Alon esqueceu-se que tipo de droga era, mas lembra-se bem do dia: foi detido há dois anos por tráfico, um crime que motiva um quarto das entradas de jovens no Instituto de Menores de Macau.

Alon, como quer ser identificado, é um jovem de 17 anos que — como tantos outros da sua idade — gosta de futebol, em particular do clube espanhol Real Madrid e do craque português Cristiano Ronaldo, mas também de desenhar.

Foi parar ao Instituto de Menores (IM) por causa de “um ato estúpido”, de que diz estar “arrependido”, que foi aceitar transportar droga de Hong Kong para Macau, “por causa de dinheiro”, depois de “influenciado por amigos”.

Alon afirma já não recordar que tipo de droga era, mas lembra-se bem que foi em 10 de junho de 2015 que foi detido, com um amigo, no terminal marítimo.

O tráfico de estupefacientes representa o principal motivo de entrada no IM, com quatro de 16 jovens internados, seguido da criminalidade organizada (com dois), numa lista que se completa com outros delitos, como ofensa grave à integridade física, fogo posto ou furto — todos com um caso -, segundo dados oficiais facultados à agência Lusa.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Os 16 jovens internados no IM até 31 de março eram na esmagadora maioria do sexo masculino (15 rapazes e uma rapariga) e tinham entre 15 e 20 anos. Mais de dois terços eram naturais de Macau (11 jovens), com os restantes provenientes de Hong Kong (25% ou quatro) e um da China.

Natural de Hong Kong, Alon recebe a visita dos familiares apenas “uma vez por mês”, falando com mais frequência ao telefone com os pais, separados, e com o irmão mais novo, aos quais também escreve cartas. Também troca correspondência com uma amiga, descrevendo-lhe “a vida diária” e “as coisas que gostava de fazer e os sítios onde deseja ir com ela quando sair”.

O jovem deve deixar o Instituto de Menores no último trimestre do próximo ano, “se tudo correr bem”, isto é, se “continuar a manter o bom comportamento”, “caso contrário, a sua saída pode ser adiada”, podendo o tempo de permanência ir até cinco anos, segundo a lei, explica a diretora do Instituto de Menores, Ada Yu Pui Lam, ressalvando, porém, que tal “raramente” acontece.

Ao abrigo da lei, o internamento tem a duração mínima de um ano e a máxima de três anos, mas há exceções, dependentes de diferentes fatores, como a pena correspondente ao crime, mas também “o comportamento e as infrações disciplinares do jovem durante o internamento”.

Foi, aliás, o que sucedeu com Alon, que pouco depois entrar no IM cometeu a “infração” de se envolver num “conflito com outros colegas” e de “fazer desenhos na parede”, mas que mudou a sua forma de estar e tem tido “boas notas” na avaliação.

Cada jovem tem uma classificação e uma boa nota significa acesso a certas atividades, como ver televisão, ouvir rádio ou jogar xadrez, no âmbito de uma política pensada para incentivar o bom comportamento, que inclui um plano que premeia os melhores, ao abrigo do qual os jovens podem pedir determinado tipo de comida e objetos como cadernos, canetas ou toalhas.

A diretora confirma que funcionam muito à base de incentivos, embora destaque também a “vida disciplinada” no IM, com horas para levantar e deitar e para comer. Mesmo as atividades do fim de semana, como as desportivas, têm horas fixas, explica.

As aulas começam pelas 09h10 e terminam às 17h35, sendo as disciplinas de educação física e artes visuais as preferidas de Alon que, em contrapartida, não gosta de matemática. Depois de ter reprovado duas vezes, diz sentir-se agora “mais bem acompanhado”: “Lá fora divertia-me muito e cá dentro estou mais concentrado”.

Quando sair, provavelmente não irá frequentar a mesma escola devido à idade. “Talvez vá para uma escola noturna ou procurar emprego”, diz Alon, que quer ir para a universidade para um dia poder vir a ser professor primário.

A formação e reintegração dos jovens na sociedade figuram como as principais preocupações do IM, porque, como recorda a diretora, quando entram no estabelecimento são-lhes colocados “muitos rótulos”.

O IM conta com um psicólogo, quatro assistentes sociais e 35 monitores. Tem ainda um professor, sendo os restantes docentes destacados pela Direção dos Serviços de Educação e Juventude.

O Instituto de Menores tem capacidade para acolher 95 jovens. No entanto, pelo menos nos últimos cinco anos, o número de internados nunca superou a barreira dos 20, segundo os dados do IM, que funciona atualmente sob alçada da Direção dos Serviços Correcionais.