Um relatório da Agência Europeia de Segurança Alimentar (AESA) sobre o herbicida glifosato contém uma centena de páginas copiadas de um documento da multinacional Monsanto, que o produz, segundo informações da imprensa que a Agência já negou.

Os jornais La Stampa, italiano, o The Guardian, britânico, e a rádio francesa RMC dizem que o documento original e o relatório estão disponíveis na internet e explicam que em causa está uma centena de páginas que parecem ter sido copiadas de um pedido de autorização de comercialização do produto arquivado em 2012 pela Monsanto.

A licença europeia para o glifosato (um herbicida controverso por se suspeitar de que pode ser cancerígeno) expira no fim deste ano e está a decorrer um debate na União Europeia sobre a renovação ou não da comercialização do produto.

Em julho, a Comissão Europeia manifestou-se favorável à renovação da licença, apoiando-se especialmente no relatório da AESA de 2015, segundo o qual não há razões para classificar o glifosato como cancerígeno. Parte desse relatório, dizem os jornais, terá sido copiado de um documento da empresa que produz o herbicida.

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As secções do relatório da AESA que reexaminam os estudos publicados sobre o impacto potencial do glifosato sobre a saúde humana são copiadas, quase palavra por palavra, do dossier apresentado pela Monsanto”, escreve o jornal La Stampa, explicando que são 100 páginas em 4.300 mas são precisamente as mais controversas e no centro do debate.

A AESA, que tem sede em Itália, já defendeu o relatório e disse que as notícias são “uma nova tentativa de criar dúvidas sobre a avaliação” feita pelos peritos da União Europeia (e que estiveram na base da recomendação de re-autorização do glifosato por mais dez anos).

Segundo a Agência, trata-se de um “mal-entendido do contexto e do conteúdo dos documentos publicados” e os documentos mencionados na imprensa não fazem parte do relatório.

Em julho foi anunciado que mais de um milhão de pessoas de todos os Estados-Membros da União Europeia assinaram uma petição a favor da proibição do herbicida.

Em fevereiro, organizações não-governamentais europeias, incluindo portuguesas, tinham proposto recolher assinaturas para exigir o fim da utilização do glifosato.

O químico, usado também na agricultura, tem sido alvo de vários alertas dos ambientalistas e, em Portugal, em 2014, a Quercus lançou uma campanha nacional a apelar aos municípios para que deixem de utilizar pesticidas para eliminar ervas daninhas em jardins e outros locais públicos, com o argumento de que são responsáveis por danos na saúde, podendo provocar cancro.

Em janeiro, o Governo aprovou a proibição de uso de pesticidas em espaços públicos como jardins infantis, parques e jardins urbanos, escolas e hospitais “com o objetivo de reduzir e controlar os efeitos sobre a saúde pública”.