O genro de Donald Trump, Jared Kushner, vai garantir esta segunda-feira — perante o Comité de Serviços de Inteligência do Senado — que nunca teve “contactos impróprios“, não entrou em “conluio” nem conheceu “ninguém na campanha que entrou em conluio com qualquer governo estrangeiro“. Num documento que irá hoje ler aos senadores — divulgado pelos seus advogados e citado pelo New York Times — Kushner explica os detalhes da sua ida a uma reunião na Trump Tower com uma advogada russa que teria informações comprometedoras para Hillary Clinton.
Jared Kushner vai dizer, ao contrário do que já admitiu o filho mais velho de Donald Trump, que não tinha conhecimento que essa reunião (em junho de 2016) tinha por objetivo recolher informações negativas para a candidatura de Hillary Clinton, que era na altura adversária de Trump na corrida à Casa Branca. Além disso, o genro de Trump conta que chegou atrasado à reunião e que considerou a discussão tão desinteressante que enviou um email a uma assistente para lhe pedir ajuda para sair da reunião.
Kushner vai dizer ainda aos senadores que foi o filho do agora presidente dos EUA, Donald J. Trump Jr., que lhe pediu que fosse à reunião, embora vá igualmente garantir que não leu o email de Donald Jr. onde estava claro que o objetivo da reunião seria obter informações comprometedoras para Hillary.
O genro de Trump reconhece, no entanto, que após as eleições de novembro procurou estabelecer uma linha direta de comunicação com o presidente russo Vladimir Putin. No entanto, Kushner considera que é uma ação normal, tendo em conta as responsabilidades que tinha na equipa de transição que seria criada antes de a Administração Trump chegar oficialmente ao poder. De acordo com a revista Time, no documento de 11 páginas Jared Kushner especifica que só teve quatro contactos com os russos durante a campanha e o período de transição presidencial e que nenhum deles foi “impróprio“.
“O facto de eu procurar formas de estabelecer um diálogo após as eleições deve, obviamente, ser visto como uma prova forte de que eu não fazia ideia de que existia [esse diálogo] antes do dia da eleição“, afirma Kushner no documento divulgado pelos seus advogados.
Um “linha segura” para conversar
As reuniões mais polémicas de Kushner durante a transição foram com o embaixador da Rússia nos Estados Unidos e com um banqueiro russo. Jared garante que conheceu o embaixador russo, Sergei Kislyak, em novembro, num encontro onde também estava Michael T. Flynn, um general aposentado que se tornaria o conselheiro de segurança nacional de Donald Trump.
O genro de Trump revela ainda que o embaixador russo lhe transmitiu que os generais russos tinham informações importantes para partilhar com os Estados Unidos sobre a Síria. Além disso, Sergei Kislyak perguntou a Jared se existia “uma linha segura no escritório de transição para conversar“. Ao que Jared respondeu: “O General Flynn e eu explicámos que não existiam essas linhas. Eu entendia que a questão Síria, tendo em conta a crise humanitária, era prioritária e também perguntei se eles tinham um canal de comunicação existente na embaixada que pudéssemos usar”.
Este pedido já tinha sido noticiado pelo The Washington Post, sugerindo que Jared queria estabelecer um canal à margem do Governo norte-americano (que ainda era liderado por Barack Obama). O genro de Trump garante agora que nunca sugeriu um “canal secreto“.
Quanto ao banqueiro Sergey Gorkov (líder do Vnesheconombank, um banco que está sob sanções americanas), Jared decreveu-o como alguém que tinha “uma linha direta para o presidente russo que poderia dar uma visão de como Putin estava a olhar para a nova administração, bem como dar pistas sobre a melhor maneira de trabalharem juntos“.
Gorkov terá dado uma peça de arte a Jared, comunicou-lhe que era amigo de Putin, que estava desiludido com o estado das relações entre EUA e Rússia durante o mandato de Barack Obama e disse esperar uma “relação melhor no futuro” entre os dois países.
Jared Kushner vai depor esta segunda-feira perante o Comité do Senado à porta fechada.