Steve Bannon, o grande estratega e conselheiro de Donald Trump, o obreiro de toda a sua aura de pai tirano que vai por a casa em ordem, tem andado a passar entre os pingos da chuva — ou entre as tochas, as G3 e os tacos de basebol que tomaram de assalto a cidade de Charlottesville, na Virgínia, no fim-de-semana passado onde um grupo de supremacistas brancos se confrontou com um outro que tinha ido marchar como oposição à marcha de extrema direita.

O maior vulto da chamada alt-right — um conceito-chapéu-de-chuva que abriga vários grupos de direita, entre eles neo-nazis, anti-semitas, nacionalistas e supremacistas brancos — e ex-diretor da página de notícias pró-direita Breitbart, deu uma entrevista a uma revista de esquerda, a American Prospect, e nem foi a revista que a pediu mas sim Bannon que ligou, disparando em todas as direções. Na opinião pública mais à esquerda, a culpa da benevolência que Trump mostra perante o extremismo de alguns membros da alt-right é culpa dele mas, na entrevista, Bannon afasta-se da extrema-direita “etno-nacionalista” apelidando os seus membros de “um bando de palhaços”.

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Mas depois do turbilhão de críticas que Trump enfrentou por ter dito que “ambos os lados” dos confrontos em Charlottesville tinham “pessoas boas e pessoas más”, fazendo assim equivaler, no barómetro moral, os neo-nazis àqueles que se rebelam contra eles, Bannon já não é um figura de proa. A relação do presidente com um dos seus principais conselheiros tem sido tépida, se quisermos ser otimistas. Na quarta-feira, quando questionado sobre se iria ou não mantê-lo na Casa Branca, a reposta de Donald Trump foi: “veremos”.

Segundo Robert Kuttner, que conduziu a entrevista ao telefone, Bannon ligou-lhe principalmente para falar da “guerra comercial com a China”, que deveria ser “alvo de uma mão mais dura”. Na opinião de Bannon, “é preciso que a Administração não se deixe levar por pensamentos otimistas nem que agora se pare de criticar as práticas comerciais da China só porque esperamos que sejam eles a mediar o confronto com Kim [Jong Un, líder da Coreia do Norte]”. Na Defesa, disse ainda Bannon, “está tudo quase a urinar-se pelas pernas abaixo”.

E quanto à Coreia do Norte, o estratega de Trump distancia-se da posição do patrão. “Não há solução militar, esqueçam isso. Até alguém resolver a parte da equação onde me mostram que dez milhões de sul-coreanos não morrem nos primeiros 30 minutos, então não sei do que falam quando falam dessa possibilidade. Não há solução, eles têm-nos na mão”.

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Bannon explicou ainda que a sua estratégia é ter sempre os democratas focados na questão racial e deixar os republicanos livres para implementarem “nacionalismo económico” que permitirá “esmagar os Democratas”.

“A extrema direita é irrelevante”, disse Bannon enquanto se tentava esgueirar às perguntas sobre o seu próprio papel em cultivar essa ideologia. “Etno-nacionalismo é para falhados, é uma franja, os meios de comunicação social é que os engrandecem, temos que ajudar a diminuir esses movimentos, a pô-los para baixo”. E, não contente, disse ainda: “Estes tipos são um coletivo de palhaços”.