A escassos dias das eleições autárquicas, António Parada, candidato independente à câmara de Matosinhos, e dissidente do PS local, anunciou que tem um novo apoiante à sua candidatura. Trata-se do presidente da concelhia PS de Matosinhos, Ernesto Páscoa, que, segundo afirma Parada ao Observador, lhe deu o seu apoio pessoal numa conversa, à saída do Mosteiro de Leça do Balio. Ter-lhe-á dito: “Eu não consigo apoiar a candidata da Maia, que mora na Maia e não conhece Matosinhos. Nem foi a escolhida dos militantes em Matosinhos”, relata Parada, que pediu autorização para anunciar a novidade publicamente na rede social Facebook.

O Observador tenta confirmar a informação junto de Ernesto Páscoa desde quarta-feira, mas o dirigente socialista não respondeu. O post, colocado na terça-feira e com menções diretas ao presidente da concelhia, não foi desmentido. Uma atitude que pode vir a trazer consequências políticas para Páscoa. Ainda em agosto, tentou impugnar as listas da candidata oficial do PS, Luísa Salgueiro, por terem sido feitas “à margem da estrutura concelhia do PS”, justificou à Lusa. Estas guerras não são novas. O PS de Matosinhos é, há muitos anos, uma história de uma família desavinda em que ninguém se entende. Em 2004, quando se deu a tragédia da morte de António Sousa Franco depois de uma ação de campanha demasiado excitada — fruto da luta de fações por protagonismo durante uma visita ao mercado –, os grupos eram apenas apenas dois. Hoje, são pelos menos quatro, dentro e fora do partido, mas todos na orla socialista.

Ernesto Páscoa queria estar nessa corrida e a Comissão Política Concelhia do PS/Matosinhos, que preside, deu-lhe 36 votos a favor (24 contra) no ano passado, mas o candidato foi chumbado na distrital. Luísa Salgueiro acabou por ser a escolhida, com o apoio do então autarca, o independente e ex-socialista Guilherme Pinto, falecido em janeiro deste ano vítima de cancro. Páscoa decidiu não ser candidato à margem do partido, como outros já fizeram (Narciso Miranda ou António Parada). Mas também nunca deu o seu apoio à deputada socialista, a primeira mulher candidata à câmara de Matosinhos.

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Tinha tudo para ser fácil. Matosinhos é um bastião socialista e isso bastaria para concluir que, neste concelho do distrito do Porto, o PS sairia facilmente com maioria absoluta. O problema é que há três candidatos da família socialista. Nas sondagens, surgem os três nos lugares cimeiros: 38% para Luísa Salgueiro, 15% para Narciso Miranda e 13% para António Parada, refere o inquérito da Universidade Católica para a RTP e Antena 1, publicado esta segunda-feira. Os outros candidatos, Jorge Magalhães (PPD/PSD), José Pedro Rodrigues (CDU), Ferreira dos Santos (BE) e Filipe Cayolla (PAN), ficam atrás.

Se chegar aos 40%, Luísa Salgueiro elege seis vereadores e consegue a maioria absoluta. Apenas a candidata do PS aceita a sondagem. Narciso Miranda e António Parada consideram que a Universidade Católica não tem idoneidade para fazer sondagens no concelho, já que tem ajustes diretos com a Câmara de Matosinhos. No fim, os três candidatos dizem ao Observador que vão ganhar e Parada diz mesmo que vencerá com maioria absoluta.

Como é que se chegou ao cúmulo de haver três candidatos socialistas em Matosinhos? “É a minha forma de agradecer o carinho das pessoas”, diz Narciso Miranda ao Observador. O dinossauro autárquico esteve quase 30 anos à frente dos destinos do concelho. Por vezes, a conversa, que decorre nas ruas de São Mamede Infesta, é interrompida por pessoas que vão ter com o ex-presidente para lhe dar beijinhos. Alguns eleitores agradecem a casa que receberam quando era ele o autarca. Como trunfo, assinala a experiência que acumulou entre 1977 e 2005, com um ano de interregno, em que aceitou um cargo no Governo.

