Os Serviços de Informações e Segurança (SIS) e os Serviços de Informações Estratégicas de Defesa (SIED) — os dois braços das “secretas” portuguesas — foram informados do assalto a Tancos na manhã seguinte, antes de as primeiras notícias serem divulgadas. A informação foi transmitida numa reunião de segurança do Centro de Informações e Segurança Militares (CISMIL), ainda antes de o Exército ter difundido um comunicado sobre o furto.
Na reunião, agendada antes de o assalto ter sido detetado (e que começou às 10h de quinta-feira, 29 de junho, cerca de 18 horas depois de uma ronda aos Paióis Nacionais de Tancos ter detetado que as fechaduras de dois paiolins tinham sido arrombadas) estavam presentes elementos da GNR, da Polícia Judiciária Militar, dos serviços de informações do Exército e, também, do SIS e do SIED. Só a PSP faltou.
Ao que o Observador apurou junto de fontes conhecedoras do teor do encontro, além da informação de que os paiolins tinham sido assaltados, foram também partilhados os primeiros dados disponíveis sobre o armamento de guerra que tinha desaparecido: granadas e munições, era o que se sabia na altura.
Aliás, só durante essa manhã de quinta-feira os inspetores puderam entrar num dos paiolins. Como a porta tinha sido deixada encostada — ao contrário da segunda porta, totalmente aberta — houve receio de que os assaltantes pudessem ter deixado a entrada armadilhada. A intervenção dos especialistas de explosivos do regimento de engenharia do Exército só foi possível na manhã de 29 e só depois de estar garantida a segurança os inspetores puderam entrar no paiolim e concluir o levantamento do material levado.
Habitualmente, estas reuniões entre os serviços de informações civis e militares, coordenados pelo CISMIL, realizam-se uma vez por mês e servem para que os diferentes organismos partilhem entre si dados relevantes sobre situações que representem (potenciais) ameaças à segurança militar. Num outro caso qualquer, um acontecimento do dia anterior à reunião não seria abordado, uma vez que a partilha de informações é limitada aos acontecimentos do último mês. Aquele foi um caso excecional, uma vez que estava em causa material com um potencial destrutivo elevado.
Além dos vários organismos representados na reunião de segurança coordenada pelo CISMIL, o Observador sabe que houve, da parte do Exército uma preocupação central: garantir que, antes de a informação do furto chegar ao conhecimento público, a GNR e a PJ já deveriam estar a par da situação — além do próprio ministro da Defesa.
A reunião durou cerca de meia hora. E comunicado do Exército — a primeira referência pública sobre o assalto — é divulgado às 11h22 desse dia. O ramo comunica então que tinha sido “detetada ontem [quarta-feira] ao final do dia a violação dos perímetros de segurança dos Paióis Nacionais de Tancos, à qual se associa o arrombamento de dois paiolins”. O assalto tinha sido detetado “por uma ronda móvel, elemento do sistema de segurança dos Paióis”.
Na última quinta-feira, o secretário-geral do SIRP disse aos deputados da comissão de Defesa Nacional que a informação do assalto chegou aos serviços através de notícias publicadas.
Tomei conhecimento através do SIS, que soube pela comunicação social. Penso que a comunicação oficial só aconteceu na reunião da Unidade de Coordenação Anti-Terrorismo, que decorreu no dia 30″, afirmou Júlio Pereira no parlamento.
Questionado pelo Observador sobre a presença do SIS e do SIED na reunião da manhã de 29 de junho, sobre se o assalta de Tancos foi abordado e sobre se essa informação foi passada pela cadeia hierárquica dos serviços, até à cúpula, o SIRP optou por não responder. “Agradecendo as questões colocadas, entende o secretário-seral do SIRP ter prestado todos os esclarecimentos sobre este assunto na audição de ontem, 27 de julho, perante a comissão de Defesa Nacional”, limitou-se a responder o gabinete de Júlio Pereira.
Confrontado sobre a mesma reunião, o porta-voz da Polícia Judiciária Militar apenas confirmou a realização do encontro e a presença da PJM na mesma. “Não lhe posso adiantar nada sobre os assuntos nela abordados nem as entidades nela representadas”, diz o major Vasco Brazão.