A violência no centro de África, entre muçulmanos e cristãos, é motivo de preocupação de peregrinos católicos africanos esta quinta feira no Santuário de Fátima, que prometem rezar pela paz no continente.

Os muçulmanos estão a ganhar terreno e há demasiada violência entre duas religiões que deveriam ser pacíficas”, diz Jean-Pierre Bambo, que integra um grupo de 30 peregrinos gaboneses em Fátima para assistir à celebração dos cem anos das “aparições” na Cova da Iria, que contará com a presença do papa Francisco.

O grupo vindo de Libreville, no Gabão, não é muito grande, mas é já costume a realização de uma peregrinação anual pelos santuários marianos europeus. Este ano, o grupo vai rezar juntando-se ao papa Francisco nas orações pela paz. Só que, neste caso, a violência em África é uma das preocupações, particularmente na zona central do continente, onde são cada vez mais frequentes os confrontos entre muçulmanos e cristãos ou animistas.

Exemplo disso é a República Centro-Africana, um país dividido por uma guerra civil motivada por questões religiosas, com confrontos de milícias cristãs (anti-balaka) e muçulmanas (Séleka), que causaram milhares de mortos e obrigaram à intervenção dos países vizinhos.

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Vindo da República Centro-Africana e a viver em França há quase três anos, Jeannin Abey olha com tristeza para o caos em que o seu país se transformou.

Os Séleka destruíram tudo, mataram muita gente e violaram muitas mulheres para terem filhos muçulmanos”, diz Abey, que fugiu com o filho do país.

“Eu venho rezar por África e pelo meu país. Não merecemos isto”, diz, enquanto segura uma pequena estátua de uma nossa senhora negra.

Já Ondimba Neto, dos Camarões, queixa-se do proselitismo dos muçulmanos no continente, nomeadamente nas zonas em que já existiam comunidades cristãs estabelecidas.

Os muçulmanos são muito agressivos, nós temos de nos converter se queremos casar com eles. E como eles têm muito dinheiro, há muitos cristãos que dão as filhas para casar com muçulmanos”, explica o camaronês, que decidiu vir a Fátima pela primeira vez por causa de Francisco.

“O papa tem um discurso que é importante. Apela à paz. Mas é importante que os crentes de outras fés o oiçam”, alerta.