O ritmo de crescimento da economia portuguesa vai acelerar para 1,7% em 2017, mas abrandará para 1,5% no ano seguinte, de acordo com as projeções elaboradas pelo Fundo Monetário Internacional, divulgadas nesta terça-feira através do World Economic Outlook. Os números da organização, que lançam um olhar mais otimista sobre a economia global em comparação com as previsões anteriores, traçam, no caso específico de Portugal, um cenário menos favorável do que aquele que foi assumido pelo Governo no Programa de Estabilidade apresentado na semana passada, apesar de reverem em alta a avaliação para 2017 que, em fevereiro, fora fixada em 1,3%.

No documento do Governo, a projeção de crescimento do produto interno bruto para este ano é de 1,8%, ligeiramente mais positiva do aquela que é antecipada pelo FMI. A grande divergência surge nas previsões para 2018. No Programa de Estabilidade, o Ministério das Finanças inscreveu um desempenho de 1,9% para o próximo ano, num quadro de aceleração progressiva da atividade até atingir 2,1% em 2020, do qual depende, em boa parte, o cumprimento das metas orçamentais. Isto significa que entre a projeção mais cautelosa do FMI e a previsão mais otimista do Governo existe uma diferença de 0,4 pontos percentuais.

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Do ponto de vista do Fundo, Portugal vai crescer, em 2017, a par da média da zona euro, para a qual a organização prevê, também, uma taxa de evolução de 1,7%. Mas, a verificarem-se, as previsões do FMI apontam para um abrandamento mais forte na economia portuguesa, em 2018, do que aquele que é esperado para o conjunto dos 19 países que integram a moeda única europeia. O bloco do euro abrandará para 1,6% no próximo ano, afirma o FMI, uma taxa de crescimento muito inferior àquela que é aguardada para a economia global e mais modesta no confronto com o ritmo que a organização sediada em Washington antecipa para o conjunto da Europa, na ordem de 2% para os dois exercícios em análise.

Nas previsões para o comportamento da taxa de desemprego, o FMI espera uma descida, tendência que o Governo também contemplou na projeções que incluiu no Programa de Estabilidade. O ritmo da melhoria é que difere. Enquanto as previsões que sustentam o documento do Executivo referem que o desemprego cairá para um nível inferior a 10% já em 2017, com a taxa a situar-se em 9,9%, o Fundo acredita que o indicador recuará para 10,6% durante este ano e para 10,1% em 2018.

Inflação abaixo de 2%. BCE pode ter de reforçar estímulos

A inflação na zona euro vai manter-se abaixo do objetivo próximo de 2% perseguido pelo Banco Central Europeu (BCE), com valores de 1,7% em 2017 e de 1,5% no ano seguinte. Esta circunstância leva o FMI a considerar que a autoridade monetária de Frankfurt deverá manter uma atuação “acomodatícia”, além de admitir que poderão ser necessárias medidas adicionais de estímulo à economia no caso de aquela meta continuar longe de ser cumprida, a par da manutenção de ritmos de crescimento anémicos, com diversas economias da moeda única a operar abaixo da capacidade potencial.

O contributo da política monetária, assinala o Fundo, é tido como insuficiente para reanimar a zona euro. Na perspetiva do FMI, a atuação do BCE será mais “eficaz” se for sustentada por medidas de “limpeza” dos balanços dos bancos e de reforço do setor financeiro, bem como através da utilização de estímulos orçamentais, onde houver margem para os concretizar, e de uma aceleração das reformas estruturais.

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A propósito da necessidade de incentivos através da política orçamental, a organização liderada por Christine Lagarde cita um caso concreto. No World Economic Outlook, considera: “em países com margem orçamental, como a Alemanha, a política orçamental devia ser orientada para o reforço da capacidade produtiva, bem como da procura”.

Uma atuação daquela natureza ajudaria a reduzir o superávite da balança corrente e de capital alemã, sustentaria um reequilíbrio na zona euro e geraria um efeito positivo de arrastamento da procura noutras economias. A esta sugestão dirigida a Berlim, o FMI soma outra, endereçada às autoridades europeias, ao considerar ser necessário mais investimento em infraestruturas públicas, o que ajudaria aqueles países, entre os quais se inclui Portugal, que não dispõem de margem orçamental ou que necessitam de fazer um processo de consolidação das finanças públicas por causa do fardo de dívidas elevadas e em crescimento.

O FMI também defende que a integração dos refugiados na força laboral europeia devia ser facilitada. Aconselha um processamento rápido das candidaturas, ensino de línguas e apoio na procura de emprego, melhorias na identificação das competências através de sistemas de credenciação e apoios aos migrantes empreendedores.

Economia global. Previsão de crescimento revista em alta

O cenário menos animador para o conjunto da economia da zona euro contrasta com as perspetivas do Fundo para a economia global. As previsões de abril foram revistas em alta em relação ao outlook divulgado em outubro de 2016. Agora, o FMI antecipa que o ritmo da atividade mundial vá acelerar para 3,5% em 2017 e 3,6% no próximo ano, depois de ter evoluído 3,1% no ano passado.

A melhoria do ritmo de crescimento tem por base os Estados Unidos mas, também, as economias emergentes e em vias de desenvolvimento, conjunto de nações onde a atividade vai ter um desempenho de 4,5% e 4,8%, acima daquele que é esperado para a economia global. Rússia e Brasil escaparão da recessão durante 2017, a Índia terá um comportamento mais positivo durante os dois anos para os quais o Fundo faz previsões, enquanto a China terá uma performance inferior à de 2016 mas, ainda assim, superior a 6%.

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O otimismo evidenciado pelos números não consegue esconder alguns riscos que pendem sobre a saúde da economia global a médio prazo. O FMI identifica problemas estruturais, que vão persistir, como o “baixo crescimento da produtividade e uma desigualdade elevada na distribuição do rendimento”. O protecionismo também faz parte das fontes de perigo, porque ameaça o processo de integração da economia global e a ordem económica cooperativa mundial, lançando uma ameaça sobre as economias emergentes e em vias de desenvolvimento, em particular.

A evolução da política monetária norte-americana é outro dos potenciais fatores de risco. “Um ritmo de subida das taxas de juro nos Estados Unidos mais rápido do que aquele que é esperado poderia apertar as condições financeiras noutros mercados” e a apreciação do dólar poderá prejudicar, uma vez mais, as economias emergentes e em vias de desenvolvimento, aquelas que se mostram mais vulneráveis a uma subida da taxa de câmbio da moeda norte-americana. A estes perigos, o FMI acrescenta as tensões geopolíticas em regiões como o Médio Oriente e o Norte de África.