Durante cerca de 70 horas, a discussão passava pela capacidade de reação do Benfica para inverter o pior ciclo da era Rui Vitória na Luz, com três jogos consecutivos sem ganhar noutras tantas competições; no entanto, uma hora antes da receção ao P. Ferreira, não era preciso ter uma bola de cristal para se perceber que os encarnados iam jogar mais e iam jogar melhor: Fejsa, aquele a quem um dia chamaram de homem de cristal, estava confirmado no onze.

Ficha de jogo

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Benfica-P. Ferreira, 2-0

7.ª jornada da Primeira Liga

Estádio da Luz, em Lisboa

Árbitro: Carlos Xistra (AF Castelo Branco)

Benfica: Júlio César; André Almeida, Luisão, Rúben Dias, Grimaldo; Fejsa, Pizzi; Zivkovic, Cervi (Diogo Gonçalves, 86′), Jonas (Krovinovic, 82′) e Seferovic (Raúl Jiménez, 70′)

Suplentes não utilizados: Bruno Varela, Samaris, Gabriel Barbosa e Rafa

Treinador: Rui Vitória

P. Ferreira: Mário Felgueiras; Francisco Afonso, Rui Correia, Miguel Vieira, Bruno Santos; Vasco Rocha, André Leão; Diego Medeiros (Luiz Phellype, 75′), Mateus (Bruno Moreira, 85′), Xavier (Mabil, 62′) e Welthon

Suplentes não utilizados: João Pinho, André Leal, Ricardo e Gian

Treinador: Vasco Seabra

Golos: Cervi (20′) e Jonas (61′)

Ação disciplinar: cartão amarelo a Rúben Dias (44′), Bruno Santos (44′), Zivkovic (50′), Seferovic (68′) e André Leão (90+1′)

 

Foi um dia especial para o sérvio, que renovou recentemente contrato até 2021 e fez o 100.º jogo na Luz. Mas foi também um dia especial para o Benfica porque aquilo que era descrito pelos encarnados em termos oficiais como “traumatismo na perna direita” acabou por ser uma das chaves para as constantes dores de cabeça da equipa que perdeu com o CSKA Moscovo na Champions e com o Boavista no Campeonato e empatou com o Sp. Braga na Taça da Liga.

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Fejsa não é um Cristiano Ronaldo, um Messi ou um Neymar (aqui colocamos o brasileiro até mais pela questão do ordenado e para lhe contar, como nota de rodapé, que, de acordo com o jornal Der Spiegler, ganha qualquer coisa como 100 mil euros por dia…). Não é um Maradona, um Pelé ou um Di Stéfano. Mas tem o condão de ser aquele jogador que, sem dar nas vistas, não só equilibra toda a equipa em termos coletivos como propicia a melhoria de todos os que estão à sua volta em termos individuais (enquanto houve pernas para isso).

Foi de tal forma que aconteceu um duplo fenómeno esta noite na Luz: os ’15 minutos à Benfica’ que às vezes se ouviam falar mas andavam desaparecidos nos últimos tempos não só reapareceram como passaram a 30. E foi nesse período que as águias mostraram bem ao que iam, com um golo (de Franco Cervi, com um grande remate à entrada da área após assistência de Zivkovic aos 20′), três bolas aos postes (Grimaldo de livre direto, aos 9′; Jonas após cruzamento curto da direita de Zivkovic, aos 18′; Seferovic de forma quase casual num centro-remate, aos 27′), dez cantos (a média por jogo era de oito) e uma posse de bola a rondar os 70%.

E ao quinto parágrafo, falamos do P. Ferreira. Porque, na primeira parte, pura e simplesmente não existiu. É certo que um dos nomes mais importantes da equipa, Pedrinho, ficou de fora, mas esperava-se mais do conjunto da Capital do Móvel, que fez um remate fraco à figura de Júlio César (outra das novidades na equipa, ficando com o lugar de Bruno Varela) nos 45 minutos iniciais. Por demérito próprio, por mérito do adversário, por influência de Fejsa, o pêndulo que devolveu a estabilidade defensiva, o equilíbrio do meio-campo e as zonas de pressão ofensivas que conseguiram asfixiar as tentativas de transição dos pacenses.

No segundo tempo, Rui Correia, um jovem central português que tem no P. Ferreira uma nova montra para poder dar um salto em frente na carreira após as boas exibições no Nacional, deixou uma ameaça de cabeça logo aos 47′, após um canto. Mas essa seria apenas uma exceção entre a regra do perigo voltado para a baliza de Felgueiras.

Jonas, aos 55′, obrigou Mário Felgueiras a mais uma defesa apertada a evitar o segundo golo que surgiria mesmo seis minutos depois e na sequência de uma bola parada que tantos problemas tem dado ao Benfica nos últimos encontros: canto na esquerda do ataque, desvio de Seferovic ao primeiro poste e toque final do brasileiro para a baliza após uma receção meio atabalhoada sem qualquer marcação na área.

Houve mais oportunidades, muitas mais oportunidades. De Jonas, de Pizzi (que teve um lance desastrado aos 80′ onde ouviu assobios antes de uma grande salva de palmas também a pedido dos companheiros), de Raúl Jiménez, até do miúdo Diogo Gonçalves na primeira vez que tocou na bola. Mas o resultado ficaria mesmo pelos 2-0, com uma queda exibicional a coincidir com a normal quebra física que Fejsa foi tendo ao longo do encontro.

Fejsa até pode ser de cristal, mas a verdade é que, quando está presente em campo e muitas vezes sem bola, dá outro requinte ao jogo do Benfica. No plano coletivo e também a nível individual. Não é por acaso que, no Partizan, no Olympiacos e na Luz, ganhou de forma consecutiva dez Campeonatos Nacionais…