A polémica entre a NFL e o Presidente Donald Trump continua a crescer. Depois de o dia ter começado com os protestos dos Baltimore Ravens e dos Jacksonville Jaguars, que se ajoelharam durante o cantar do hino nacional dos Estados Unidos em Londres, as manifestações de desagrado para com a desigualdade racial nos EUA multiplicaram-se. Trump acorreu ao Twitter para as contrariar, lançando uma série de declarações inflamadas onde se pode ler coisas como “patriotas corajosos lutaram e morreram pela nossa bandeira americana[…] TEMOS de a honrar e respeitar!” ou “ficar em pé e de braços entrelaçados é bom, ajoelhar não é aceitável.”

https://twitter.com/JMKTV/status/911947332765102081?ref_src=twsrc%5Etfw&ref_url=https%3A%2F%2Fwww.nytimes.com%2F2017%2F09%2F24%2Fsports%2Fnfl-trump-anthem-protests.html

A lista de pessoas que vieram a público repudiar a atitude do Presidente é longa. Para lá das várias equipas de futebol americano que hoje já se manifestaram — em Filadélfia, alguns jogadores dos Eagles e dos Giants ajoelharam-se e puseram os punhos nos ar, um símbolo usado nas décadas de 60 e 70 pelos ativistas pelo poder negro; o mesmo cenário aconteceu em Indianapolis, com vários jogadores dos Cleveland Browns a assentarem joelhos no relvado, não ligando às vaias que vieram do público; também houve protestos no plantel dos Saints e dos Broncos — muitos proprietários de equipas, ex-atletas, figuras de estado, atletas de outras modalidades e até cantores já aproveitaram para mostrar o seu desagrado.

A base destes protestos começou há quase um ano, quando Colin Kaepernick, o quarterback dos San Francisco 49ers, se recusou a ficar de pé durante o tocar do hino nacional, alegando que essa era a sua forma de demonstrar desagrado para com o tratamento desigual das minorias.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Desde então, o assunto foi-se tornando mais complexo, com mais e mais atletas a juntarem-se “à luta”, ajoelhando-se sempre que tocava o hino dos EUA, antes do início dos jogos. Na passada sexta-feira, porém, tudo ficou ainda mais intenso quando Donald Trump aproveitou um comício em Huntsville, no Estado do Alabama para atacar os jogadores da NFL que demonstravam o seu descontentamento durante o hino — “despeçam esses sons of bitches [filhos da mãe] que não honram o nosso País!”, disse. Aquilo que se tem assistido este domingo (por tradição, é o dia da semana em que decorrem mais jogos de futebol americano) é, portanto, o ripostar destes atletas.

As manifestações de desagrado

A polémica pode ter explodido com as declarações no Alabama, contudo, o assunto ganhou proporções ainda mais consideráveis quando o basquetebolista Stephen Curry, dos Golden State Warriors, recusou-se a visitara Casa Branca com a sua equipa — atuais campeões da NBA. “Não apoiamos o presidente e as coisas que ele disse”, explicou o duas vezes melhor jogador da liga (MVP) em conferência de imprensa.

LeBron James, outro basquetebolista norte-americano – e um dos melhores da atualidade -, não tardou em expressar o seu apoio para com Curry e através do Twitter chamou “bandalho” ao Presidente e disse que ir à Casa Branca costumava ser uma honra, mas isso mudou quando Trump tomou posse.

No passado sábado, surgiu outra mensagem reivindicativa, desta vez vinda do mundo do basebol. Bruce Maxwell, jogador dos Oakland Athletics, tornou-se o primeiro jogador na MLB (Major League Baseball) a ajoelhar-se durante o hino nacional. “Não fiz aquilo por desrespeito para com os nossos militares, Constituição ou país”, disse o jovem atleta ao San Francisco Chronicle. “Estamos a viver uma época de divisão racial e é o poder mais alto deste país que está a dizer que é ok tratar as pessoas de maneira diferente”, acrescentou.

