O cardeal patriarca de Lisboa, Manuel Clemente, exortou este domingo os fiéis a esvaziarem-se de si próprios e a acolher os outros, tal como fez Jesus Cristo, durante a homilia da Eucaristia Pascal, celebrada hoje na Sé de Lisboa.

Na Eucaristia Pascal, a principal celebração do ano litúrgico para os católicos, Manuel Clemente afirmou que Jesus Cristo, cumprindo a vontade de Deus no mundo, se “esvaziou de si em função dos outros”, morreu “para que os outros possam ser” e ressuscitou “para que o mundo lhe regresse e se recrie na única maneira garantida”.

O bispo de Lisboa destacou que este esvaziamento não é fácil para os homens, “que espontaneamente, para não dizer teimosamente”, resistem “muito na coincidência”.

“Preferimos partir do que temos mais à mão, isto é, de nós próprios. Da nossa ambição de ser naturalmente mais, se possível melhor, de melhorias nossas e nem sempre de todos e ainda menos para todos, mais fortes mais afirmados, mais seguros, mais tudo”, afirmou.

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“É espontâneo, é natural se quisermos. Mas sendo tanto que nos pode levar a vida toda, não chega. Dramática e até tragicamente não chega. Mais ainda pode obrigar a gastos e desgastes sem sentido, a ilusões sem futuro e a concessões indevidas”, acrescentou.

Manuel Clemente lembrou que “o próprio Jesus foi sujeito a tal tentação quando lhe foram propostos todos os reinos do mundo com a sua glória, a troco de uma adoração impossível”, mas ensinou os homens, quando respondeu não às tentações de Satanás.

O cardeal patriarca lembrou ainda palavras de São Paulo, que há quase dois mil anos exortou os fiéis a terem “os mesmos sentimentos que estão em Cristo Jesus”.

“A exortação de São Paulo é um apelo pascal (…) Alcança inteiramente a vida aquele que inteiramente a dá. (…) Refletida aqui a própria verdade de Deus uno e trino, Trindade em comunhão de uma única vida partilhada, porque esperamos agora para a exercitar em nós? (…) Prossigamos então dando lugar aos outros, fazendo-nos até lugar para os outros. Onde sejam acolhidos, atendidos e correspondidos, nas várias necessidades e urgências. Ganhemo-nos neles, ressuscitemos com todos e para todos”, exortou.

Para Manuel Clemente, Cristo pode manifestar-se aos homens “como se manifestou aos discípulos ou como pode fazer em qualquer espaço e tempo, mas sempre como sinal de uma existência perfeita”, e “os olhos da fé iluminados pelo encontro, convertidos na partilha, são mais claros e profundos”.

“Tudo para todos, espera-nos em cada um como apelo pascal. Para também nos esvaziarmos, descentrarmos, compartilharmos. A Páscoa é um caminho aberto na interpelação de cada encontro, dia a dia”, concluiu.