A terceira edição do FOLIO — Festival Literário Internacional de Óbidos vai ter um corte de 250 mil euros, verba que foi desviada para “a promoção do surf” na região, revelou o curador José Pinho ao Diário de Notícias.
Segundo o responsável, o financiamento tem vindo a ser reduzido desde a primeira edição do festival, em 2015. Este ano, a Comunidade Intermunicipal do Oeste, “que têm uma palavra a dizer sobre o destino das verbas”, “votou por maioria que o dinheiro que seria para atribuir ao Festival Literário de Óbidos iria desta vez para o surf”. “Passámos a ter zero euros do grande patrocinador que era o Turismo do Centro de Portugal”, afirmou José Pinho, da Ler Devagar.
No ano passado, o Presidente da Câmara Municipal de Óbidos, Humberto da Silva Marques, fez questão de deixar claro a importância do FOLIO para a economia local. “Algumas unidades hoteleiras falaram numa taxa de ocupação de 88%. Isso simboliza bem o impacto do ponto de vista económico”, disse ao Observador, por altura da inauguração do festival.
“De uma forma indireta, temos público nacional e internacional a visitar Óbidos que são agentes económicos e que podem fazer outcoming ou incoming de negócios em diferentes áreas. Trata-se de uma afirmação da marca Óbidos num contexto internacional. A UNESCO criou a chancela de cidade criativa da literatura o que nos abriu portas e nos permitiu estar em reunião com vários parceiros mundiais e com os quais estamos a trabalhar para a programação do próximo ano.”
Há um comboio literário que vai até Óbidos e o Oeste agradece
Apesar de o FOLIO ter perdido o seu principal patrocinador, o Turismo do Centro de Portugal, José Pinho garante que o festival vai continuar: “Vai haver terceiro Folio, e outros se seguirão“, disse ao Diário de Notícias, frisando que “se não há esse dinheiro, teremos de ir à procura dele”. Mas com algumas diferenças, claro. A diminuição no orçamento vai impedir que o FOLIO conte com a presença de um Prémio Nobel da Literatura, à semelhança dos anos anteriores.
Os curadores Anabela Mota Ribeiro e José José Eduardo Agualusa também se viram obrigados a abandonar o festival. Os dois vão, aliás, ser responsáveis pela curadoria da Feira do Livro do Porto, que se realiza de 1 a 17 de setembro. “Quando houve este corte nas verbas ficámos sem condições de lhes pagar aquilo que recebiam antes”, explicou o organizador. “Queríamos contar com eles mas não podíamos exigir que trabalhassem sem pagamento.”
A conferência de apresentação do FOLIO acontece esta sexta-feira, dia 8 de junho, em Lisboa. Ao Diário de Notícias, José Pinho adiantou alguns pormenores: o festival vai realizar-se entre 19 e 29 de outubro, em Óbidos, e terá como tema uma sugestão feita por Marcelo Rebelo de Sousa no ano passado, “Revolução, revolta e rebeldia”. No ano em que se assinala o centenário da Revolução Russa, o FOLIO promete estar virado para áreas como a história, a polícia e a sociologia. Já há várias mesas marcadas e parcerias firmadas com o Brasil, Espanha e Canadá.