Já se sabia que Cristiano Ronaldo tinha negado, na passada segunda-feira, perante a juíza Mónica Gómez Ferrer, qualquer intenção de fugir aos impostos. Mas a Europa Press e a SER tiveram acesso ao testemunho do melhor jogador do mundo e revelam alguns detalhes da audiência. O futebolista do Real Madrid diz que sempre pagou impostos e que seria “ridículo” não o fazer, socorrendo-se da sua baixa formação académica para justificar o desconhecimento das leis. E defendeu o agente Jorge Mendes.
“Não entendo muito disto. Tenho apenas o sexto ano de escolaridade e a única coisa que sei fazer bem é jogar futebol. Se os meus assessores me dizem ‘Cris, não há problema’, eu acredito neles”, disse Cristiano Ronaldo perante a juíza, falando sobre a questão da tributação de direitos de imagem, acrescentando que “não pode haver delito, porque eu quero ser honesto e pago sempre. Se tivesse querido esconder, não teria declarado”.
Sempre descontei, sempre. Em Inglaterra, em Espanha. Como sabe, não posso ocultar nada, seria ridículo da minha parte. Sou um livro aberto. Não é preciso mais do que entrar no Google e sobre Cristiano sabe-se tudo. Por exemplo, ainda agora na revista Forbes saiu quanto eu ganho.”
Ronaldo terá mesmo chegado a dizer que nunca teve nenhum problema em Inglaterra e “por isso gostaria de voltar a Inglaterra”, segundo a Cadena Ser.
Durante a hora e meia em que esteve a ser ouvido, Cristiano Ronaldo explicou, como mostram as declarações reveladas pela Europa Press, que quando chegou ao Manchester United, com 18 anos, foi o clube e um dos advogados, Chris Farnell, que lhe recomendou a criação de uma sociedade para gerir os direitos de imagem a nível mundial, dizendo que outros jogadores faziam o mesmo. E sublinhou que o seu agente Jorge Mendes nada teve a ver com essa opção.
Ele não tem capacidade de entender de impostos nem da Lei Beckham. Jorge é como eu, não tem maldade alguma”, afirmou o jogador, dizendo que Mendes é a pessoa em que mais confia e que é honesto.
Ronaldo disse ainda que tanto o Real Madrid como outros clubes por onde passou afirmam que atuou corretamente. “Todos os meus assessores, o próprio Manchester, o Real Madrid, dizem que não fiz nada de mal que não tenho culpa de nada. Na verdade eu não sei o que faço aqui.”
Ronaldo suspeito de quatro crimes e de fraude superior a 14 milhões de euros
O futebolista português foi ouvido enquanto arguido num processo em que é suspeito de ter praticado quatro crimes contra os cofres do Estado espanhol, cometidos entre 2011 e 2014, que somam uma fraude tributária de 14.768.897 euros.
Tudo começou com a transferência do Manchester United para o Real Madrid. Em novembro de 2010, o internacional português escolheu um regime fiscal que permitia que fossem tributados apenas 24% ou 24,75% dos seus rendimentos em Espanha (a Lei Beckham).
Assinado o contrato com o Real Madrid, Ronaldo terá simulado a cedência dos seus direitos de imagem à Tollin Associates LTD, uma sociedade com sede nas Ilhas Virgens britânicas e que tinha o português como sócio único. A Tollin Associates LTD cedeu posteriormente os direitos de imagem à irlandesa Multisports&Image Management LTD. Para o fisco espanhol, essa cedência teve apenas como objetivo “ocultar à Autoridade Tributária espanhola a totalidade dos rendimentos obtidos pelo denunciado pela exploração da sua imagem”.
Ronaldo é ainda acusado de não ter declarado a totalidade dos seus rendimentos em Espanha: dos 43 milhões recebidos entre 2011 e 2014 só terá declarado 11,5 milhões.
O jogador madeirense foi ouvido à porta fechada, na segunda-feira, em Madrid, e não prestou declarações à saída. Num comunicado divulgado pelo jornal espanhol Marca, o jogador diz nunca ter tido intenção de fugir aos impostos. “Nunca ocultei nada, nem tive intenção de fugir aos impostos“, referiu Ronaldo, acrescentando que o fisco espanhol “conhece em detalhe” os seus rendimentos porque foram declarados.
Quando assinei pelo Real Madrid, não criei um estrutura especial para gerir os meus direito de imagem, mas mantive aquela que os geria quando estava em Inglaterra“, lê-se no comunicado, que cita o jogador, acrescentando que “a estrutura empresarial de gestão dos direitos de imagem é igual” entre 2010-2014 e 2004-2009.
Na mudança de residência para Espanha, procedeu-se apenas à supressão de uma entidade inglesa, que não era necessária para a residência em Espanha, e “assegurou-se que era cobrada a totalidade dos direitos de imagem pessoalmente enquanto era residente em Espanha, para pagar os impostos espanhóis”. “Nenhuma destas alterações tinha como finalidade evitar o pagamento de impostos ou ocultar rendimentos.”
Os jornais espanhóis escreveram que o interrogatório de segunda-feira não teve tradução e terá sido bastante tenso.