“Socialistas somos só nós”, corrige Luísa Salgueiro, em conversa com o Observador, à margem de uma ação de campanha no Centro Social e Cultural de Custóias. “António Parada fez um flic flac e agora é do CDS”, atira, referindo-se ao apoio dos centristas que o independente aceitou. Vestida com um casaco rosa avermelhado forte, a candidata tinha estado a dizer, momentos antes, aos idosos na plateia e aos funcionários daquela Instituição Particular de Solidariedade Social (IPSS) que, se for eleita, no dia 2 de outubro nenhum funcionário ali vai ser despedido.

O Parada anda nas IPSS a dizer que, se eu for eleita, vou despedir as pessoas e encerrar as instituições porque propus a criação de cuidadores informais, sobretudo para pessoas com demência”, explica. Já houve funcionárias a ir ter com a deputada para lhe perguntar se era verdade que iam ser despedidas. Luísa Salgueiro sublinha que, nas ruas, tudo tem corrido “ordeiramente” com todos os partidos. No sábado, PS, Narciso Miranda e António Parada fizeram campanha na feira da Senhora da Hora. Não houve altercações. “Agora tentativas de criar casos na comunicação social, é todos os dias”, queixa-se. A explicação que deu em Custóias a isso se deve.

Luísa Salgueiro queixa-se de ter de clarificar nas IPSS onde vai em campanha, que ninguém será despedido. António Parada reafirma que a proposta da socialista levará a despedimentos

António Parada recusa que seja um “caso”. “Está a tentar remediar o disparate que cometeu num período muito importante da campanha eleitoral, e sobre uma matéria fundamental para o concelho de Matosinhos, onde há muitas carências e a intervenção social é importantíssima”, alega, antes de uma festa do seu movimento “Sim!”, nome inspirado na famosa exclamação de Ronaldo. O dissidente socialista quer ver algum estudo feito sobre os custos e o plano de formação e avaliação dos cuidadores informais, que são “pessoas recrutadas na sociedade civil”: quem vai ser convidado para fazer parte do projeto, quais os critérios para se ser candidato e quem vai fiscalizar a atuação. “Porque, imagine que um cuidador falta à noite. Não há ninguém para o substituir, o idoso pode morrer sozinho e numa IPSS isso não acontece.” E vaticina: os despedimentos nas IPSS seriam “inevitáveis”.

Uma morte a ensombrar a história do PS Matosinhos

Isto correu tudo muito bem até aos incidentes“, diz Luísa Salgueiro, para começar a explicar como é que, em 2017, há pela primeira vez três candidatos da família desavinda socialista em Matosinhos. Interrompe o raciocínio e salta para o momento em que Guilherme Pinto foi eleito presidente da câmara pelo PS, em 2005. Mas é preciso recuar a 2004 para compreender verdadeiramente as divisões profundas que têm manchado o percurso do partido no concelho.

A manhã de 9 de julho de 2004 será sempre uma das mais negras da história política em Portugal. António Sousa Franco era o cabeça de lista socialista ao Parlamento Europeu e, como era da praxe no partido, iria passar na lota do município bastião socialista. O que se passou está documentado e até mereceu inquérito interno do PS. Narciso Miranda, que entre outubro de 1999 e setembro de 2000 suspendeu o mandato para assumir o cargo de secretário de Estado da Administração Marítima e Portuária do Governo de Guterres, encontrou no regresso à autarquia o seu vice-presidente, Manuel Seabra, sem vontade de regressar à posição de número dois. Em 2004 faltava um ano para as autárquicas e os dois homens tentavam granjear os apoios e a exposição pública para candidato do PS no município. A passagem de Sousa Franco pela lota era um momento que ambos queriam aproveitar.

As duas fações entraram em confrontos no mercado, Narciso Miranda e Manuel Seabra agarravam-se um de cada lado a Sousa Franco para demonstrarem proximidade e a confusão foi tanta que a ação de campanha teve de ser interrompida. António Sousa Franco, que tinha 61 anos, entrou no carro que o levaria dali. Passados poucos minutos, sofreu um ataque cardíaco e já chegou sem vida ao Hospital Pedro Hispano, em Matosinhos.

O inquérito do PS determinou que nem Narciso Miranda, na altura presidente da Câmara, nem Manuel Seabra, líder da concelhia, se poderiam candidatar às eleições autárquicas de 2005 pelo partido. António Parada, que era o coordenador da secção do PS Matosinhos e também perseguia Sousa Franco com o intuito de o afastar de Narciso Miranda e aproximá-lo de Manuel Seabra, deveria ter sido expulso do partido, segundo o relatório. Não foi.

