O homem suspeito de atear o incêndio florestal no Funchal, em agosto de 2016, admitiu a autoria do crime no primeiro interrogatório, mas esta quarta-feira, no início do julgamento na Instância Central da Comarca da Madeira, remeteu-se ao silêncio.

“Naquele dia não estava em mim. Tinha bebido. Bebi um pedaço e tomei pastilhas, calmantes”, disse Paulo Gonçalves, de 24 anos, que está em prisão preventiva e responde por um crime de incêndio florestal agravado e três crimes de homicídio por negligência.

As declarações do arguido no primeiro interrogatório, no dia 10 de agosto de 2016, foram reproduzidas a pedido do Ministério Público, no decurso do julgamento em que o coletivo de juízes é presidido por Filipe Câmara.

O arguido é suspeito de, a 8 de agosto, na freguesia de São Roque, nos arredores do Funchal, ter posto fogo numa área florestal que, devido às condições atmosféricas [altas temperaturas (37 graus centígrados), tempo seco e vento forte (70 quilómetros/hora)] que se propagou a uma vasta área do concelho.

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No dia 9 de agosto, o fogo atingiu áreas no centro do Funchal e três mulheres morreram carbonizadas nas suas residências.

Fogo no Funchal. Três mortos, mil desalojados

Paulo Gonçalves foi detido no dia em que o incêndio deflagrou e logo se tornaram conhecidos os seus antecedentes criminais, onde constava um julgamento efetuado em 2010, em que foi absolvido da acusação de provocar um incêndio nas instalações de uma empresa na freguesia de Santo António, juntamente com outras três pessoas.

Na leitura dos factos referentes ao incêndio de agosto de 2016, o juiz Filipe Câmara referiu que o arguido agiu “em consciência, de livre vontade e deliberadamente”, sabendo que o fogo iria assumir grandes proporções, pondo em perigo pessoas e bens.

No entanto, quando foi ouvido em sede de interrogatório no tribunal de Instrução Criminal, o arguido alegou que só queria “limpar o mato”, perto da casa onde vivia.

O resultado, no entanto, foi um incêndio de enormes proporções, que provocou a morte de três pessoas, 600 desalojados e deslocados, danos em três centenas de casas e uma vasta área florestal devastada, tendo os prejuízos sido avaliados em 157 milhões de euros pelo Governo Regional da Madeira.

O juiz Filipe Câmara lembrou, ainda, que 230 pessoas foram retiradas de dois hospitais e vários hotéis foram evacuados.

O tribunal iniciou esta quarta-feira a audição de testemunhas.