As divisas vendidas pelo Banco Nacional de Angola (BNA) à banca comercial duplicaram no primeiro semestre deste ano, face ao mesmo período de 2016, ultrapassando os 6,8 mil milhões de euros disponibilizados entre janeiro e junho.
De acordo com dados do BNA compilados esta quinta-feira pela Lusa, trata-se de um aumento homólogo de 97%, face aos cerca de 3,4 mil milhões de euros em divisas disponibilizadas pelo banco central nos primeiros seis meses de 2016, na altura em moeda europeia e uma parte em dólares norte-americanos.
Entre janeiro e junho de 2017, as vendas de divisas aos bancos comerciais foram feitas apenas em euros, dadas as restrições impostas pela Reserva Federal norte-americana no acesso a dólares por parte de Angola.
O pico da injeção de divisas nos bancos angolanos atingiu-se em março último, quando os bancos angolanos conseguiram comprar ao BNA o equivalente a 1.962 milhões de euros, enquanto o valor mínimo registou-se em maio, com 585 milhões de euros.
O aumento das vendas de divisas pelo BNA tem acompanhado a quebra mensal, desde o início do ano, na inflação, que fechou 2016 com uma taxa superior a 40%, a 12 meses.
Angola vive desde finais de 2014 uma profunda crise financeira e económica, também com repercussões cambiais, devido à queda nas receitas com a exportação de petróleo, o que tem levado o BNA a utilizar as reservas internacionais para vender divisas aos bancos e assim garantir, nomeadamente, a importação de alimentos, máquinas e matéria-prima para as indústrias.
As Reservas Internacionais Líquidas (RIL) angolanas renovaram mínimos em maio, ao caírem no espaço de um mês mais de dois por cento, elevando a quebra desde o início da crise, em 2014, a 8.000 milhões de euros.
Ascendiam a 31 de maio de 2017 a 18.026 milhões de dólares (15.900 milhões de euros), segundo dados do BNA.
Na sexta-feira, o governador do banco central angolano, Valter Filipe, defendeu que a venda de divisas ao sistema financeiro do país, pelo BNA, devia ser feita apenas em “situação de crise” e de “forma muito prudente”.
Para Valter Filipe, o país pode continuar a disponibilizar divisas de forma regular, permanente e constante ao sistema financeiro, por via das suas reservas líquidas internacionais, por estar assim o Estado “a financiar de uma forma barata o sistema financeiro, as empresas e aquelas pessoas que têm acesso às divisas”.
Este mecanismo cria injustiça social, desequilíbrio social, faz com que tenhamos uma economia de importação, porque facilitamos os mecanismos de importação, facilitamos a estrutura de custo da importação e criamos uma economia vocacionada para a importação, é esse o contexto que hoje nós estamos”, frisou.
Ainda assim, Valter Filipe defendeu que o BNA vai continuar a disponibilizar divisas para o mercado, através do sistema financeiro, “mas olhando para o plano de negócios e de crédito dos bancos comerciais”, com garantias de que a prioridade é o setor da agricultura.