Há um ditado que diz: se há uma canção a tocar é porque é perfeita para esse exacto momento. Bom, se calhar esse ditado não existe mesmo. Mas a partir desta segunda noite de NOS Primavera Sound bem que podia ficar instituído. Tudo graças a Nicolas Jaar. Sozinho no palco, entregue à bicharada que é todo aquele conjunto de sintetizadores que vai trabalhando, sai de Nova Iorque para tomar o mundo como um feiticeiro com a mania das grandezas. E é grande, lá isso é. Se não, atentemos no sucedido.

Nicolas Jaar faz o que quer e a malta agradece, bate palmas, diz que sim, chama os amigos que ainda não chegaram e convence os mais distraídos a ficarem mais um pouco e a beberem mais um copo.

Entrega-se decidido aos mais afoitos que acham que sabem dançar. Eles respondem com os movimentos de disconight sem charme, mesmo quando a música dá mais contracurvas que o corpo consegue aguentar entre um pé e outro.

Reduz as batidas por minuto e manda toda a gente seguir um pouco mais despacito. Dedica-se a experimentar em cima das próprias experiências que acabou de desenhar e todos lhe damos o tempo que ele precisa para chegar onde quer – mesmo que ele próprio ainda não esteja decidido do caminho que quer tomar.

É nervoso e emocional. Junta ruídos e sacode atmosferas. Junta todos os graves do mundo numa só nota, parte a escalada sonora com um silêncio sem aviso e depois volta à carga – e quem não estiver pronto que se aguente.

E tem canções pelo meio, tem voz e versos e mensagens para deixar. São de euforia quando calha e são de desespero quando é preciso. É bonito ver como há sempre alguém pronto para as receber: seja o mais destemido dos noctívagos que costuma subir às colunas para bailar; seja o desencantado que acabou de perder o fio à meada que é a vida. Também este teve a banda sonora ideal num concerto que fez a noite ainda mais escura mas só porque assim tinha de ser.

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