Uma avioneta caiu esta segunda-feira em Tires, no concelho de Cascais, poucos minutos depois de ter descolado do aeródromo daquela localidade. A aeronave despenhou-se no parque de estacionamento de cargas e descargas de um supermercado de Tires, causando a morte a cinco pessoas: os quatro tripulantes da avioneta (um suíço e três franceses) e ainda o homem que estava a descarregar os produtos do camião para o interior da loja.

O Observador esteve no local e ouviu quatro testemunhas que viram tudo o que aconteceu. Contam como ouviram uma explosão que “parecia uma bomba”, depois de a avioneta azul e branca dar “duas piruetas” antes de cair, e elogiam a presença de Marcelo Rebelo de Sousa: “isto é que é um presidente”

Luís Ramos: “Só a vi a bater e a fazer aquela fumaça toda”

Luís Ramos, dono de uma oficina de azulejos pintados à mão mesmo em frente ao Lidl de Tires, estava à porta de casa, preparado para ir comprar pão, quando olhou para o supermercado e viu “uma avioneta aos ziguezagues”. Eram precisamente 12h07 — “tinha acabado de acertar o relógio”, conta.

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“Nem vi se era azul, se era vermelha, se era o quê. Foi tão rápido. Vinha ali da zona do aeródromo, já a descer, só a vi a bater e a fazer aquela fumaça toda”, detalha. Assustado, ficou a olhar para o supermercado em chamas durante uns minutos até que voltou para dentro. “Apanhei um susto tão grande que até chorei”, acrescenta. Sobretudo porque o irmão vive na zona onde o avião caiu. “Está a arder a casa junto à casa do meu irmão, mas já lhe liguei e não aconteceu nada com ele.”

Luís Ramos acabara de acertar o relógio quando assistiu à queda da avioneta (Imagem: HENRIQUE CASINHAS/OBSERVADOR)

Sobre a visita do Presidente da República, Luís garante: “Isto é que é um Presidente. Vejam o que é este homem, houve um acidente e ele vem cá estar com as pessoas. Não é nada como os anteriores”. A queda de avionetas em Tires não é, infelizmente, uma novidade. “Até tenho um seguro que cobre a queda de avionetas”, afirma Luís Ramos, que se lembra bem das últimos acidentes. “Uma vez caiu uma lá em baixo, numa quinta perto do aeródromo, mas aí ninguém morreu porque ele teve tempo de manobrar o avião”, recorda.

Alberto Mendes Cardoso: “Vi gente a correr lá para fora e a deixar os sacos para trás”

No local do acidente, o Observador encontrou também Alberto Mendes Cardoso, 77 anos. “Vivo nesta rua mesmo em frente do Lidl. Venho aqui às compras todos os dias”, começa por contar.

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Depois, recorda o acidente desta manhã: “Estava no interior do supermercado quando ouvi umas coisas a bater. Como já estava a pagar o pão, sai cá para fora e já estava no parque de estacionamento quando ouvi um grande estrondo. Virei-me e vi gente a correr para lá para fora e a deixar os sacos para trás. Olhei para trás e vejo o fogo e as pessoas a correr, a fugir do supermercado.”

Quanto ao acidente, não é algo que surpreenda o morador. “Já têm caído mais aviões aqui, já tenho visto ali mais acima por causa do aeródromo, que é mesmo ao lado. Mas desta vez como foi numa zona residencial, foi pior”, explica.

Joaquim Rosa: “Parecia uma bomba”

Joaquim Rosa veio do Alentejo para Tires numa altura em que não havia nem casas nem Lidl nesta terra. A idade já nem a sabe bem – “deixei o cartão em casa”, conta. Os dias são passados pelas ruas de Tires. “Levanto-me de manhã, lavo a cara e bebo um café. Depois, dou uma volta por aqui até ir almoçar”, descreve Joaquim. “À tarde, dou outra volta.”

Joaquim Rosa é natural do Alentejo, mas vive em Tires desde que para lá foi trabalhar há vários anos (Imagem: HENRIQUE CASINHAS/OBSERVADOR)

Esta segunda-feira, a volta da manhã foi interrompida com estrondo. Sentado num dos muros que ladeiam o parque de cargas e descargas do supermercado para se abrigar do calor, Joaquim Rosa estava a ouvir as notícias num pequeno rádio de bolso quando viu a avioneta cair em cima de um camião mesmo em frente aos seus olhos. “Vinha assim [abana os braços em ziguezague], vinha tão baixinha que parecia mesmo vir a cair”, lembra. “Caiu em cima de um camião que estava a descarregar. Começou a deitar fumo, parecia mesmo uma bomba”, conta.

“O pessoal que estava lá começou todo a fugir. Ainda vi aquilo arder um bocadinho mas depois vim embora”, explica Joaquim, que, em vez da volta da tarde, tem estado discretamente sentado num muro em frente ao supermercado. Sobre o perigo iminente em Tires, Joaquim Rosa também recorda bem os acidentes recentes, especialmente o último, “ali numa hora junto ao aeródromo”. “É um perigo andarem para aí a levantar e a aterrar”, comenta.

Alexandre Coelho: “Fez duas piruetas e caiu”

O trânsito esteve esta segunda-feira impedido na zona do Lidl de Tires, enquanto os destroços foram retirados do local. (Imagem: HENRIQUE CASINHAS/OBSERVADOR)

Alexandre Coelho observou a avioneta a cair enquanto estava junto à escola primária, perto do supermercado. “Era um avião branco e azul clarinho, vinha muito baixo”, descreve. A dada altura, “parece que levantou a parte traseira, ficou embicado para o chão, fez duas piruetas e caiu”. Inicialmente “até pensei que estava a fazer acrobacias, mas depois pensei que seria demasiado baixinho”.

“Assim que caiu, fez logo uma grande nuvem de fumo preto. Passado dois minutos, ouvi duas explosões muito grandes”, conta recorda.

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