco central no final da última semana manteve-se inalterada nos 166,737 kwanzas por cada dólar e nos 186,291 kwanzas por cada euro. No mercado de rua, a única alternativa, embora ilegal, face à falta de divisas aos balcões dos bancos, cada dólar norte-americano custa à volta de 370 kwanzas.