Para representar o PS nas autárquicas de 2005 foi escolhido Guilherme Pinto, que era vereador de Narciso Miranda. Venceu. Em 2009, e já envolto em polémicas e suspeitas na justiça, Narciso Miranda candidatou-se à revelia do PS, o que lhe valeu a expulsão do partido. O eleito voltou a ser o socialista Guilherme Pinto.

Em 2013, e num decisão que causou estranheza, o PS decidiu não dar continuidade a Guilherme Pinto e apresentar o mesmo António Parada, à época líder da concelhia local e presidente da junta de freguesia de Matosinhos. “Não ganhei porque tinha comigo um partido fraturado. É por isso que a Luísa Salgueiro vai perder”, comenta agora Parada. Ao saber da decisão, Guilherme Pinto bateu com a porta do partido e apresentou-se como independente. Venceu. Governou Matosinhos até ao final de 2016, quando decidiu renunciar ao mandato. Morreria poucos dias depois. Manuel Seabra morreu quase três anos antes, em 2014, também vítima de cancro.

Ao leme da autarquia tem estado o independente Eduardo Pinheiro, que era vice-presidente de Guilherme Pinto, e que surge agora como número dois na lista de Luísa Salgueiro, ao abrigo do acordo de continuidade com o movimento negociado com Guilherme Pinto. Num concelho onde tem sido difícil os vice-presidentes aceitarem continuar na posição de número dois, Eduardo Pinheiro é caso raro. “O António Parada e o Narciso Miranda andaram a incentivar o Eduardo Pinheiro para ele avançar. Estamos a fazer história“, declara a candidata, que assume como objetivo “unir o partido”.

“Quer unir?”, ironiza Parada. “O presidente da concelhia não a apoia, a secção de Perafita demitiu-se em bloco e o atual presidente da câmara está ali porque o forçaram a estar. Unir o quê? Ela será a grande responsável pela derrota do PS no dia 1.” Está visto que não será tarefa fácil. Dois presidentes de junta da era Guilherme Pinto passaram para as listas de Narciso Miranda. E um coordenador do PS renunciou ao cargo e é atualmente candidato nas listas de António Parada, que recusa as acusações de flic flac para os lados da direita cristã.

António Parada esteve para ser expulso pelo PS em 2004, após a morte de Sousa Franco. Saiu pelo próprio pé em abril, para ser candidato independente. © Amin Chaar / Global Imagens

Uma dúzia de militantes da secção do PS de Perafita demitiu-se em agosto, pela “forma desrespeitosa como o processo autárquico em Matosinhos, e mais concretamente na União das freguesias de Perafita, Lavra e Santa Cruz do Bispo” foi conduzido. Apoiam Parada. “E tenho três ou quatro elementos do PSD na minha lista que se demitiram da concelhia. Tenho várias pessoas da CDU e o Bloco de Esquerda a apoiar-me. Sou mesmo um candidato da cidadania de Matosinhos”, afiança, questionando-se como é que a sua número 5 (o lugar em que Luísa Salgueiro surgia na lista de Parada às autárquicas) pode ser melhor que ele, o número 1 do partido em 2013.

“Ainda agora em março convidaram-me para um cargo público a ver se eu não era candidato”

Foi Narciso Miranda quem levou Luísa Salgueiro para o PS, em 2001. Passado pouco tempo, convidou a advogada para vereadora. “Foi um bom presidente e muito do que é Matosinhos deve-se ao trabalho dele. Mas hoje não há um único ex-vereador do Narciso que o apoie. E ele teve dezenas ao longo de 29 anos. Estamos todos aqui”, sublinha Luís Salgueiro. Agora que o PS voltou a escolher como candidato uma ex-vereadora de Narciso Miranda, o dinossauro volta a aparecer. “Ele não aceita a possibilidade de nós lhe sucedermos. Foi candidato contra o Manuel Seabra, contra o Guilherme Pinto, contra a Palmira Macedo [atual presidente da Assembleia Municipal e recandidata] e contra mim. Ele não deixa subir os discípulos dele. O Parada nunca foi discípulo dele, era do Manuel Seabra, isso não o incomoda, por isso é que não se candidatou em 2013…”, justifica a socialista.

