Enquanto houver narizes, haverá indústria da perfumaria. É o que se pode chamar de negócio garantido, ou não fossemos nós, humanos, seres que ligam cheiros às emoções. Porque os perfumes são muito mais do que um aroma agradável. São sentimentos e memórias, falam dos nossos sonhos, de intimidade, das pessoas que queremos ser e até daquilo que procuramos no sexo oposto. A sua indústria gera milhões todos os anos e agora também já poderá ter um berço em Portugal.
Acabada de inaugurar em Braga, a Nortempresa Perfume Lab é a primeira fábrica portuguesa inteiramente dedicada à produção de perfumes. Mas a sua história já se vinha a contar há uma década. “Nascemos em 2006, inicialmente como uma empresa dedicada ao marketing olfativo e à aromatização de espaços e criámos uma marca, Airquality, na altura pioneira em Portugal. Desenvolvemos, então, fragrâncias para eventos como o Rock in Rio, campanhas com cheiro a pão quente ou a bolachas de chocolate em supermercado, fizemos lançamentos de produtos… E o negócio foi crescendo e os clientes foram pedindo mais. Já tinham as suas lojas aromatizadas mas pediam-nos constantemente outro tipo de produtos como perfumes e velas. Surgiu aqui uma necessidade que tivemos de agarrar”, explica Daniel Vilaça, CEO & Founder da Nortempresa, ao Observador.
E agarraram bem porque desde logo apostaram em conceitos inovadores. Uma das primeiras coisas que a empresa explorou foi um Bar de Perfumes em Braga (chamado Ydentik Perfume Bar Concept), onde as garrafas estão viradas ao contrário, como se de um verdadeiro bar se tratasse, há luzes, música e um conceito de personalização do perfume onde cada pessoa pode criar a sua identidade. Estávamos em 2013 e três meses depois da abertura nascia a primeira loja “franchisada” em Matosinhos. No final do ano, a Ydentik já tinha aberto 19 lojas e a aceitação do conceito superou todas as expetativas. Em 2014 passaram a 32 lojas e em 2015 a 48. Neste momento, a rede já tem 52 lojas e está presente em sete países (Portugal, Espanha, Irlanda, França, Suíça, México e Tunísia).
Do cheirinho a pão quente à fábrica made in Portugal
“Admito que a experiência da equipa na perfumaria não era muita, mas considero que já tínhamos conhecimentos nas fragrâncias. Inicialmente recorremos a laboratórios especializados mas, em 2015, criámos um pequeno laboratório e começámos a fazer as nossas próprias criações”, partilha Daniel Vilaça. Inicialmente, o processo era bastante modesto: compravam a matéria prima e subcontratavam mão-de-obra em laboratórios de Espanha e França para a mistura das formulações. Mas foi a partir daqui que se fez magia.
“Com este pequeno laboratório começaram a surgir outras marcas a solicitar propostas para a criação de perfumes personalizados e surgiu a ideia de criarmos uma fábrica de raiz que pudesse satisfazer tanto as necessidades produtivas da Ydentik como das outras marcas que nos estavam a chegar”, diz o CEO. E chegámos a 2017. Em abril foi inaugurada a Nortempresa Perfume Lab, com uma capacidade produtiva superior a 20 mil perfumes por dia e que coloca o nosso país na rota da perfumaria internacional.
Para isso, foi feito um investimento superior a dois milhões de euros , o que inclui a tecnologia de ponta capaz de garantir a automatização dos processos. Com laboratórios próprios, a fábrica da Nortempresa tem ainda salas de produção, de maceração, linhas automáticas de enchimento e toda uma unidade produtiva equipada com a mais alta tecnologia existente no mercado e capaz de concorrer com os grandes laboratórios internacionais.
“A nossa fábrica está ao nível dos maiores players da indústria dos perfumes a nível europeu, quer em tecnologia, quer em capital humano. E Portugal está na moda. Os produtos made in Portugal estão conotados como produtos de elevada qualidade e apreciados internacionalmente”, diz Daniel Vilaça.
E somos realmente bons para fornecer as grandes casas da perfumaria? O fundador da fábrica abre um pouco o véu: “Temos uma equipa composta por profissionais especializados e por perfumistas, e uma forte aposta será o Private Label, com o objetivo de angariar grandes contratos de produção de perfumes para marcas, eventos e celebridades. Neste momento estamos já a produzir para algumas das grandes casas de perfumaria“, garante o CEO, sem querer revelar quais. “A verdade é que marcas como Hugo Boss ou Dolce & Gabbana não produzem perfumes e subcontratam empresas como a nossa. Ou seja, existe um grande mercado por explorar.”