Em 1988, o informático Wes Cherry era estagiário na Microsoft e foi lá que criou, nos seus tempos mortos, um jogo que iria mudar a vida de milhões de procrastinadores em todo o mundo: o Solitário. A adaptação para computador do clássico jogo individual de cartas não partiu de uma estratégia da empresa, mas sim da iniciativa de um estagiário entediado.
“Como não havia muitos jogos naquela altura, nós tínhamos de os inventar”, conta Wes Cherry numa entrevista que deu ao site Great Big Thing na sua casa em Vashon Island, estado de Washington. Numa altura em que a maioria das famílias ainda não tinha computador em casa, a versão informática da “paciência” passou a ser incluída no pacote inicial de jogos da versão 3.0 do sistema Windows, em 1990. Para tal, foi essencial a aprovação de Bill Gates, fundador da Microsoft, que, no entanto, considerava o jogo “demasiado difícil”. Pelo comentário, presume-se que Gates raras vezes terá visto a cascata de cartas que premiava os jogadores que conseguiam arrumar, por ordem crescente, todas as cartas dos quatro naipes.
Na altura, o jogo foi apresentado como uma forma de treino para o uso do rato. Na prática, foi sempre motivo para horas e horas de tempo perdido, em casa ou no emprego. Wes, que não recebeu qualquer pagamento pela invenção, tinha até introduzido um comando que protegia os procrastinadores — com um simples premir de uma tecla, abria-se uma folha de cálculo falsa, caso o chefe se aproximasse — mas a Microsoft fê-lo retirar essa opção.
Ironia do destino: o homem que criou um produto que todos associamos ao Windows da Microsoft hoje trabalha com maçãs (em inglês, “apple” — diz-lhe alguma coisa?). Wes Cherry e a sua mulher, Laura, cultivam maçãs para fazer cidra (são responsáveis pela marca Dragon’s Head Cider) e têm um filho, Quentin, de oito anos.