O ex-autarca insiste que tudo o que faz é por amor a Matosinhos. E até confidencia que o convidaram “para o que se costuma chamar de tachos”, para que não se candidatasse à autarquia. “Ainda agora em março convidaram-me para um cargo público a ver se eu não era candidato.”

As indicações da distrital do PS para a estratégia autárquica de 2017 chegaram no verão anterior e eram claras: reconduzir os atuais autarcas, no Porto, apoiar Rui Moreira e, em Matosinhos, uma vez que Guilherme Pinto não se ia recandidatar, a orientação era chegar a um entendimento com o ex-socialista que garantisse o seu apoio ao candidato do partido. A federação não ratificou a escolha da concelhia — de Ernesto Páscoa — por não se estar a cumprir uma das regras: o acordo com o movimento independente de Guilherme Pinto. É assim que Luísa Salgueiro acaba escolhida pela federação, com 96% dos votos. No mesmo dia em que a candidata é apresentada oficialmente, António Parada entrega ao PS o seu cartão de militante. “Ele nunca se pronunciou na altura das decisões, nunca soubemos o que é que ele queria”, contesta Luísa Salgueiro.

António Parada confirma que não demonstrou interesse ao partido no devido tempo. À época das reuniões, estava em processo de concurso para o cargo de diretor técnico na Docapesca, para o qual foi escolhido em março deste ano. Até aí era adjunto do secretário de Estado das Pescas, um cargo de confiança política que seria posto em causa caso avançasse numa eleição contra o PS, e para o qual fora nomeado meio ano antes de a distrital socialista divulgar a estratégia para as autárquicas.

Um mês depois de ser nomeado diretor na Docapesca, em abril, assumiu-se como candidato, mas recusa que só tenha avançado depois de garantir o lugar. “Estava no meu canto, não tinha vontade nenhuma de ser candidato, mas houve um conjunto de cidadãos que me vieram lançar o desafio. Como era militante socialista e dirigente nacional, não podia tomar decisões dentro do partido, até porque tenho princípios e dignidade. Quando me decidi, desvinculei-me do partido.”

Parada diz que até tem “saudade” do partido que o acolheu, mas entendeu que “devia regressar à cidadania, para travar a loucura que se vive hoje, com uma cidade cheia de lixo, partes infantis abandonados, habitação social degradada, ação social a cair todos os dias, um desastre”. Mas não deixa de criticar a federação, presidida por Manuel Pizarro. Vaticina a derrota de Luísa Salgueiro em Matosinhos e de Manuel Pizarro no Porto. “É urgente uma renovação distrital no partido, mas isso já não é comigo, porque eu saí.” Promete não voltar. Nem ao PS, nem a nenhum outro partido. E vai mais longe na crítica à estratégia socialista na sua terra. “Luísa Salgueiro foi imposta por Pizarro, e tem de perguntar ao Pizarro qual é a relação de admiração entre os dois, que eu não vou responder.

“Pode escrever aí: para mim, ela é uma política oportunista”

Narciso parece ser o elo mais fraco da troika rival socialista. Surge em terceiro lugar nas sondagens e não é o alvo preferido dos seus dois opositores, que não poupam nas críticas um ao outro. Numa arruada de Luísa Salgueiro, um socialista ex-membro das listas de Narciso, que o acompanhou num cargo de relevância durante vários anos, duvida da idoneidade do dinossauro. “Ele não consegue evitar” desviar-se da legalidade, diz o homem ao Observador. “Lamento ter acreditado nele.”

A antiga vereadora recusa a ideia de que não tenha a experiência suficiente para comandar a autarquia. “São muitos anos de matreirice. Narciso é muito matreiro, joga com as palavras, às vezes diz que eu não tenho experiência, outras vezes diz que eu estou há muitos anos na política… Eu acho que o eleitorado é muito inteligente. Ele não acha isso, mas é.”

