Pepe Brix, fotógrafo documental português, é o autor deste artigo, sétimo da história “Este Verão Portugal é Mini”
“Escalar é, quando o terreno o exige, a única forma de progredir.”
Embora escalar seja algo que o Homem faz desde as suas origens, acima de tudo por questões de adaptação e exploração, considera-se que a escalada começa a ser praticada no século XVIII com as primeiras ascensões aos Alpes.
Elevando-se a mais de 825 metros do nível do mar, a Serra D’Arga, situada no Alto Minho, tem para partilhar com aqueles que por lá passam as mais incríveis vistas sobre o mar, o rio Minho e o rio Lima, sobre a cidade de Viana do Castelo, as vilas de Caminha e Ponte de Lima, e algumas povoações espanholas. Os montes e vales de origem granítica, que se sucedem por centenas de quilómetros, dão aos exploradores desta região a oportunidade de contemplarem a natureza no seu estado mais puro, servida com um silêncio apaziguador, quebrado aqui e ali pelo som de um ecossistema rico e salutar.
Escalar as paredes altivas que dão corpo à paisagem minhota é provavelmente a forma mais eficaz de a contemplarmos e de nos mantermos ligados a ela.
Shore e alguns amigos do Clube de Escalada de Braga têm a Serra d’Arga como uma espécie de santuário onde se refugiam durante o fim de semana para escalar e desfrutar da companhia uns dos outros. No fim de semana que tive o prazer de passar com eles, éramos catorze numa casa que pertence à família da Joana, a namorada do Shore. A casa é o poiso para preparar a escalada e partilhar umas Minis, enquanto esperam que o calor amaine para poderem fazer rumo à rocha. Durante a tarde a tropa reúne-se em torno da piscina para relaxar e é montada uma slackline, uma fita que fizeram abraçar a uma das árvores do quintal, esticando-a depois até um pequeno anexo do outro lado da piscina para poderem atravessá-la em equilíbrio. Aqui restabelecem também as energias e descansam depois de levar o corpo à exaustão durante a escalada. O serão adormece lentamente entre sorrisos depois de um delicioso jantar, e antecipa mais uma manhã de escalada.
Nascido em Vila Real no ano de 1982, Shore vive há treze anos em Braga, cidade onde começou a escalar. É o presidente do Clube de Escalada de Braga e um dos praticantes mais dinâmicos da escalada no Minho. Com mais de dez anos de experiência, ele conhece bem os riscos que é preciso enfrentar e superar se nos aventuramos rocha acima e ficamos com a vida suspensa numa corda. Essa profunda vontade de explorar e manter viva a ligação à natureza, tem um preço alto, e é pago em segurança. Shore dedica a maior parte do seu tempo a preparar os novos praticantes para essa tarefa delicada e tão cheia de responsabilidade, dando treinos diários a mais de sessenta apaixonados pela modalidade. Como os grupos são pequenos, os cuidados são mais evidentes e personalizados, para que tudo possa fluir quando os pés estão assentes nas rochas graníticas da Serra D’Arga, o lugar predileto para os refúgios de escalada com os amigos. Há, por isso, um trabalho intenso realizado indoor, em espaços devidamente equipados.
Quando chegada finalmente a hora por que todos esperámos, dividimo-nos em vários carros e fizemos rumo ao lugar onde costumam escalar. Já perto da rocha, Shore distribui o equipamento por todos, garantindo que nada fica para trás.
As vias, onde agora todos podem escalar, foram abertas por iniciativa de Shore, que contou com a ajuda dos amigos para a limpeza árdua da vegetação que invade a rocha, tomando conta de cada fenda aberta. O esforço de todos para a limpeza dos lugares que escalam é o preço que pagam para os poderem escalar depois e contemplar a natureza, observando as magníficas panorâmicas da serra.
Verticais e imponentes, as rochas estendem-se muito acima das nossas cabeças. No momento exatamente antes da subida, o coração de quem está prestes a fazer frente à parede dispara, acendendo o corpo e todos os instintos que apelam à segurança. Para garantir que todos se sintam seguros o suficiente para poderem desfrutar do que estão a fazer, Shore e alguns dos amigos mais experientes supervisionam cada movimento de quem está a escalar, posicionando-se por baixo dos mesmos. Ciente do esforço que cada um empenha, Alto e em bom som, Shore partilha algumas palavras de incentivo com aqueles que estão a escalar. Palavras essas que em momentos mais críticos, em que os membros já tremem de tanta força empregue, são o mote para que quem está suspenso nas pontas dos dedos encontre força bastante para finalizar a subida e ninguém os para.
“Um fraco desejo de regressar lá ao alto surge um dia em nós. Assim recomeça o encantamento.”
Walter Bonatti (1962)
Descendo os caminhos ancestrais da ilha
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