A presidente do IGCP – a Agência de Gestão da Tesouraria e da Dívida Pública – mantém expectativas “moderadas” em relação à melhoria do rating do Portugal. E acredita que não aconteça já este ano: deve levar pelo menos mais 12 meses até ver o país sair do nível ‘lixo’ atribuído pela agência Fitch, defendeu Cristina Casalinho em entrevista ao Eco.

Para a responsável da entidade que gere a tesouraria, o financiamento e a dívida pública direta do Estado, a expetativa “modesta” sobre a saída do nível especulativo justifica-se pelo que aconteceu recentemente na economia portuguesa. “Em maio de 2014, quando Portugal saiu do programa de auxílio financeiro, a Fitch também melhorou o outlook e depois, durante 23 meses manteve essa perspetiva positiva sem que daí adviesse uma melhoria de rating”, lembrou.

O próximo mês de setembro será decisivo na definição deste calendário. Nessa altura, lembrou a presidente do IGCP, “vamos ter já boas indicações sobre a forma como este cronograma irá evoluir. Temos a Moody’s no primeiro dia de setembro e 15 dias depois a Standard&Poor’s a publicar as suas avaliações.” Desta vez, contudo, Cristina Casalinho está mais otimista.

Os dados da economia portuguesa e os progressos são muito substantivos. Se olharmos para a lista de fatores positivos e negativos que todas as principais agências de rating têm vindo a enumerar, os negativos têm sido quase todos eliminados, ultrapassados, os positivos têm surpreendido positivamente. As expectativas têm sido suplantadas.”

Contudo, ainda há riscos a ter em conta e que podem condicionar este processo: “Há que baixar a dívida, resolver os dossiers pendentes na banca e resolver diferendos como o que há com a Pimco e a BlackRock”, realçou a presidente do IGCP na mesma entrevista. Recorde-se que a Fitch, no passado mês de junho, manteve a notação de Portugal em ‘lixo’, mas com boa perspetiva.

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Fitch. Rating fica em “lixo” mas com “perspetiva” positiva

Cristina Casalinho concorda, porém, que ainda há muito caminho para percorrer e imagem para melhorar. E conta o que sucedeu numa reunião na última semana com um investidor. “Estivemos com um investidor que acompanha Portugal há vários anos e que dizia: ‘Bom, desta vez, surpreenderam muito positivamente, mais do que eu alguma vez consideraria ser possível.’ É uma apreciação que temos vindo a constatar por parte de vários investidores, de geografias diversas.”, explicou.

Os investidores não são convencidos. Das duas uma: ou estão convencidos ou não estão convencidos. Se os investidores tiverem uma avaliação negativa, não vai ser o trabalho do IGCP que os fará mudar de opinião. Da mesma forma, se eles estiverem convencidos, podem procurar no IGCP é fatores adicionais para justificar os seus argumentos.”

O que os investidores procuram junto do IGCP é uma validação das suas perceções. E, sobre isso, Cristina Casalinho parece não ter dúvidas. “Portugal ultrapassou a crise, com uma correção dos principais desequilíbrios. Tem níveis de crescimento mais elevados, um mercado de trabalho bastante robusto. Parte do crescimento económico de que beneficiamos radica numa sustentabilidade de níveis de consumo privado em patamares inferiores ao crescimento global do PIB, mas relativamente estáveis, com base num mercado de trabalho bastante mais sólido e dinâmico do que no passado, sendo os principais motores de crescimento as exportações e o investimento.”