Na rua, as pessoas vão ter com Narciso Miranda. Algumas ainda o tratam por presidente, apesar de estar há 12 anos fora da Câmara. © Divulgação

O carinho popular de que Narciso ainda goza nas ruas não a faz temer uma derrota. Numa das arruadas, o carro panorâmico da candidata socialista parou mesmo em frente a uma placa onde se pode ler: “Conjunto habitacional de Santiago de Custóias, inaugurado pelo presidente da Câmara Narciso Miranda”, com a data de 8 de março de 2002. Nas janelas de outros bairros do município há bandeiras azuis e brancas de Narciso, taco a taco com as do PS. Em alguns bairros, como o da Fundação Salazar, que a autarquia está a reabilitar, o ex-autarca mandou colocar cartazes com uma promessa: “Vou baixar as rendas.” Luísa Salgueiro conta que a promessa foi colocada nos bairros esta semana. “Nós estamos a crescer e, como eles não crescem, tornam-se mais agressivos”. Mas reconhece: “Os bairros são, à partida, território do Narciso. Porque foi ele que construiu quase a totalidade dos fogos de habitação social e as pessoas lembram-se que foi ele que lhes entregou a chave. É normal.”

Mas as palavras mais fortes chegam de Parada. “Pode escrever aí: para mim, ela é uma política oportunista, porque esteve com o Narciso, depois com o Guilherme, depois deixou o Guilherme para integrar a minha lista de candidatura”, diz ao Observador o recém dissidente socialista. Luísa Salgueiro tem apoiado sempre os candidatos do PS. Parada não vê aí coerência. “Não tem coluna vertebral, vai vivendo em função do que lhe dá jeito na vida porque está na política há 25 anos, não trabalha fora daí.” A deputada, que argumenta com um passado na advocacia, a presidência de uma IPSS e o facto de ainda hoje ser consultora jurídica na Câmara do Porto, riposta que Parada, “que diz que não vive da política”, teve o vencimento de adjunto “até abril.”

Como tira teimas, António Parada desafia Luísa Salgueiro a dizer se, caso não seja eleita presidente da câmara, irá “fugir para Lisboa”, onde tem o mandato de deputada suspenso na Assembleia da República. “Isso depois irei decidir”, diz a socialista, que promete assumir o cargo de vereadora sem pelouro. A mesma promessa que faz Parada, caso não vença no domingo. Vereador sem pelouro, para poder regressar à sua atividade profissional.

Narciso não desenvolve muito. Seja qual for o lugar que os eleitores lhe decidirem dar, fica, promete. Até porque, se Rui Moreira utiliza o slogan “O Nosso Partido é o Porto”, Narciso diz nas ruas que o seu partido é Matosinhos. Sem partido oficial, o dinossauro político conta pagar a campanha com a subvenção do Estado — que só será calculada após as eleições, donativos, “todos pagos por cheque ou transferência bancária”, e contributos em dinheiro de todos os candidatos que estão na sua lista. O que o separa de uma subvenção maior, ou seja, de mais votos, “é a mãozinha” do PS, porque ainda há muitos eleitores que associam Narciso ao partido. Por isso, nas arruadas, a sua principal mensagem é explicar que se candidata como independente. E distribui panfletos — assim como um livro sobre si, que autografa a cada cidadão — com o símbolo com que vai aparecer no boletim.

Já Luísa Salgueiro teve de lidar com comentários menos próprios de um eurodeputado socialista. Em junho, Manuel dos Santos escreveu no Twitter que a socialista era “cigana não só pelo aspeto, mas também porque paga os favores que recebe com votos alinhados com os centralistas”.

Eurodeputado do PS chama “cigana” a deputada socialista

Luísa Salgueiro não sabe se Manuel dos Santos foi ou vai ser sancionado pelo PS. “É uma questão jurisdicional do partido, eu devo ser a última pessoa a falar porque, se reagirmos, baixamos o nível.” Atribui a frase ao facto de o eurodeputado ser “apoiante de Narciso” e lamenta o objetivo de a “humilhar e menorizar” publicamente. “Não conseguiu, primeiro porque respeito muito a etnia cigana e depois porque não deixo que consiga os seus objetivos.”

É possível reunificar a família socialista do concelho? “Eu vou reunir“, diz Luísa Salgueiro, convictamente. Mais do que prometer cuidadores informais ou benefícios fiscais aos pequenos empresários, esta poderá ser a promessa mais difícil de cumprir em todo o seu programa.