Começa a ser quase impossível escrever sobre Ronaldo. E não, não faltam palavras. Faltam é limites. Porque quando se escreve que ele marcou um golo, já está a preparar o segundo. Quando se diz que bateu um recorde, está a escrever com os pés e com a cabeça o próximo. É o melhor dos melhores entre os melhores. E conseguiu esta noite em Cardiff ganhar mais do que a quarta Liga dos Campeões da carreira; conquistou a quinta Bola de Ouro e, em janeiro, na cidade de Zurique, vai igualar Lionel Messi como recordista do troféu. Dúvidas? Há uma mão cheia de razões para isso. E muitas mais que irão surgir até ao final do ano. Afinal, ainda estamos no início de junho…

Quando ganha a Champions, recebe a Bola de Ouro

Bem ou mal, a luta pela Bola de Ouro tornou-se um binómio: ou ganha Ronaldo e Messi fica em segundo, ou ganha Messi e Ronaldo fica em segundo. Um dos pontos que costuma desequilibrar as contas é a Liga dos Campeões (se bem que, no ano passado, o Europeu de seleções também deve ter dado a sua ajuda) e a verdade é que três dos quatro prémios que o português tem vieram em ano de triunfo na Champions: 2008, 2014 e 2016 (2013 foi a exceção, mas o único prémio que o Bayern teve foi colocar Ribery em terceiro nesta classificação). Agora, se juntarmos a isso o Campeonato de Espanha (e quiçá a Taça das Confederações), não há grandes dúvidas.

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Os hat-tricks nos jogos que mais interessavam

É uma daquelas coisas que se gostam de dizer mas ninguém sabe muito bem o porquê de se dizer: quando chega aos jogos a sério, Ronaldo rende menos. Vamos até fingir que a teoria cola. Olhamos para os números este ano e o que vemos: na sempre complicada deslocação ao Vicente Calderón, com o Atl. Madrid, hat-trick; na final do Mundial de Clubes, com o Kashima Antlers, hat-trick; na segunda mão dos quartos-de-final da Champions, com o Bayern, hat-trick; na primeira mão das meias-finais da Liga dos Campeões, hat-trick. Não marcou ao Barcelona? Pois não, mas assistiu. A verdade é que, quando era preciso, estava lá. Para marcar um, dois ou três golos. E, quando nada o fazia prever (pelo menos até à fase a eliminar), superou Messi como melhor marcador desta edição (12-11).

100 golos na Champions, 400 pelo Real Madrid, 600 no total

Que Ronaldo é uma máquina de fazer golos, todos sabiam. Mas esta foi uma temporada importante para ficar imortalizado no registo de recordes. Já não vai ser apenas aquele jogador que vamos contar aos nossos netos que marcava muito; agora, podemos abrir os livros e mostrar quantos marcava. Em 2017, o avançado tornou-se o primeiro a chegar aos 100 golos na Liga dos Campeões (e logo numa partida onde marcou três golos, ao Bayern) e também o primeiro a conseguir marcar 400 golos pelo Real Madrid, reforçando o estatuto de melhor marcador de todos os tempos dos merengues à frente de nomes como Raúl, Di Stéfano, Santanilla e Puskas. Com o bis desta noite, chegou também aos 600 golos entre Sporting (5), Manchester United (118), Real Madrid (406) e Portugal (71).

P.S. Podemos ainda acrescentar um outro registo histórico: hoje o Real Madrid atingiu o 500.º golo no formato atual da Champions. E quem marcou? Cristiano Ronaldo, claro…

Cinco finais, quatro troféus, golos em três decisões

O Millennium Stadium, em Cardiff, será sempre um palco especial para Cristiano Ronaldo: foi lá que, em 2004, na primeira época no Manchester United, conquistou o primeiro troféu nos red devils. E até marcou nessa final da Taça de Inglaterra, frente ao Milwall. Agora, tornou-se o primeiro jogador a marcar em três finais no atual formato da Champions, a principal prova europeia (se recuarmos até ao início da Taça dos Clubes Campeões Europeus, em 1955, só há um com mais… Di Stéfano): marcou um golo frente ao Chelsea, na final de 2008 (vitória do Manchester United nos penáltis por 6-5, após o 1-1 no final do prolongamento); marcou com um golo com o Atl. Madrid, na final de 2014 (triunfo do Real Madrid no prolongamento por 4-1); e marcou agora dois golos diante da Juventus.

Os elogios em crescendo no mundo do futebol

O que têm em comum Zidane, Kaká, Phil Neville, Gary Lineker, Rio Ferdinand, Alex Ferguson ou Maradona, entre outros? Todos consideram que Cristiano Ronaldo é melhor do que Messi. Mas nem sempre foi assim: durante muito tempo, o argentino, que não deixa de ser um extra-terrestre como o português, era visto como uma espécie de entidade intocável que, mesmo quando não ganhava títulos, não deixava de ser o número 1; hoje, seja por culpa do título no Europeu de seleções, pelos sucessos consecutivos na Champions ou pela constante quebra de recordes, o paradigma mudou. Até se pode argumentar que o 10 do Barcelona tem mais “talento natural”. Mas o 7 do Real Madrid trabalhou anos a fio para chegar ao topo. E todos (ou quase todos) reconhecem isso.