Outra das reações negativas às declarações do Presidente norte-americano surgiu este domingo, logo de manhã, quando Rex Ryan, antigo treinador dos Jets e dos Bills, disse ao Sunday NFL Countdown que estava arrependido de o ter apoiado durante a campanha. “Toda a gente sempre esteve unida. Sim, temos visões diferentes, mas deixa que lhe diga: Estou furioso”, explicou Ryan. O actual comentador desportivo da ESPN acrescentou ainda que estava “chocado” com os comentários de Trump.

Terry Bradshaw, famoso ex-quarterback e atual comentador da Fox, também aproveitou os habituais programas pré-jogo para lançar farpas ao Presidente, afirmando que apesar de não concordar com os protestos durante o hino, estes devem ser permitidos. “Todos os Americanos têm o direito de manifestarem as suas opiniões”, disse, antes de acrescentar que Trump “devia concentrar-se em assuntos sérios como a Coreia do Norte e os cuidados de saúde em vez de castigar jogadores da NFL”.

https://twitter.com/TomNamako/status/911986407471763456?ref_src=twsrc%5Etfw&ref_url=https%3A%2F%2Fwww.nytimes.com%2F2017%2F09%2F24%2Fsports%2Fnfl-trump-anthem-protests.html

O hino nacional dos Estados Unidos da América costuma ser cantado por um intérprete, ao vivo, no início de cada partida — seja de futebol americano ou de qualquer outro desporto. É nesta fase das partidas, enquanto o músico canta, que os jogadores protestam. Há poucas horas, porém, a situação ganhou contornos ainda mais curiosos quando Rico Lavelle, o cantor encarregue de interpretar o hino na partida dos Lions contra os Falcons decidiu ajoelhar-se e colocar o punho no ar.

Por esta altura, a polémica já ultrapassou o mundo do desporto, chegando à esfera política. O ex-Procurador Geral dos Estados Unidos Eric H. Holder Jr. utilizou o Twitter para mostrar a Trump que o acto de ajoelhar como forma de protesto não é “sem precedentes” e já deu origem a muitas “mudanças positivas”.

Em defesa do Presidente

Apesar da forte contestação, Trump não está sozinho. Da mesma forma que os protestos se multiplicaram rapidamente, também não foi preciso muito tempo para começar-se a ouvir aqueles que defendem a posição do Presidente.

Steve King, congressista republicano que representa o Estado do Iowa, afirmou que tal como os jogadores, os proprietários das equipas também “têm o direito de usar a sua liberdade de expressão” para despedir os seus jogadores.

Paul Bailey foi outro político que não tardou demonstrar apoio. O Senador do Estado de Tennessee ameaçou a sua equipa, os Titans, dizendo que “se eles começarem com estas merdas”, que cancelava os seus bilhetes de época. Ainda no ramo da política, é de assinalar a declaração de Steven Mnuchin, o Secretário do Tesouro da Administração Trump: “Isto não tem a ver com liberdade de expressão mas sim com o respeitar do nosso país”, afirmou, antes de acrescentar que os jogadores da NFL pode dar uso à sua liberdade de expressão noutras alturas.

O apoio a Trump não se resume apenas à política: também há desportistas a concordar com as suas ideias.

Jerry Jones, o dono dos Dallas Cowboys, por exemplo, afirmou numa entrevista que é melhor que os seus jogadores respeitem a bandeira, senão “os seus rabos serão corridos da equipa”. O proprietário dos Jets, Christopher Johnson, também emitiu um comunicado a dizer que ele e os seus jogadores iriam estar juntos, em pé, a ouvir o hino nacional. O jogo em questão realizou-se em Londres, como tal, e para reforçar a posição que tinha dado a conhecer, Johnson convidou o embaixador norte-americano no Reino Unido, Woody Johnson (que, curiosamente, é seu irmão), para acompanhar os jogadores e o staff até ao campo de jogo.