Treze anos, 20 novas estações, que levariam o Metro de Lisboa até Sacavém, Algés ou Loures, sem esquecer Campo de Ourique, Campolide e Alcântara Terra. Os planos do CDS para a expansão do Metro de Lisboa — a grande bandeira do partido para as autárquicas de outubro — preveem que, até 2030, a rede possa ser alvo de um alargamento de mais de um terço face ao número atual de estações.
Foi a grande surpresa do debate quinzenal. Assunção Cristas, que é candidata à presidência da Câmara de Lisboa, apresentou uma alternativa para a expansão do Metro de Lisboa, mostrando um plano mais arrojado e generoso do que aquele que foi anunciado esta semana pelo Governo. Em declarações ao Observador, a líder do CDS-PP admite que a proposta que tem em cima da mesa para apresentar aos lisboetas (e ao Governo) assenta num calendário “ambicioso” para a expansão. Cristas adianta que o partido fez a avaliação dos custos, mas ainda não divulgou essa informação.
“Ou há rasgo, horizonte e ambição para o metro de Lisboa ou os problemas da área metropolitana não se vão resolver (… ) A nossa proposta são 20 novas estações para o metro de Lisboa e espero que possam ser estudadas, planeadas, financiadas e tratadas.”
O plano é não apenas “ambicioso”, mas também “necessário”, considera João Gonçalves Pereira, atual vereador do CDS na capital. O centrista sublinha a importância do projeto — que surge integrado num conceito mais lato, o da “mobilidade” em Lisboa, o ponto forte da campanha do partido — e destaca que, “à cabeça”, na discussão da proposta do CDS, terá sempre de surgir o Governo.
Os centristas estão conscientes da dimensão da proposta que a líder divulgou esta quarta-feira. No plano oficial, o CDS fala num projeto a concretizar “no médio prazo”. Até porque, a avançar nos moldes apresentados por Cristas, o alargamento da rede passaria por mais de um quadro de apoio comunitário — além de quatro mandatos autárquicos –, o que poderia trazer dificuldades ao calendário idealizado. Mas o Observador sabe que, em termos ideais, no melhor cenário haveria 20 novas estações a funcionar nos próximos treze anos.
Se olharmos para trás, para os últimos treze anos, verificamos que o ritmo de aberturas “ideal” é quase o dobro das 11 novas estações que foram inauguradas desde 2003, ainda que neste período tenha sido feita uma importante extensão do metro, a ligação entre as estações de S. Sebastião, Saldanha e Alameda.
Por outro lado, muitas da aberturas que aconteceram neste período resultaram de projetos com muito tempo de planeamento e execução e muitas surpresas negativas na fase de construção, como aconteceu no Terreiro do Paço. A extensão da Linha Vermelha ao aeroporto demorou cerca de oito anos a ficar pronta depois de anunciada. A crise financeira e do Estado travaram os planos de expansão, até no papel, nos últimos anos.
20 contra 4, duas decididas e duas sem data
Em vez de quatro novas estações, duas decididas e para fazer até 2022 e duas em estudo e sem data anunciadas esta semana, a proposta da líder do CDS contempla 20 novas estações, num plano de longo prazo. Para além das quatro apresentadas pelo Executivo — Santos e Estrela já decididas e Campo de Ourique e Amoreiras em estudo e sem data — a Linha Vermelha iria crescer até Algés, passando por Campolide, Prazeres, Alvito (ligando à estação ferroviária a caminho da ponte 25 de Abril), Alcântara Terra, Santo Amaro, Ajuda, Belém e Algés, em paralelo com a Linha de Cascais. Na direção contrária, a Linha Vermelha iria crescer para a Portela e Sacavém.
A Linha Amarela ia crescer para Santo António de Cavaleiros, Frielas e Loures, para além de chegar à Linha Verde no Cais do Sodré com as já referidas Estrela e Santos. A Linha Verde continuaria para F. Namora, Srª da Luz e Padre Cruz até cruzar com a Linha Azul na Pontinha. Esta linha teria duas novas estações a partir do Colégio Militar, Uruguai e Benfica. Está ainda prevista a ligação da Linha Verde no Campo Grande ao Aeroporto, que está a ser estudado pelo Metro de Lisboa.
No calor do debate com o primeiro-ministro, não foram revelados os valores de investimento, nem o calendário para a execução desta expansão — que o Observador apurou mais tarde — ou o número de quilómetros que seria acrescentado. Já em número de estações, o projeto representa um crescimento de 36% face à atual rede do metro que chegaria a dois novos concelhos, Loures e Oeiras (Algés).
Alargamento não é “prioridade” para o PSD
Teresa Leal Coelho não estava no hemiciclo quando Assunção Cristas puxou do cartaz que tinha em cima da bancada, preparado para a revelação. E o primeiro-ministro deu nota disso mesmo. “Não é muito leal” fazer essa apresentação quando a candidata do PSD, Teresa Leal Coelho, não estava na sala.
A social-democrata só teve conhecimento da proposta de campanha do CDS, e em traços muitos largos, mais tarde. Aos jornalistas, nos corredores do Parlamento, a cabeça-de-lista do PSD à autarquia disse considerar que “o alargamento do Metro é bom para a cidade” e até “é necessário”, mas não neste momento. Essa, sublinha, não é uma “prioridade” para o partido — ainda que os sociais-democratas estejam a “estudar” a viabilidade de avançar até 2021 (durante o próximo mandato, portanto) com o alargamento.
Neste momento, estamos numa circunstância em que o serviço prestado pelo Metro perdeu muita qualidade porque às composições foram retiradas duas carruagens (no tempo do Governo PSD/CDS) e porque se alargou o tempo que intermedeia entre [a passagem de] cada uma das composições”, disse Teresa Leal Coelho.
Antes de pensar em expandir a rede, o PSD quer apostar na melhoria da qualidade do serviço prestado. “Essa é a prioridade, pegar no metro que temos e pô-lo a trabalhar em condições”, diz a social-democrata. Como? Revendo horários, aumentando o número de composições a circular e reabilitando as carruagens paradas nos estaleiros, à espera de serem recuperadas.
Recusando comentar a proposta do CDS, que, insistiu a vice-presidente diversas vezes, não conhecia em concreto, ficou no ar a crítica à proposta dos centristas, em particular quando Teresa Leal Coelho defendeu que é preciso “encarar com realismo as questões de natureza financeira”. Ainda que “necessário”, e estando “no horizonte” da intervenção que o PSD pretende fazer na capital, esse não será um projeto para concretizar “no imediato”.